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Review Black Book (Switch) – TCC de como matar demônios

Devo admitir antes de mais nada, meu puro ódio por games de carta. Não os convencionais, eu gosto de 21 e Pôker, mas sou patético em Legends of Runeterra, Hearthstone e derivados – acredite, já tentei todos. Ao conhecer Black Book, logo fechei a cara, contudo, por sorte, a curiosidade não me matou, apenas me presenteou. A mistura de batalhas por turno com jogo de cartas e RPG é demasiadamente interessante, ainda mais com uma narrativa que requer um estudo para se sair bem no mundo, porém, tudo isso pode acabar saindo pela culatra.

Desenvolvimento: Morteshka

Distribuição: HypeTrain Digital

Jogadores: 1 (local) 

Gênero: Aventura, RPG, Puzzle, Estratégia

Classificação: 10 anos

Português: Não

Plataformas: PC, PS4, Xbox One, Switch

Duração: Sem registros

Tudo pelo amor 

Vasilisa se tornando uma bruxa no início de Black Book.

Vasilisa, uma jovem amorosa, tinha o destino de se tornar uma grande bruxa e lutar contra o mal residente em sua terra. Contudo, recusou tal vontade da vida e, como toda jovem normal, se apaixonou e casou-se bem cedo. Porém, o destino é ardiloso e, de certa forma, sempre acerta. O marido de Vasilisa morre misteriosamente, portanto, por amar muito ele, decide se tornar uma bruxa e trazê-lo de volta à vida.

Então, Vasilisa utiliza do Livro Negro, um artefato antigo e mágico que, caso alguém descubra todos os seus 7 selos, realizará qualquer desejo que seu portador quiser. Assim, ela se aventura pelo mundo para ficar mais forte e conseguir descobrir onde todos os selos estão. Nesse meio tempo, Vasilisa poderá ajudar outras pessoas ou simplesmente amaldiçoá-las.

A história de Black Book se baseia muito na mitologia eslava. Os contos, músicas e ensinamentos que encontramos no desenrolar da narrativa são inteiramente importantes para a construção da história, e são muito interessantes, diga-se de passagem, mas tudo tem seu porém. 

Seu contato com o mestre quando ganha seus poderes.

A quantidade de textos é enorme, e são muito importantes para a imersão total no game, sendo assim, é necessário atenção ao lê-los. Mas, todos estão em um inglês bem complicado, fazendo com que eu utilizasse mais o dicionário jogando ele do que lendo Machado de Assis. Ao levar isso em consideração, tenha em mente a importância que uma legenda em português faria aqui.

Decisões pré-aventura

A cabana de Vasilisa, onde as missões são definidas.

Antes de cair na estrada e acabar com o mal encarnado em Black Book, ficamos na cabana de Vasilisa que serve de hub. Nela, devemos escutar os clientes, mas também podemos comprar novas cartas para o deck, jogar baralho e dar missões para os demônios familiares. Os clientes nem sempre estarão ali para pedir algo, às vezes, eles visitam apenas para desejar sorte e pagar por alguma ajuda prestada durante a aventura.

Os demônios familiares são criaturas que servem a bruxa e, caso não seja dada uma missão a eles antes de viajar, eles dificultam a vida de seu proprietário. Nessas missões, os demônios vão perturbar a vida de outros humanos, como roubar leite de vacas, dificultar o trabalho, desenterrar corpos mortos e etc. Essas tarefas são recompensadas com dinheiro e itens especiais. Caso o portador decida não dar nenhuma missão a eles, as consequências podem ser as mais variadas. Por exemplo, perda de vida em batalha, limite de cartas que podem ser utilizadas, diminuir a quantidade ouro que será recebido por tarefa, entre outras.

Escutar os clientes e entregar missões para demônios familiares é muito importante. Visto que Vasilisa é uma bruxa que ainda está aprendendo sobre as forças do mal, ambas as duas funções podem dar ensinamentos que se dividem em histórias da região e enciclopédia. Ler e compreender esses ensinamentos traz conhecimentos que podem ser utilizados na aventura e, consequentemente, dar mais experiência.

Se aventurando por uma terra maligna

Durante o caminho fazemos paradas e presenciamos ocorrências.

