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Revisitando Fallout Tactics: Brotherhood of Steel (PC) – Combatendo o fim do mundo

Fallout Tactics: Brotherhood of Steel surge em 2001 como um spin-off dos clássicos Fallout 1 e 2, mantendo a ambientação pós-apocalíptica enquanto mergulha o jogador em combates táticos de esquadrão. Longe da exploração livre e das escolhas narrativas profundas das edições anteriores, Tactics nos coloca na pele de recrutas da Irmandade do Aço, enfrentando missões lineares que variam de resgates a batalhas contra supermutantes e criaturas irradiadas.

Desenvolvimento: Micro Forté
Distribuição: 14 Degrees East
Jogadores: 1 (local) e 1-32 (online) 
Gênero: RPG
Classificação: 16 anos (violência, conteúdo sexual, drogas lícitas)
Português: Não
Plataformas: PC
Duração: 25 horas (campanha)/49 horas (100%)

A arte da sobrevivência

Mudando um pouco o estilo da franquia, combates em tempo real viram o foco aqui.

Fallout Tactics abandona a estrutura aberta em prol de um design completamente baseado em missões, com transições rápidas entre a base da Irmandade do Aço e o campo de batalha. Cada missão apresenta objetivos claros como escoltar, limpar áreas, defender pontos estratégicos e oferece espaço para abordagens variadas, desde infiltração cuidadosa até ataque frontal.

Entre os elementos trazidos dos RPGs originais estão o sistema S.P.E.C.I.A.L., perks e habilidades que afetam estatísticas como mira, furtividade e resistência. No entanto, as decisões de build importam menos para o desenrolar narrativo e mais para a eficácia em combate. A progressão se assemelha a um jogo de tiro tático, onde atributos elevados traduzem-se em maior chance de acerto e dano, mas sem replicar completamente a profundidade de roleplay encontrada nos antecessores.

Uma grande peculiaridade é a possibilidade de alternar entre combate em tempo real e modo baseado em turnos. O tempo real foca em microgerenciamento frenético — útil para quem prefere ação — enquanto o modo baseado em turnos recupera a sensação clássica de Fallout, permitindo planejar cada passo. Apesar da inovação, a integração entre os dois modos fica aquém do ideal, gerando desequilíbrios de dificuldade e exploração de mecânicas de ação que ofuscam a tática pura.

Beleza pós-apocalíptica

Sua base e centro de comando é seu porto seguro entre missões.

Em termos visuais, Fallout Tactics mantém a vista isométrica 2D típica da era, mas recorre a sprites mais detalhados e ambientes mais variados. Ruínas corrosas, desertos irradiados e interiores de bunkers ganham texturas e iluminação suave para realçar destroços metálicos e areia amarelada.

Comparado com Fallout 1 e 2, Tactics acrescenta sombras dinâmicas e efeitos de partículas em explosões e disparos, conferindo uma atmosfera visceral. Entretanto, a resolução fixa e animações rígidas limitam a fluidez, tornando‑se datado nas versões sem pacotes de texturas modernas. Mapas grandes são bem construídos, mas repletos de corredores estreitos e pontos de spawn previsíveis, o que dilui a sensação de “mundo vasto” presente nos RPGs originais.

Controle diretamente todo seu grupo, diferentemente de outros jogos da franquia

O áudio de Fallout Tactics é um misto de sucessos e tropeços. Efeitos sonoros de armas — desde pistolas a lançadores de foguetes — mantêm o peso metálico e o estouro característico da série. Rugidos de Deathclaws e uivos de criaturas irradiadas reforçam o perigo constante.

A trilha sonora, no entanto, é limitada. Temas originais surgem em momentos específicos, mas ouvimos loops abafados e poucas variações melódicas durante a maior parte do tempo. A ausência de trilhas icônicas de Fallout 1 e 2 com suas canções nostálgicas dos anos 50 reinterpretadas faz falta. O menu principal até insinua uma batida totalmente retrofuturista, mas o uso restrito em campanha reforça a impressão de que o som ficou em segundo plano perante o foco no combate.

Mãos ao controle

Seja o mais novo recruta da irmandade do aço e viaje em missões

O esquema de controles para mouse e teclado é robusto, mas carece de polimento. Caminhar e mirar seguem padrões de apontar e clicar, com barras de ação para pontos de movimento e reserva de ação por personagem. Atalhos para uso rápido de itens e habilidades existem, mas nem sempre intuitivos: apertar teclas específicas leva a menus secundários longos, prejudicando a agilidade em situações de cerco.

A interface de inventário exibe ícones pequenos, exigindo zoom constante para identificar consumíveis e armas. Já o gerenciamento de inventário em grupo, com até oito membros simultâneos, é eficiente no papel, mas torna-se tedioso na prática, principalmente quando há loot abundante e é necessário vender ou distribuir itens na base. 

O legado da irmandade

Fallout Tactics: Brotherhood of Steel abraça um caminho arriscado ao trocar liberdade e storytelling por um foco quase obsessivo em tática de fogo cruzado. A alternância entre turn-based e tempo real é inovadora, mas pouco equilibrada. Gráficos e sons carregam a marca Fallout, mas não alcançam o impacto emocional das trilhas originais. Controles e interface exigem paciência e dedicação, e escolhas de design como linearidade extrema e IA falha tornam algumas missões frustrantes.

Ainda assim, quem deseja ver o universo Fallout por uma lente focada em esquadrões e sobrevivência pode encontrar no jogo valiosas horas de desafio, customização e combate. Longe de ser perfeito, Fallout Tactics resiste como uma relíquia tática que questiona até hoje: o fim do mundo pede ação ágil ou planejamento milimétrico?

Cópia de PC adquirida pelo autor

Revisão: Júlio Pinheiro

Fallout Tactics: Brotherhood of Steel

6

Nota Final

6.0/10

Prós

  • Combate tático híbrido
  • Customização de esquadrões
  • Riqueza de conteúdo e replay

Contras

  • Linearidade excessiva
  • Batalhas longas e repetitivas
  • IA inconsistente