O que pode ser considerado um jogo difícil? A resposta para essa pergunta seria com certeza subjetiva, com cada um trazendo exemplos de gêneros ou jogos específicos. Para alguns seria Dark Souls e seus derivados que não possuem uma escolha de dificuldade, outros responderiam que, pela complexidade, MOBAs são o que há de mais difícil e outros poderiam citar shooters pela necessidade de um bom reflexo. Contudo, a minha resposta para essa pergunta seria apenas jogos de plataforma iguais a Blue Fire.
Desenvolvimento: ROBI Studios
Distribuição: Graffiti Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Ação
Classificação: Livre
Português: Interface e legendas
Plataformas: PS4, PC, Xbox One e Switch
Duração: 18 horas (100%)
Castelo contaminado
Em Blue Fire, controlamos um pequeno guerreiro com lâminas gêmeas e um rosto com expressão neutra. Durante toda a jornada ele será chamado de muitos nomes, mas os principais são Guerreiro das Sombras ou do Fogo. O pequenino parece ter sido fruto de um experimento e acorda dentro de um tubo, após sair do local ele encontra um castelo corrompido. Depois de passar por uns “perrengues” e conhecer alguns NPCs, descobrimos que a principal missão – ainda existem outras principais – é a de encontrar 5 templos antigos e ajudar os deuses a expulsar o mal de Penumbra.
Muito do enredo é implícito, não deixa tudo muito claro e espera que o jogador interprete de acordo com o diálogos, textos ou objetos encontrados. Completar missões secundárias pode trazer ainda mais informações, mas não é sempre uma garantia. Mesmo curtindo muito esse estilo de narrativa mais dispersa que deixa o jogador descobrir de acordo com seus encontros, ela me pareceu extremamente clichê, é basicamente um Hollow Knight com Zelda, pelo pouco que foi citado.
Pulando e sofrendo
Blue Fire é denominado pelos desenvolvedores como um platformer hardcore – o que está totalmente confirmado -, e é no que ele mais se destaca. Na maior parte do tempo, o jogador vai estar pulando pelos locais de Penumbra, já em outros estará morrendo, principalmente no início, sendo completamente normal a falta de costume com os desafios de plataforma.
Compreender o tempo necessário em que o botão de pulo ou de dash deve ser apertado fundamenta o princípio da dificuldade. Desde o início, as plataformas exigem cuidado e análise do jogador, o que amplia continuamente conforme ferramentas e habilidades vão sendo encontradas, sempre puxando os desafios ao limite, principalmente no Vácuo.
Blue Fire conta com realidades alternativas que elevam todo o desafio de plataforma ao extremo chamado de Vácuo e eles podem ser acessados através de cubos espalhados pelo castelo. Cada um deles possui sua dificuldade que varia entre uma a cinco estrelas, sendo a última beirando o impossível. Ao completá-los, o jogador é recompensado com uma vida extra.
Um problema com a câmera que dificulta demasiadamente o jogo no geral é a sua velocidade. Admito ter passado um grande estresse, pois mesmo após ter colocado a sensibilidade no mínimo, um simples movimento no mouse fazia a câmera ir longe do ponto desejado, quase a virando por completo. Isso faz uma diferença sem igual, sendo um platformer tão difícil, ter controle e ciência de onde está pulando é importantíssimo. As coisas mudam um pouco no controle, a sensibilidade ainda é alta, mas é bem mais fácil de controlar. Esse erro no ajuste de câmera complica do início ao fim do jogo e, até se acostumar, você já perdeu uns tufos de cabelo. Outro problema bem chato relacionado à câmera é o seu posicionamento. Em muitos momentos ela entra nos objetos ou nas superfícies, dificultando os desafios que demandam de grande atenção e precisão. Em áreas muito fechadas é que o terror acontece, prender a mira em um inimigo durante o combate é enlouquecedor, sendo facilmente dito que o maior vilão de Blue Fire é sua câmera problemática – pelo menos no PC.
Ninguém vive sem emoções
Primeiro de tudo, como em muitos jogos, Blue Fire possui um protagonista mudo que no meio de muitos NPCs, o pequeno irá apenas ouvir a todos. Contudo, ele ainda mantém um nível carismático muito semelhante ao cavaleiro de Hollow Knight. Por mais que eles não se comuniquem nem por gestos, muito de seu carisma está completamente atrelado ao jogo em si.
Citar um Metroidvania primoroso como Hollow Knight não diz nada sobre a direção em que Blue Fire segue, sendo um Metroidvania bem mais linear, quase sem retrocessos. Porém, ainda existem poucos trechos do castelo que não podem ser acessados apenas com ferramentas ou habilidades novas, mas também com Emotes.
Isso mesmo, você não leu errado! O pequeno guerreiro de Blue Fire é um Emote vivo. Ele pode acenar, dançar, meditar, cortejar, enfim, são muitos. Logo de início a ideia é bem interessante, mas pareceu inútil. As coisas ficaram bem mais surpreendentes quando um item novo foi obtido utilizando do Emote certo no local certo, que é geralmente um quadrado branco no chão. Eles são vendidos unicamente por uma estátua específica, sendo necessários encontrá-las pelo castelo.
Um outro ponto característico de Blue Fire são os espíritos, que servem para dar aprimoramentos, como mais saltos, ataques novos ou ampliar o distanciamento do dash. Essas criaturinhas mágicas podem ser compradas ou encontradas em baús secretos, porém, só é possível habilitá-las em uma estátua de descanso, em que também podemos salvar o progresso e recarregar nossas essências de fogo, que servem como uma poção de vida. Por fim, existem fragmentos de sombra, geralmente “dropadas” por inimigos e que são utilizadas para ampliar a mana.
Um castelo gigante
Penumbra é um castelo que detém muita vida e que se encontra perdido em corrupção, por isso que o envolvimento de uma trilha sonora que personifique isso melhora a imersão que se tem ao viajar pelo castelo. Isso traz uma musicalidade bem melancólica nos locais mais destruídos, garante uma escolha correta e também um ponto positivo. Ainda existem locais que não foram afetados em nada e que transmitem mais tranquilidade, nesses ambientes a sonoridade é clara, e eles conseguem transmitir facilmente o que é sentido.
Já as ambientações que encontramos pelo castelo não se destacam, poucas conseguem manter um nível “bom”, enquanto outros são terríveis. A qualidade gráfica consegue segurar um pouco a barra, mas o que salva mesmo são os locais do Nada, que estão longe do normal visto no castelo e possuem suas peculiaridades.
Vale ressaltar ainda que alguns bugs e problemas técnicos foram encontrados. De início pode não parecer grande coisa, mas nas horas de aperto podem fazer uma diferença. Alguns exemplos são: personagem entrando nas paredes, itens desaparecendo, delays de renderização, crashes, atraso em responder certos comandos, etc.
Mantendo o nível
Blue Fire parecia ser um Hollow Knight 3D incrível ao colocar dinâmicas semelhantes em um ambiente mais aberto. Mas ainda com todos os problemas, ele consegue se sustentar e fazer com que jogadores que curtam um desafio de plataforma se divirtam. Já para os impacientes e os que desgostam do gênero, sugiro que passem bem longe ou esperem mais atualizações para que os erros sejam consertados.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong