1000xRESIST não é um jogo qualquer. Com foco em narrativa, o título tem uma estética surreal que resulta em uma experiência fascinante, com uma história densa e complexa. Criado por uma pequena equipe independente, o jogo é de nicho e teve, inicialmente, uma recepção modesta da comunidade, mas, graças ao poder do boca a boca, ultrapassou recentemente a marca de 100 mil cópias vendidas. É uma obra que merece muita atenção por ser totalmente única em tudo que se propõe a fazer.
Desenvolvimento: Sunset Visitor
Distribuição: Fellow Traveller
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura
Classificação: 16 anos (violência, temas sensíveis, linguagem imprópria)
Português: Não
Plataformas: PC, Switch
Duração: 20 horas (campanha)
Vivendo no futuro

Com inspiração em nomes como NieR, Signalis e Neon Genesis Evangelion, os eventos de 1000xRESIST se passam mil anos no futuro, em um mundo pós-apocalíptico com uma estética cyberpunk. A trama gira em torno de uma irmandade de clones remanescentes de uma doença alienígena que levou à extinção da sociedade humana. Watcher, a protagonista, tem o objetivo de preservar e reviver as memórias da ALLMOTHER – também conhecida como Iris, a progenitora dessa nova sociedade, já que ela foi a única imune aos aliens, a ponto de se tornar imortal.
Partindo dessa premissa, é necessário mergulhar na vida de Iris e se aprofundar no universo do game com a companhia de Secretary, uma inteligência artificial que auxilia Watcher em sua jornada. A narrativa é multifacetada e mexe com vários temas sociais, religiosos e principalmente políticos, como imigração, manifestações e autoritarismo.

A história surpreende, fascina e emociona, mas revelar mais detalhes sobre ela seria entregar spoilers e comentar sobre as reviravoltas mais inesperadas da trama, que merece ser prestigiada em sua totalidade.
Apresentação incrível

Embora nem todos os aspectos deste universo de ficção científica sejam tão interessantes, tudo na narrativa se conecta de uma maneira muito bem pensada. É um drama sustentado por seus personagens e pela forma estilosa e não linear com que tudo é apresentado aos jogadores – tanto que é fácil de esquecer que esse jogo não foi produzido com um grande orçamento, dada a qualidade do trabalho realizado pela equipe de desenvolvimento.
Os gráficos propriamente ditos não são dos melhores. As texturas são pouco detalhadas e os modelos contam com animações estáticas, mas a direção artística é forte e completamente única. A apresentação cinematográfica, centrada em cores fortes e acompanhada de diversos ângulos de câmera durante as cenas e a exploração dos cenários, funciona perfeitamente dentro da proposta do título.

1000xRESIST conta com uma trilha sonora excepcional além de ótimas interpretações, entregando todas as emoções necessárias para os diálogos. No momento, há apenas legendas em inglês, mas os desenvolvedores já anunciaram que estão preparando uma atualização que incluirá uma localização em português, o que com certeza tornará o game mais acessível para um grande público aqui no Brasil, visto que a trama pode ser bastante confusa para quem não domina o inglês.
Interagindo com o jogo

Na jogabilidade, 1000xRESIST mescla momentos cinematográficos com fases com uma exploração interativa, dedicadas a reviver e descobrir as memórias da vida de Iris. Há objetivos interativos e uma linha temporal que pode ser alterada pelo jogador, podendo explorar diferentes versões das mesmas fases – há poucas delas, mas sempre com alterações nos eventos, o que evita que a experiência se torne repetitiva ao longo das cerca de 20 horas de campanha.
Entretanto, a gameplay é excessivamente manual. É preciso passar por todos os diálogos individualmente, sem nenhuma automação – o que é uma pena, pois seria ótimo se preocupar apenas em assistir esses momentos narrativos, interagindo somente quando necessário.

Grande parte dos diálogos pedem que o jogador escolha o rumo da conversa, mas isso ocorre de uma maneira isolada. A trama não é moldada por essas escolhas e segue, durante boa parte do tempo, um roteiro fixo – o que certamente evita os típicos furos encontrados em jogos com uma narrativa mais dinâmica.
Probleminhas não tiram o brilho do game

Um ponto de 1000xRESIST que deixa a desejar é a exploração de uma das principais fases do jogo, que conta com um level design confuso e desnecessariamente complexo. Essa foi uma reclamação de boa parte da comunidade, e para resolver essa falha, os desenvolvedores atualizam o game com a inclusão de um mapa. O problema, no entanto, é que ele infelizmente não funciona corretamente ao jogar 1000xRESIST com um controle, apesar dessa ser a recomendação dos produtores.
Embora os gráficos sejam pouco detalhados em termos técnicos, o desempenho da versão de PC é relativamente pesado, justamente porque o jogo compensa a baixa fidelidade visual com muitos efeitos de iluminação, que complementam a experiência com maestria. Portanto, é normal ter diversas quedas na taxa de quadros enquanto se explora os cenários.

As telas de carregamento são meio longas, o que atrapalha o fluxo da jogatina no decorrer dessas cenas que requerem mais interatividade por parte do jogador. Há falhas no suporte ao formato de tela ultrawide, pois algumas linhas de texto ficam cortadas – mas nada disso prejudica exatamente o que é proposto pelo jogo.
Absolutamente sensacional
1000xRESIST é inesperadamente bom e entra, sem dúvidas, no rol de grandes narrativas que desafiam os limites tradicionais de um videogame, alcançando territórios raramente explorados por outros títulos. É uma experiência incrível para quem busca algo que fuja do óbvio e que se dedique a ser uma grande surpresa audiovisual.
Cópia de PC adquirida pelo autor
Revisão: Ailton Bueno