Após lidar com toda a clientela, um mapa é exposto mostrando todo o caminho que deverá ser percorrido. Alguns pontos são opcionais, mas outros precisam ser visitados para conseguir chegar até o local da missão. Nesses pontos marcados sempre ocorre algo distinto e muitas opções de como agir aparecem na tela. Por exemplo, um demônio está embaixo de uma árvore e oferece chá para Vasilisa, há três opções: atacar ele, ignorar e ir embora ou aceitar a xícara de chá. Lutar seria tranquilo e possibilitaria ganhar cartas novas ao final, porém, escolhi aceitar o chá acreditando que iria receber algo novo ou algum conhecimento. No final das contas, não era chá e sim sangue, o demônio desapareceu e eu perdi muita vida por isso.

A maioria dos encontros no caminho percorrido é assim, sempre algo distinto, mas que pode sempre surpreender. Nesse caso, dei muito azar, mas existem outros em que cartas raras podem ser conquistadas ou muito dinheiro. Humanos também podem pedir ajuda para lidar com algum vizinho chato ou ladrão, mas aqui, eles pedem para que amaldiçoamos tais pessoas, sendo de nossa escolha fazer isso ou lançar uma praga em quem pediu. Escolher qualquer um dos dois dá no mesmo, pois ambos irão ser recompensados com experiência e pecados.

Sempre nessas ocorrências teremos múltiplas escolhas do que fazer.

Falando um pouco melhor sobre os pecados, eles são o símbolo do quanto de coisas ruins fizemos no decorrer de Black Book. Escolher amaldiçoar alguém ou recusar ajuda dá mais pecados, assim como dar missões para os demônios familiares. A quantidade de pecados recebidos tem influência no final do jogo e no decorrer da história. E, sinceramente, me arrependi de ter cometido tantos pecados.

Por sermos uma bruxa que ajuda essas terras perdidas, nosso conhecimento é muito requisitado. Durante o caminho até a missão, existem encontros em que outros seres mágicos podem ser encontrados, como fadas, espíritos perdidos, animais ou humanos especiais. Alguns deles podem questionar Vasilisa sobre mitos ou pedir seu conhecimento emprestado para uma tarefa, e é nesses momentos que a necessidade de ler se torna muito importante. Caso não saiba responder ou erre a resposta, uma grande quantidade de experiência poderá ser perdida, uma carta específica, um item ou, até, uma nova missão. Novamente, o problema aqui é o inglês difícil e o game cobrar por essa atenção dada a essas informações.

Derrotando demônios com cartas

Um inimigo que dá 59 de dano, e só temos 34 de vida.

Em Black Book, demônios são os únicos vilões e eles são encontrados durante as missões. Nesses momentos, cada feitiços que Vasilisa conhece é uma carta, e elas podem ser conquistadas sempre ao final de uma luta ou comprar na cabana. Independente do que aconteça, a bruxa é sempre a primeira a atacar e ela pode lançar 3 feitiços por turno, mas a quantidade pode ser ampliada na árvore de habilidades ou com cartas específicas. 

Existem duas cores de feitiços: pretos e brancos. Os pretos são feitiços de ataque e os brancos são de cura ou escudo, simbolizados com uma poção vermelha e azul respectivamente. Embora a quantidade de cartas no deck seja ilimitada, é necessário ser muito precavido nas batalhas, pois sempre estamos em menor número. Muitos demônios podem dar hit kill em Vasilisa, portanto, utilizar bem os dois tipos de feitiço é recomendado. 

As magias que serão efetuadas aparecem na parte superior.

Conforme os selos do livro negro são liberados, novos decks são desbloqueados, sendo possível criar conjuntos de cartas ainda mais poderosos. No fim das contas, como em qualquer jogo de cartas, o desafio em Black Book depende de como as cartas utilizadas são manejadas, pois pensar apenas no ataque é um estorvo e não te levará a lugar nenhum.

Estudar nunca foi tão difícil

A ideia de Black Book é ótima e divertida, e tenta fazer com que você se sinta um conhecedor daquele mundo sombrio e ajude as pessoas com esse conhecimento, me lembrando um pouco do que ocorria em The Witcher 3 com algumas missões secundárias.

O maior problema disso é a falta de uma legenda, pois caso não tenha conhecimento da língua e arrisque algumas respostas no decorrer da aventura, dificilmente irá acertar e, com isso, muito da experiência e imersão será perdida. No entanto, todo complemento das batalhas e as diferentes situações que podem ser presenciadas na estrada torna tudo muito divertido e sempre surpreendente.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Black Book

7.5

Nota final

7.5/10

Prós

  • Narrativa imersiva
  • Missões surpreendentes
  • Combate simples e divertido
  • Escolhas possuem muito peso no final

Contras

  • Textos em inglês arcaico
  • Falta de legendas em português