Blackjack Hands, para Nintendo Switch

Review Blackjack Hands (Switch)

Blackjack Hands oferece uma curta e simples experiência inspirada no tradicional jogo de cartas Vinte-e-Um. Produzido em parceria pelos estúdios brasileiros QuByte e Minimol, o jogo reutiliza elementos de outras produções dos estúdios e apresenta um conceito interessante, mas que não é desenvolvido como mereceria.

Em Blackjack Hands, o jogador se depara com grades de espaços vazios e cartas numeradas que devem ser movimentadas e combinadas utilizando os botões direcionais. O objetivo é conseguir o valor 21 em sua carta principal ou, combinando todas as cartas do tabuleiro, igualar ou superar o valor apresentado pelo dealer. Cada um dos 50 níveis apresenta um quebra cabeça pré-estabelecido que deve ser completado para liberar o seguinte.

Desenvolvimento: Minimol games
Distribuição: QUByte Interactive
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Tabuleiro, Puzzle
Classificação: Livre
Português: Não
Plataformas: Switch e PC
Duração: 1h (campanha)

Hit me, dealer

Tabuleiro de cartas ao fundo e a tela celebrando: "It's a Black Jack!"

Os desafios envolvidos em cada fase são estratégicos e não dependem do azar envolvido em jogos de cartas tradicionais. Tratam-se de problemas lógicos que exigem soluções bem pensadas. Para aumentar o desafio, progressivamente são adicionados novos elementos aos níveis para que demandem mais estratégia e planejamento. As regras envolvidas nesses problemas não são apresentadas explicitamente e é possível perceber a estratégia dos desenvolvedores em tornar as fases em que uma nova mecânica é introduzida mais fáceis, permitindo que o jogador descubra por si mesmo o seu funcionamento.

As peças disponíveis no tabuleiro são as letras e números de um baralho tradicional, que quando se mesclam podem adquirir valores maiores que o usual. A principal carta tem a coloração azul e é ela que deve ser combinada com as demais, verdes para números positivos e vermelhas para os negativos. Positivos e negativos podem se combinar sem a necessidade da carta primária, mas as de mesma cor não conseguem se unir.

Além disso, como no Vinte-e-Um tradicional, os valores das cartas seguem uma lógica específica: as cartas de figuras (valetes, damas e reis) têm sempre o valor de 10, enquanto a carta A pode assumir o valor de 1 ou 11 de acordo com aquelas com que vai se combinar. Um parênteses: como alguém que não jogava o jogo de cartas há muitos anos, sinto que uma instrução seria importante, pois tive que pesquisar essas regras por conta própria.

À medida em que se progride, as fases se tornam mais complexas e instigantes, mas nunca chegam a se tornar difíceis demais. É possível completar o jogo em menos de uma hora, sempre acompanhado por uma única música que é boa o bastante para não se tornar enjoativa nem para tirar a atenção das cartas.

Errando a mão

Tabuleiro de cartas apresenta o início de um novo nível.

O minimalismo é a proposta e inspiração de Blackjack Hands, mas sua implementação não é a ideal. Além de uma estética e jogabilidade simples, o jogo é apenas grande o bastante para não parecer inacabado. Ao entrar no software, nos deparamos de cara com o último nível desbloqueado. Não há tela de início e o menu de pausa oferece apenas o mínimo controle do som e escolha da fase. Se no modo handheld é possível usar o toque, a utilização do joystick é confusa. Faz falta uma indicação mais clara de onde está o cursor e o que cada botão faz.

O que torna a experiência ruim, entretanto, é o balanço entre tamanho e dificuldade. Blackjack Hands é curto e fácil demais para que o jogador adquira por conta própria o modo de pensar e estratégias que são demandados. Em minha experiência pessoal, muitos níveis foram superados sem a necessidade de um entendimento do que estava acontecendo. Esse tipo de coisa sempre pode acontecer e não é um problema por si: em outros jogos, pode gerar uma surpresa agradável. Neste caso, entretanto, superar um nível por pura sorte só significava que o jogo se aproximava do fim sem que eu tivesse a oportunidade de jogá-lo e pensar a partir das regras que oferecia. A ideia de criar níveis, digamos, “didáticos” para as novas mecânicas introduzidas é ótima em teoria, mas não funciona bem. Era a derrota, quando ocorria, que me causava um espanto positivo e aumentava meu interesse em entender o que estava acontecendo e quais movimentos diferentes eu deveria realizar.

Se passar do valor 21, o jogador perde e precisa refazer o nível.

Quando enfim me vi desafiado a realmente precisar pensar antes de resolver os problemas, já estava no epílogo da experiência. Em jogos de lógica, isso gera uma sensação terrível. É como se ao final do aprendizado, ao sentir-me enfim pronto para resolver problemas, descobrisse que não poderia usar esse conhecimento para mais nada. Nem mesmo vale a pena recomeçar do primeiro nível para talvez resolver de forma melhor e mais rápida cada um dos problemas, porque não há registro da progressão. Não sei em quais níveis empatei, venci ou fiz o blackjack, para tentar melhorar meu desempenho. O problema não é o minimalismo; é a ausência de sabor.

Cartas contadas

O resultado é a impressão de um jogo apressado, não apenas pela ausência de regras explícitas e pouco cuidado no acabamento, mas porque é difícil conceber que quem inventa uma nova lógica de jogabilidade se dá por satisfeito pelo pouco conteúdo apresentado. É como se os desenvolvedores não levassem a sério ou não se divertissem com a própria criação. Havia potencial para ser um bom jogo, mas Blackjack Hands se contentou em ser um mero passatempo.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Blackjack Hands

3.5

Nota final

3.5/10

Prós

  • Música agradável

Contras

  • Curto e fácil demais
  • Regras não são claras
  • Potencial não explorado