Desde que vi o primeiro trailer de Hypercharge: Unboxed, minha criança interior começou a clamar pelo jogo. Desde a infância sou bastante fã de animações e filmes como Toy Story e Small Soldiers, ambos longas que trazem brinquedos ganhando vida, sendo que este segundo aborda guerras travadas entre diferentes raças de bonecos de ação de uma forma extremamente divertida para a época.
Hypercharge é um título feito por apenas, pasmem, 5 pessoas. O jogo se aproveita desta fraqueza emocional que muitos de nós temos por este tipo de conteúdo, e lança uma flecha certeira no coração de aficionados por games de tiro em primeira pessoa e outros gêneros contidos dentro do gameplay.
Desenvolvimento: Digital Cybercherries
Distribuição: Digital Cybercherries
Jogadores: 1-4 (local) e 1-8 (online)
Gênero: Tiro, Arcade, Multiplayer, Party
Classificação indicativa: 12 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox One
Duração: Sem registros
Para 4 jogadores
Não há basicamente uma história em Hypercharge: Unboxed, o que nitidamente deixa claro o quanto o título prefere uma abordagem mais arcade. São três tipos de partida atualmente disponíveis: Cooperativo, Player vs Player e Contágio. O primeiro é o verdadeiro chamariz do jogo como um todo, funcionando numa espécie de Tower Defense, onde a proteção de sua base é o objetivo principal. Só que a diferença é que aqui sua “base” funciona através dos núcleos de energia, dividido em diferentes cores.
Dependendo da fase escolhida, podem existir de 3 a 4 núcleos nas cores amarelo, vermelho, azul e verde. Serão cerca de 6 rounds, na quantidade máxima, nos quais jogadores deverão travar batalhas contra todo tipo de brinquedos “malvados” que estão procurando invadir seus núcleos e eliminá-los. Entre uma onda de brinquedos e outra, algumas caixas com armas podem ser encontradas no cenário, funcionando como uma loja, onde você pode adquirir armamentos diferentes como escopetas, lança-chamas, lasers, entre outras.
No último round existe uma chance de surgir um inimigo mais poderoso e com uma grande quantidade de dano exigido para ser destruído, o que fica bem mais fácil com amigos dando uma força. Mesmo assim, após a morte, são cerca de 5 segundos para retornar à ação, um tempo bastante rápido e nada frustrante.
À sua disposição ficam diferentes armadilhas, fortificações e até mesmo torretas para serem posicionadas estrategicamente nos locais de construção próximo aos núcleos ou no caminho até eles. Estes itens são construídos a partir de peças, as quais são adquiridas eliminando inimigos ou encontrando pacotes de peças flutuantes no cenário que contém uma grande quantidade delas.
Antes do round começar, jogadores tem cerca de 3 minutos para fortificar seus núcleos ou simplesmente pular a contagem e partir para a ação. Este meio tempo também é bem útil para ir em busca de colecionáveis escondidos nos cantos mais absurdos do cenário, ou talvez em locais extremamente altos e complicados de se alcançar. Felizmente a queda de grandes alturas não tira a saúde de seu personagem.
Quanto mais núcleos você conseguir manter em pé até o fim da partida, maior o nível da medalha adquirida e recompensas com as quais o jogo irá te presentear. Assim também são feitas as liberações das fases seguintes, e isso serve para todas as 4 dificuldades do jogo, ou seja, é necessário jogar todos os cenários em todas as dificuldades disponíveis para terminar o game em 100%.
Existem cenários bem variados ao longo da campanha de Hypercharge: Unboxed, apesar da estrutura ser sempre parecida apresentando ambientes fechados em uma arena com pontos de onde costumam surgir os inimigos. Estão disponíveis locais como uma cozinha, sótão, garagem, jardim, quarto, fliperama e muitos outras ambientações do cotidiano e elementos que as compõe.
Desbloqueáveis e personalização
Os itens de fortificação e defesa construídos pelo jogador são peças fundamentais, principalmente no single player, para manter o equilíbrio entre base protegida e eliminação de inimigos, sem entrar num completo desespero por não conseguir dar conta de tantos brinquedos invadindo seus núcleos.
É possível fazer uso de armadilhas de cola para segurar inimigos por um breve período de tempo num mesmo lugar, levantar muros ao redor de um núcleo, que precisam ser destruídos para se chegar até ele, implementar armadilhas de fogo que consomem brinquedos através de suas chamas quando estes passam por cima, posicionar torretas com metralhadoras ou armamentos pesados que derrubam oponentes mais fortes, e por aí vai.
Além desta vasta quantidade que acabei de citar, outros itens de construção podem ser liberados conforme você avança em fases ou encontra desbloqueáveis escondidos dentro delas. Ou então simplesmente conseguindo medalhas mais difíceis dentro de cada mapa, o que possibilita a liberação também de itens cosméticos para personalizar o seu boneco(a).
Falando em personagens, são os mais variados tipos de bonecos e bonecas de ação disponíveis, indo de um ninja até um homem-inseto. Além disso, também é possível personalizar seu brasão e um apelido in-game. Mesmo que a quantidade de personagens não seja num nível absurdo, podemos encontrar diferentes skins para cabeças e corpo de cada um deles, aumentado mais ainda a personalização do seu brinquedo. E isso vale também para as armas. Se a busca por desbloqueáveis for algo que te agrada, com certeza existe conteúdo para você por aqui.
