Root Board Game Capa

Review Root Board Game (Android) – Um divertidíssimo jogo de tabuleiro digital

Root Board Game é a versão digital de um jogo de tabuleiro que nunca tive acesso, devido ao fato de ser necessário adquirir através de importação originado nos Estados Unidos. Apesar de existir sua versão para simuladores como Table Top Simulator, achei que seria muito mais interessante experimentar a versão digital, que não tenta emular o tabuleiro, mas sim adaptar o produto físico ao mundo dos video games. Root é um jogo que envolve diferentes classes animalescas cujo objetivo é conquistar territórios (ou Clareiras, como dito in-game), utilizando-se de cartas, expansão do seu exército e aumento da quantidade de construções para auxiliar o jogador em sua estratégia.

Desenvolvimento: Dire Wolf Digital
Distribuição: Dire Wolf Digital
Jogadores: 1-4 (local e online)
Gênero: Tabuleiro
Classificação: Livre
Português: Não
Plataformas: PC, iOS, Android
Duração: Sem registros

Domine as clareiras e expanda seu exército

Cada facção possui seu próprio tutorial
Cada facção possui seu próprio tutorial

Root possui uma belíssima característica visual e isso é possível de se notar logo ao abrir o menu principal. A interface de usuário da versão digital procura trazer aspectos das cartas físicas, com desenhos completamente estilizados e criados por Kyle Ferrin, um ilustrador conhecido pelo seu trabalho em Root e em uma série de jogos de tabuleiro chamada Vast.

Em Root, é possível iniciar logo por uma partida single player contra a inteligência artificial ou, que certamente recomendo, passar pelos tutoriais de cada clã disponível. Na versão base de Root existem quatro tipos de facções disponíveis: The Marquise de Cats, The Eyrie Dynasty, The Woodland Alliance, e os The Vagabond.

Independentemente da facção escolhida, o objetivo será sempre alcançar os 30 pontos de vitória. Eles são adquiridos através de ações diversas durante a partida, como criar construções, conquistar territórios e etc. Apesar da mesma regra predominar para todas as raças existentes, o que brilha mesmo é a jogabilidade diferenciada de cada uma. Cada facção possui uma forma de jogar completamente única, e garanto que você vai querer atravessar o tutorial para entender plenamente como cada uma funciona. Porém, fica a dica: para dominar Root, não basta apenas masterizar uma facção qualquer, mas é necessário conhecer a jogabilidade de seus oponentes para tirar vantagem disso.

Lute com adversários

Todos os grupos de personagens atravessam turnos parecidos, como o de crafting de cartas que serve para adicionar Pontos de Vitória à sua facção, o turno de movimentação e ataque com o rolar de dados (ou de recrutamento e organização, no caso de algumas facções), para, no final, adicionar uma cartas à sua mão. Estas cartas podem ser utilizadas tanto para receber os já mencionados Pontos de Vitória, como também servem para criar emboscadas e criar efeitos diversos dentro dos momentos de batalha.

É possível dar zoom in e zoom out no mapa do jogo para visualizar os modelos 3D dos personagens ou simplesmente ter uma visão geral com o surgimento de todos os ícones de tropas, construções, Clareiras, etc. Preferi a segunda abordagem por dar uma sensação de controle maior, sem exigir tanta movimentação com o dedo pelo mapa. Fora que, ativar a opção Quick Game, faz que as animações de batalhas sejam puladas, mostrando apenas os dados rolados e os resultados, tornando tudo bem mais ágil.

The Marquise de Cats

The Marquise de Cat

A primeira facção apresentada em Root Board Game. A raça dos gatos possui um foco muito grande na construção de Workshops, Recruiters e Sawmill. O primeiro item serve para crafting de cartas, enquanto os Recruiters podem ser utilizados para recrutar novos soldados na Clareira onde estiver construído, aumentando o número de gatos existentes para defender o respectivo local. Já a Sawmill é a serralheria que produz madeira a cada novo turno, que é justamente o item que permite que você crie novas construções. Além disso tudo, a facção The Marquise de Cats tem uma habilidade única que consegue reviver soldados abatidos em batalha sacrificando cartas específicas, enviando-os de volta ao Keep (a base).

