Como a primeira parte do grande projeto The Realm Beyond, Descend Beyond chegou às plataformas digitais no dia 9 de setembro. Trazendo um novo assassino, um novo sobrevivente e diversas outras novidades, o DLC revela o enorme potencial que Dead by Daylight possui para a próxima geração de consoles.
Cada vez mais próximo de seu quinto aniversário em 2021, o jogo de terror multijogador da Behaviour Interactive reformula seus gráficos numa aposta para atrair ainda mais jogadores. Entretanto, como veremos, quanto mais altas as apostas, maiores são os riscos.
Desenvolvedora: Behaviour Interactive
Distribuição: Behaviour Interactive
Jogadores: 1-4 (online)
Gênero: Ação
Classificação Indicativa: 18 anos
Português: Interface e Legendas
Plataformas: PC, PS4, Xbox One e Switch
Duração: Sem registros
Rápido como um… alquimista?
Nesse décimo sétimo capítulo, tivemos a adição d’O Flagelo, um assassino rápido e letal cujos poderes são apenas resultados de seus próprios experimentos. Anteriormente conhecido como Talbot Grimes, o até então químico escocês realizava experimentos com uma droga capaz de aumentar a produtividade no trabalho enquanto reduzia suas necessidades de descanso. Agora, sob o domínio da Entidade, ele foi atraído para seu Reino com o objetivo de sempre: matar todos os sobreviventes.
Histórias à parte, o Flagelo, assim como todo novo assassino, possui um poder único: a Corrupção Podre. Basicamente, ele consome fichas (os famosos Stacks) para avançar em grande velocidade numa direção. Ao colidir com estruturas, novas fichas podem ser gastas para realizar um novo avanço. Do contrário, o assassino sofrerá de um breve estado de fadiga e começará a recuperar suas fichas.
Após uma colisão, o Flagelo também é capaz de utilizar a Arremetida Letal, que é quase a mesma coisa do avanço normal, porém com a possibilidade de desferir um ataque básico ao final do percurso. Apesar de parecer fácil, essa mecânica pode ser bastante complicada, especialmente se você não tiver experiência com ele – bastam poucos centímetros para errar o cálculo da distância percorrida e seu poder entrar em tempo de recarga, dando uma vantagem enorme para os sobreviventes fugirem.
The Blight, como é conhecido no inglês, também possui três novas vantagens (ou perks, caso prefira): “Garra do Dragão”, que revela a aura do sobrevivente que interagir com um gerador chutado pelo assassino, o deixando exposto; “Feitiço: Graça do Sangue”, que bloqueia barricadas próximas ao atingir um sobrevivente com um ataque básico; e “Feitiço: Imortal”, que mantém um totem enfeitiçado até todos os totens espalhados no mapa serem destruídos.
De modo geral, o Flagelo foi uma boa adição ao jogo, principalmente por causa de suas perks. Por exemplo, ao juntar o “Feitiço: Imortal” com o “Feitiço: Arruinar” d’A Bruxa, os sobreviventes são obrigados a parar o conserto dos geradores e irem procurar os totens enfeitiçados, caso queiram ter alguma chance de vitória. Conforme dito anteriormente, seu ponto fraco é sua dificuldade, porém não é nada que algumas horinhas de treino não resolvam.
Bônus: assim como o Pesadelo no Reino dos Sonhos, o Vulto ao Stackar sua Maldade Encarnada e o Carrasco ao iniciar uma perseguição (também conhecida por Chase), o Flagelo possui uma música tema própria, ao invés da padrão do jogo. É bom ver que a empresa se preocupou com isso, pois impacta de maneira positiva diretamente na imersão e, consequentemente, na jogabilidade.
O arquiteto excêntrico
Como ocorre em todo capítulo, todo novo assassino é adicionado junto de um novo sobrevivente. Analítico e criativo, é aqui que surge o extravagante Felix Richter, um prodígio da arquitetura que aos 23 anos já havia ganhado a Medalha da Arquitetura Suíça e o Prêmio Nacional de Design Alemão. Com um ambicioso projeto em mente, Felix viaja à uma ilha onde seu pai e diversos outros membros de uma sociedade secreta desapareceram misteriosamente.
Sendo seu objetivo restaurar todos os edifícios e monumentos vitorianos da ilha, agora em ruínas, para provar-se como o melhor arquiteto de todos. Nem é preciso mencionar que ele também acaba por desaparecer, sendo levado para o Reino da Entidade.
Este novo sobrevivente possui três novas vantagens: “Visionário”, que revela a aura de geradores próximos; ”Medidas Desesperadas”, que aumenta ligeiramente a velocidade de determinadas ações para cada sobrevivente ferido, enganchado ou morrendo; e ”Construído para Durar”, que recupera algumas cargas de um item esgotado, uma vez por partida.
As palavras-chave que melhor podem descrever o sentimento acerca desse sobrevivente são desequilíbrio e decepção. Com exceção de “Construído para Durar”, as outras vantagens do Felix não adicionam absolutamente nada de novo para o conjunto de perks já disponíveis no jogo. Não é possível que em contraponto a um assassino tão forte, a Behaviour não tenha pensado em nada melhor do que ver aura de gerador e poder se curar 10% mais rápido. Infelizmente, nesse quesito, a empresa ficou devendo.
