“Diante de um dragão, deve-se brandir espada e escudo. Entretanto, às vezes é preciso saber quando se ajoelhar diante dele.” The Suicide of Rachel Foster é um jogo de aventura desenvolvido pela One-O-One Games e distribuído pela Daedalic Games. Com foco narrativo e ambientado nos anos 90, o título encontra-se disponível para PC, PS4 e Xbox One.
Desenvolvimento: One-O-One Games
Distribuição: Daedalic Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura
Classificação: 16 anos
Português: Não
Plataformas: PC, PS4 e Xbox One
Duração: 3.5 horas (campanha)/4.5 horas (100%)
O amor e sua subjetividade
A narrativa começa com Nicole Wilson, a protagonista do jogo, retornando após dez anos para seu antigo lar, o Timberline Hotel, localizado no condado de Lewis e Clark, em Montana, nos EUA. Na época, a jovem e sua mãe, Claire, deixaram a propriedade após a descoberta de que seu pai, Leonard, havia engravidado uma jovem de 16 anos chamada Rachel Foster que, posteriormente, acaba cometendo suicídio.
Após a morte de Claire e Leonard, Nicole agora é dona do Hotel. Cumprindo as exigências do advogado da família, ela agora precisa verificar a estrutura deteriorada pelos anos de abandono para poder colocá-la à venda. Devido às condições climáticas no condado, a protagonista acaba ficando presa na pousada por dias, dos quais utiliza para investigar os mistérios do local e reviver memórias do passado.
Como alguns usuários discutem em fóruns pela internet, de certa forma, o roteiro talvez nos leve a pensar que os desenvolvedores tentaram normalizar uma situação de pedofilia, dado que o Leonard tem por volta de 40 anos de idade e a Rachel, que tem 16, ainda sofre com transtornos de aprendizagem. Legalmente falando, de acordo com as leis do estado da Montana, uma pessoa de 16 anos já é capaz de consentir com o ato sexual e, além disso, não existem indícios no roteiro que nos levem a pensar num possível estupro. Tudo irá depender do ponto de vista do jogador, então já fica aqui o aviso de “gatilho” para as pessoas sensíveis a este tipo de assunto.
Um dia de cada vez
A maneira como a história é contada utiliza um sistema popularmente conhecido como walking simulator (ou simulador de andar, em tradução livre), que é o mesmo sistema que encontramos em títulos do mesmo gênero como Gone Home (The Fullbright Company), Firewatch (Campo Santo) e até Life is Strange (DONTNOD Entertainment). Baseado principalmente na ação de andar e sendo inteiramente em primeira pessoa, o jogador é livre para explorar o mapa, cumprindo objetivos e coletando itens necessários para o desenvolvimento da trama.
Falando em itens, um dos principais usados pela Nicole se trata de um dos primeiros radiotelefones do mundo que ela usa para se comunicar com Irving, um jovem agente da Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA, na sigla em inglês), que a ajuda a sobreviver no local, dando dicas e contando sobre o passado do condado. Em conjunto, o jogador também tem a sua disposição o mapa do hotel, acessado através da tecla M, que além de mostrar a propriedade em detalhes, também sinaliza os objetivos da personagem através de uma to do list.
Quanto à progressão, ela se dá de maneira satisfatória e até interessante. Com a ausência de um recurso de salvamento manual você precisa avançar até o final do dia, no qual seu progresso será salvo automaticamente ao iniciar o próximo. Um ícone em formato de borboleta é exibido na tela para representar essa ação. À primeira vista, tal particularidade pode soar problemática, contudo como cada dia leva, em média, trinta minutos para ser completado, não é algo a se preocupar.
Sensações fantasmagoricamente palpáveis
A riqueza de detalhes da vasta pousada talvez seja um dos melhores pontos aqui. Os gráficos são extremamente bem trabalhados, com a ambientação característica de um hotel do oeste montanhoso dos Estados Unidos nos anos 1990. Quadros nas paredes que revelam aspectos importantes da história, fotografias coladas pelos quartos, portas que se abrem e fecham sozinhas e luzes em mau funcionamento são os responsáveis por trazer a atmosfera típica de jogos de suspense e dão o ar de mistério, que prendem a atenção e nos mantêm curiosos.
Felizmente, os recursos de áudio não ficam nem um pouco atrás dos visuais. A trilha sonora de The Suicide of Rachel Foster é inteiramente desenvolvida em áudio binaural, que garante ao jogador uma experiência verdadeiramente imersiva com a utilização de fones de ouvido. Ventos uivando através das janelas, o ranger das antigas portas de madeira e o som característico ao pisar numa superfície metálica são apenas exemplos do que os desenvolvedores nos entregam. Combinado a isso, a música de fundo impacta de maneira positiva na jogabilidade. Mesmo mudando conforme exploramos cada cômodo do lugar, ela é capaz de manter uma constante sensação de tensão, como se fôssemos presenciar um jumpscare a qualquer momento.
Tudo é luz
Pouquíssimos jogos de empresas independentes se preocupam com aspectos normalmente encontrados em títulos AAA da mesma maneira que The Suicide of Rachel Foster se preocupou. Desde zoom de alta qualidade em objetos até sons que ficam cada vez mais altos conforme nos aproximamos de sua origem, a preocupação e o cuidado da equipe de desenvolvimento são visíveis e o resultado não poderia ser melhor. O único ponto negativo possível de ser apresentado é a ausência de legendas em português, dado que muito da história pode ser perdido caso o jogador não possua um domínio mediano da língua inglesa. Se você é fã de storytelling, esse jogo é mais do que recomendado.
Esta review foi feita com uma cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
The Suicide of Rachel Foster
Prós
- Gráficos excelentes
- Trilha sonora bem trabalhada
- Ótima história
- Imersão completa
Contras
- Ausência de legendas em português