Jogando com esta facção, a melhor forma de vencer é tomando conta da maior quantidade de Clareiras possível com seu exército felino. Os inimigos certamente se sentirão intimidados com uma grande tropa posicionada em locais estratégicos do mapa. The Marquise de Cats também é uma excelente escolha caso você tenha uma carta que conceda vitória por controlar posições determinadas no mapa, que são as cartas de Dominance, que normalmente pedem o controle de dois pontos que estão extremamente opostos ou uma quantidade específica de Clareiras.

The Eyrie Dynasty

The Eyrie Dynasties

Esta é a facção das aves, que consiste em criar Roosts (poleiros) em Clareiras para recrutar novos guerreiros. Nela, também existem 4 opções de escolhas de líder, cada um com suas características e vantagens próprias – como desferir um ataque extra em batalhas -, mas que são dispensados e substituídos caso entrem em uma fase chamada Turmoil. Este Turmoil simboliza uma espécie de “incerteza” em que sua facção se vê impedida de tomar qualquer ação, já que a distribuição de cartas na fase de organização foi falha.

The Eyrie Dynasty exige o “sacrifício” de cartas para cada uma das quatro ações que podem tomar por turno: recrutamento, movimentação, ataque e construção. O recrutamento funciona de forma bem parecida com a facção dos gatos, sendo possível adicionar novos soldados na Clareira em que há um Roost construído. A movimentação é algo básico e permite movimentar seus pássaros entre uma Clareira e outra. O ataque funciona da mesma forma que a facção anterior, enquanto a construção exige mais estratégia: é necessário sacrificar uma carta de acordo com o desenho da facção contida nela para, assim, ser possível criar um Roost na Clareira com esse mesmo desenho. Por isso, na fase de organização, é necessário olhar o mapa para ter certeza de seu próximo passo.

A facção das aves recebe Victory Points que se multiplicam por cada Roost construído. Apesar de ser um pouco burocrática, a The Eyrie Dynasty tem um poder imenso e se espalha facilmente pelo mapa caso você não tome cuidado. Mesmo assim, sua maior desvantagem é o Turmoil, que pune o jogador que não calcula muito bem suas ações, com a exigência da troca do líder e a diminuição de Victory Points.

The Woodland Alliance

The Woodland Alliance

É a facção dos animais da floresta, cujos interesses têm a ver com fazer revolução e trazer pessoas para sua causa, ganhando o carisma das facções existentes no jogo a cada turno através de tokens de simpatia posicionados – apenas um por Clareira. Quantos mais destes itens existirem no mapa, mais Victory Points o jogador recebe por isso.

Quando um destes tokens é removido por algum adversário, o responsável por essa remoção é forçado a ceder uma carta com o mesmo símbolo da Clareira àquele no controle da Woodland Alliance. É importante notar que os cidadãos convertidos à causa Woodland são representados por estas cartas, que possuem usos diferentes aqui, ao contrário das outras facções.

Quando a The Woodland Alliance consegue apoiadores de sua causa, é iniciada uma Revolta na floresta. Com isso, é possível estabelecer Bases em Clareiras, possibilitando treinar novos guerreiros para a facção.

Vagabond

Vagabond

Os Vagabond são uma classe de malandros em que podemos escolher algumas criaturas da floresta como o nosso personagem. Utilizando ela, controlamos apenas uma única unidade, que tem a habilidade de se esconder na floresta, criar relações de amizade com alguma facção qualquer, atacar outras para receber Pontos de Vitória por cada unidade ou base destruída, e realizar Quests.

Estes personagens precisam executar ações com itens guardados em suas mochilas, cujas utilizações são restauradas a cada nascer do Sol. Os Vagabond precisam de botas para se movimentar entre Clareiras, espadas para atacar unidades de outra facções e de Crossbows para afugentar 1 unidade do inimigo de Clareiras evitando um confronto direto entre outros. Porém, uma vez que somos derrotados em combate, dependendo do número exibido nos dados, somos obrigados a inutilizar a respectiva quantidade de itens na mochila.

Outro fator interessante é a habilidade de explorar ruínas para encontrar itens novos, além de trocar aqueles existentes com outros personagens. O Vagabond precisa encontrar um martelo para poder realizar o crafting de itens, ao contrário de outras facções. Porém, a parte mais divertida mesmo são as Quests, que são completadas em Clareiras com os ícones representados nos cartões da missão que você escolher realizar, juntamente aos itens necessários em sua bolsa para finalizá-la. O Vagabond possui várias formas de vencer o jogo e acumular Pontos de Vitória, o que expande bastante a quantidade de estratégia que podemos utilizar controlando essa facção tão interessante.