Sinto falta de alguma coisa…
Outra adição comum no lançamento de novos capítulos são mapas. No décimo quarto capítulo, na atualização d’O Oni e da Yui Kimura, tivemos o Santuário da Ira; no décimo quinto, recebemos o Túmulo de Glenvale, com o Mercenário e a Zarina Kassir; no décimo sexto, fomos apresentados ao Carrasco e à Cheryl Mason, juntamente do mapa Escola Primária de Midwich.
Sendo Descend Beyond o décimo sétimo capítulo, qual mapa tivemos com a atualização? A resposta é: nenhum. Assim como foi dito no início desta review, os desenvolvedores estão focados em melhorar a atual condição dos mapas já existentes, atualizando seus gráficos e melhorando a iluminação e realçando detalhes do ambiente. Ou seja, um novo território para o Reino da Entidade acabou ficando em segundo plano.
A parte boa é que, de fato, a Behaviour cumpriu com o que prometeu. Neste primeiro momento, os territórios atualizados foram Springwood e a Propriedade dos Yamaoka. Neles, as melhorias incluem toda a iluminação do ambiente, modelos retrabalhados das Cabanas do Assassino (ou Killer Shacks, do original) e dos prédios principais, além de novos lugares para looping – estratégia utilizada pelos sobreviventes para fazer o assassino “perder tempo” nas perseguições. Todas as mudanças ficaram realmente muito bonitas e deram um novo ar ao jogo.
Entretanto, nem tudo são flores. Os mapas retrabalhados possuem diversos bugs, dentre os quais se destacam um erro no motion blur, que torna o território extremamente escuro, dificultando a visão tanto dos sobreviventes quanto do assassino; totens que aparecem (ou spawnam) em lugares inacessíveis e ganchos que, momentaneamente, se tornam inutilizáveis. Erros assim são comuns de grandes atualizações, como é o caso de Descend Beyond, porém não deixam de ser pontos fracos do jogo.
Novo cardápio da Entidade e atualizações gerais
Oferendas são objetos que você oferece à Entidade antes do início da partida. Elas impactam no jogo de maneiras diferentes, a depender de cada tipo. Por exemplo, o Carvalho Pútrido, uma oferenda de assassino, pode ser usado para diminuir a distância entre ganchos de sacrifício no mundo. Já o Carvalho Petrificado, uma oferenda de sobrevivente, é utilizado para diminuir a quantidade dos ganchos.
Novas oferendas foram incluídas neste capítulo, o que possibilitou a criação de estratégias que até então dependiam unicamente da sorte. O Projeto Anotado, por exemplo, aumenta a chance da escotilha surgir dentro da Cabana no Assassino, caso o mapa conte com uma. Você saber o local exato do surgimento da escotilha pode se converter numa vantagem enorme em situações que você dependa dela para escapar.
Além dos citados, os novos itens incluem: a Sentinela Sacrificial, que rejeita outras oferendas que alterem a chance de ser enviado à um mapa em específico; o Projeto Arrancado, que aumenta a chance do porão surgir debaixo do prédio principal; o Projeto de Vigo, que aumenta a chance da escotilha surgir debaixo do prédio principal; e o Projeto Ensanguentado, que aumenta a chance do porão surgir debaixo da Cabana do Assassino.
Sobre as atualizações gerais, podemos apontar melhorias visuais em barricadas, armários, baús e geradores – nestes dois últimos, incluindo mudanças no modelo, animação e VFX, assim como na maneira que os jogadores interagem com eles dentro das partidas. Aqui, é válido salientar que tais atualizações foram feitas em todos os mapas.
Enfim, novas oferendas significam novas estratégias. E estratégias essas que ficam infinitamente mais divertidas e imersivas com os aprimoramentos visuais. Novamente, ponto para a Behaviour por investir em mais desafios e incrementar, de maneira positiva, a jogabilidade.
Frustração, mas esperança
Dead by Daylight possui um potencial de crescimento enorme. Desde seu lançamento, o jogo mantém 82% de suas mais de duzentas mil análises positivas – somente na Steam. Com o crossplay lançado recentemente, o tempo de fila para partidas diminuiu consideravelmente. Porém, os jogadores – novos e antigos – merecem mais do que a Descend Beyond entregou.
Quanto à parte visual, nenhum defeito. As atualizações gráficas são necessárias para satisfazer o público cada vez mais exigente deste quesito, sem mencionar seu impacto na imersão e no que nos faz não levantar da cadeira e simplesmente ir jogar outra coisa. As melhorias na ambientação e no som também são bastante perceptíveis e, sobretudo, bem-vindas.
Contudo, um visual refeito e um bom assassino não conseguem encobrir a decepção que foi o Felix Richter, muito menos as incontáveis raivas que passamos ao ficarmos presos numa pedra qualquer por causa de um bug tosco. Para os próximos capítulos e as novas partes do The Realm Beyond, esperamos um pouco mais de comprometimento dos desenvolvedores responsáveis pelo desempenho do jogo.
Esta review foi feita com uma cópia de PC adquirida pelo autor
Revisão: Jason Ming