Multiplayer online e local
Sem dúvidas algo que me conquistou de cara foi o multiplayer local de tela dividida. Mesmo que seja algo que nem sempre vou usar e o modo online ser o mais conveniente nos dias de hoje, Hypercharge: Unboxed permite um jogo em tela dividida no mesmo console para até 4 pessoas. Mais incrível ainda é cada jogador poder usar seu próprio perfil do Nintendo Switch, algo extremamente raro e pouco usado em jogos do console. O que é uma pena, já que o tempo de jogo e progresso é contabilizado para cada perfil individualmente, então todos os usuários logados tem seu conteúdo sincronizado.
Porém, não para por aí, e quero ir além: é possível ir online com dois jogadores no mesmo console. Sim, outra coisa incrivelmente rara e que acontece em um número muito baixo de games – até mesmo os first party da Nintendo – como Mario Kart, onde joguei online incontáveis horas junto à minha esposa.
Agora, falando da jogabilidade em si: Hypercharge: Unboxed foi feito para ser jogado com amigos. Infelizmente o jogo não possui um sistema de chat interno, então você fica limitado aos comandos rápidos de comunicação como “siga-me”, “coloque uma armadilha aqui”, “construa um muro aqui”, entre outros pedidos bastante úteis e convenientes. Mesmo assim, a diferença entre jogar sozinho e acompanhado é absurda.
Como falei, o jogo foi pensado assim, então parece que com 4 jogadores as coisas ficam muito mais suaves. As hordas de inimigos morrem mais rapidamente, as partidas ficam balanceadas e os núcleos ficam a salvo na maioria das vezes. Isso é bom e ruim, porque parece que jogando sozinho não oferece um equilíbrio mais razoável pela quantidade de pessoas na partida.
Todos os modos existentes são passíveis de se jogar online. O jogador vs jogador é basicamente o que já existe em outros games de tiro em primeira pessoa, onde todos ficam se destruindo em todo o tempo. O contágio é basicamente um modo zumbi do Counter Strike, onde um jogador inicia infectado e precisa passar a doença até que todos estejam zumbificados, ou então o jogador termina quando todos os zumbis são eliminados.
Apesar deste último ser bem interessante e me lembrar dos velhos tempos de CS 1.6 com o zombie mod, não existe muita variação além de um tiroteio desenfreado, o que considero uma oportunidade perdida de criar mapas próprios mais escuros e fortificações personalizadas para nos protegermos dos infectados – assim como em Counter Strike. Por fim, acaba sendo algo bem básico.
A boa notícia é que, além de podermos criar partidas hospedadas no servidor dedicado do jogo, os produtores nos informaram que a comunicação também é feita no modo peer-to-peer caso você seja o host. Ou seja, se isso for realmente verdade, a comunicação das partidas online entre dois jogadores faz com que o jogo seja infinito. Basicamente, caso os servidores um dia sejam desligados – o que é claramente possível -, você vai poder continuar hospedando partidas privadas e convidar seus amigos para entrar. Valorizem jogos assim, é sério.
Dois modos extras também existem, mas são bem “qualquer coisa”. No Batalha de Tanques você controla, justamente, tanques numa visão aérea e fica se destruindo com seus amigos. Já em Arena de Spinners lançamos spinners em uma mesa de Air Hockey, uma tentativa de trazer algo similar às lutas do anime Beyblade. Bom, ambos estão estão ali mesmo pra tapar buraco e são parte da atualização gratuita que o jogo recebeu.
Bom, mas sozinho não rola tanto
Apesar de ser um jogo muito acima da média, ainda mais por causa da quantidade de pessoas envolvida no projeto, naturalmente Hypercharge: Unboxed tem alguns pontos que ficam carentes de atenção, mas que podem no futuro serem corrigidos através dos pacotes de atualização – alguns interessantes já foram anunciados, inclusive.
Sabendo que a proposta do jogo é ser um Tower Defense de tiro em primeira pessoa numa pegada mais arcade, não existe muita longevidade quanto se trata da variedade. Justamente por conta de não existir uma história ou algo especialmente bolado para o single player, é fácil perceber que Hypercharge: Unboxed cai numa repetição muito grande depois de vários rounds, mesmo com a sensação de recompensa através do seu esforço.
Sendo assim, leve em consideração antes de comprar um produto com essa proposta mais focada no multiplayer ou diversão através de um looping mais repetitivo de jogabilidade. É como se fosse um game com apenas o modo online existente, mas com a possibilidade de jogar sem a internet ou pessoas participando.
O maior defeito provavelmente é a dificuldade que parece não escalar ou fazer diferenciação independente da quantidade de jogadores que estão na partida. O que quero dizer com isso é que você passará maus bocados se não tiver com quem jogar os rounds, resultando em uma estratégia difícil de conciliar. Mesmo que a base instalada de jogadores no Switch pareça ser bastante grande – dispondo até mesmo de um servidor oficial e outros alternativos no Discord -, não é certo confiar tanto assim na dependência do companheirismo de outras pessoas para conseguir avançar no jogo em si. Aliás, também senti falta de itens como granadas. Senti muito mesmo.
O crossplay futuramente pode ser uma proposta interessante para ampliar a quantidade de pessoas no modo online. Fora isso, fico feliz demais com a inserção de bots e um modo de sobrevivência que foram anunciados para chegar em breve em todas as versões do jogo. Pra finalizar, Hypercharge: Unboxed vale sim muitíssimo a pena, e facilmente ganha como um dos melhores FPS arcade para o Nintendo Switch, oferecendo uma diversão muito grande com amigos no online ou local. Ficou em dúvida ainda? Sem problemas, você pode baixar a versão demo na Nintendo eShop e experimentar para ter uma ideia do que esperar.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Samuel Leão