The Lizard Cult

The Lizard Cult

Como parte da expansão da expansão paga The Riverfolk Expansion, Os esquisitões do culto dos lagartos querem espalhar sua palavra por toda a floresta e conquistar mais fiéis para sua religião, além de terem uma jogabilidade um pouco confusa. Essa facção precisa conquistar territórios através da criação de Jardins de crânios posicionados em cada Clareira, que concedem pontuação por sacrifício de cartas de uma figura de acordo com a quantidade de Clareiras populadas pelos jardins no mapa. Por exemplo: considerando que temos 3 clareiras com jardins de crânios na figura do coelho, sacrificar a carta com esse símbolo concederá 3 pontos.

Também podemos pontuar fazendo crafting de cartas estando na pele dos lagartos, aumentando de forma direta os Victory Points. Cada ação realizada também custa uma carta com a figura do mesmo animal referente às Clareiras onde você quiser invocar um guerreiro ou construir um jardim. Eles também conseguem mover e atacar em um mesmo turno, além de serem capazes de converter unidades inimigas para se transformarem em mais um em seu exército de cultistas. Por fim, em turnos durante o final da tarde temos como converter membros dos inimigos em lagartos cultistas através da Santificação, mesmo em territórios em que não temos um lagarto sequer. Naturalmente, é possível pontuar também destruindo construções inimigas.

The Riverfolk Company

The Riverfolk Company

A outra facção que dá nome à expansão The Riverfolk Expansion. The Rilverfolk Company são os personagens “duas caras” que comercializam, com outros jogadores, cartas diversas, mercenários guerreiros e transporte com botes através dos rios localizados nos mapas. Esta facção é dependente de fundos (créditos/dinheiro) para realizar qualquer ação, como atacar, mover tropas, construir, etc. Por isso, é necessário regular seus preços de 1 a 4 toda noite, confiando em seus instintos de vendedor para ter adesão aos produtos no dia seguinte de seus inimigos.

O preço praticado é a quantidade de fundos que você receberá de cada facção. Detalhe é que para criar novos guerreiros, os Riverfolk precisam gastar uma unidade de seu fundo de forma definitiva, sem volta. Já as outras ações consomem fundos de maneira que o crédito volta para seu “bolso” no turno seguinte. Felizmente, os Riverfolk iniciam a partida com 3 fundos para serem utilizados como bem entender, além de 4 guerreiros para serem posicionados.

Por fim, temos os postos de trocas que podem ser construídos – e custam 2 fundos – em Clareiras onde existe uma unidade inimiga ou a nossa própria, porém, ela precisa estar vazia de construções. Estes postos de troca concedem pontuação à nossa facção. Os Riverfolk também não recebem cartas automaticamente como todas as outra facções no final do turno, mas, novamente, gastam fundos para somar cartões à mão.

O modo online e (possíveis) expansões futuras

Modo online funciona perfeitamente
O modo Online funciona perfeitamente

Root Board Game possui um modo online incrivelmente bem feito, com direito à criação de nome de usuário e adição de amigos em sua lista de amizade. Também é possível criar salas públicas e privadas, para jogar com pessoas aleatórias ou seus amigos e conhecidos. As partidas vão desde 1vs1 até quatro jogadores, não sendo possível organizar-se em grupos ou algo do gênero. É bom separar um tempo razoável para experienciar o modo online, já que partidas de 1 contra 1 costumam durar até 1 hora, enquanto que as de quatro jogadores podem extrapolar as 3 horas.

Dentro do mapa há também um chat interno, permitindo que todos os jogadores conversem entre si, sem precisar recorrer a algum app externo. Porém, não existem emojis ou frases pré-definidas e se faz necessário digitar tudo manualmente para seus adversários.

Para efeito de comparação, a versão física de Root possui uma expansão adicional, a qual ainda não chegou na versão digital. Trata-se da Underworld Expansion e, assim como a Riverfolk Expansion, ela também adiciona duas novas facções ao jogo, cada qual com suas próprias mecânicas. A primeira é a The Underground Duchy, um exército de marmotas que possuem o objetivo de conquistar a submissão dos cidadãos de Woodland; e a The Corvids Conspiracy, um facção basicamente oposta à The Eyrie Dynasties, viajantes que trafegam em pequenos grupos e posicionam armadilhas a fim de causar caos e confusão.

Um jogo de tabuleiro digital feito da maneira certa

Sem dúvidas, Root Board Game é uma grata surpresa para mim. A versão digital é extremamente bem feita, polida e possui um tutorial que explica de forma extremamente eficaz cada um dos grupos de personagens disponíveis. O brilho de Root dá-se por conta de suas várias formas de jogar, sua vasta opção de diferentes facções para controlarmos e uma interface criada especialmente para cada uma delas. Cada facção tem sua jogabilidade única, além de vantagens e desvantagens. Dominar todas elas seria uma loucura, por isso é melhor sempre conhecer o inimigo para garantir sua vitória através de uma boa estratégia.

O online funciona de forma esplêndida, contando com um chat de texto interno que é suficiente para aquilo que precisamos comunicar durante as partidas. A proposta de tornar o jogo assíncrono também é bastante interessante, permitindo sessões que podem durar até 3 dias para serem resolvidas, notificando o jogador responsável pelo próximo turno toda vez; isso é uma decisão bem “fora da caixa” para aqueles que carecem de tempo em seu dia-a-dia e, mesmo assim, querem se divertir com amigos. Desconexões também não são um problema, já que a partida continua aberta para receber de volta aquele que caiu.

Além do online, do single player contra inteligência artificial e dos tutoriais, podemos nos aventurar no modo Challenge, em que várias condições diferentes são criadas (vencer sem atacar, habilidades desabilitadas, remoção de cartas de emboscada, etc) para, justamente, desafiar o jogador e testar suas habilidades. Não tem conexão de internet no momento? Tá tranquilo! É só jogar o Play and Pass, um modo em que você experimenta Root com pessoas no mesmo local que você, passando para os jogadores em seus respectivos turnos – o que é mais divertido com um tablet em vez da tela minúscula do celular.

Porém, vale a pena confessar que a grande quantidade de facções existentes, ainda mais por causa da expansão, aumenta bastante a complexidade de Root. Se você realmente quer dominar e evitar ser dominado, será necessário conhecer todas as vantagens e desvantagens de cada facção, além de como funcionam suas regras. Isso leva um tempo bastante considerável, e provavelmente você irá esquecer sobre como alguma delas se comporta na metade do caminho. Esse fator se agrava ainda mais pela ausência do idioma português, tendo como única opção o espanhol – que não tem nada a ver com nossa língua.

Finalmente, além do jogo base, existem duas expansões: The Clockwork Expansion e The Rilverfolk Expansion. Tivemos acesso à segunda, que adiciona duas facções mencionadas aqui, a The Lizard Cult e a The Riverfolk Company. Já a primeira adiciona uma jogabilidade cooperativa, fora 4 facções malignas controladas pela inteligência artificial. Nela, jogadores podem juntar forças e combater o mal em grupo. Porém, convenhamos, o valor é um pouco salgado para terras brasileiras, custando R$ 29,99 cada expansão. Já o jogo base está saindo por R$ 49,00 na Google PlayStore, um preço um tanto quanto alto, caso queira adquirir o pacote completo que sai por mais de R$ 100. A qualidade de Root é indiscutível, porém, o preço não é muito convidativo. Vale a pena comprá-lo em preço cheio? Com certeza, já que raramente existem jogos de tabuleiro transformados em um formato digital com tanta maestria.

Obs.: como as expansões são compradas de forma interna no jogo, pessoas do grupo familiar do Google não terão acesso a elas. Isso seria possível se cada DLC fosse vendido na Google PlayStore de forma independente, por isso cada usuário precisa adquirir individualmente sua própria expansão para poder ter acesso. Depois, é uma boa ideia criar uma conta no servidor online para ter sua compra vinculada ao trocar de dispositivo. Felizmente, quem adquiriu a expansão na versão de PC pode usá-la nas versões mobile, portanto, parabéns à equipe.

Cópia de Android cedida pelos produtores

Revisão: Kiefer Kawakami

Root Board Game

9

Nota final

9.0/10

Prós

  • Muitas facções para dominar
  • Online extremamente competente
  • Opção para quem prefere partidas assíncronas
  • Botão para desfazer ação
  • Inteligência artificial bem programada

Contras

  • Complexidade relativamente alta para novatos
  • Preço um pouco salgado
  • Vários idiomas, menos português