Um jovem rapaz, magricela, bem apessoado e de cabelos ruivos chamado Shawn O’Connor é o protagonista de Hero-U: Rogue to Redemption (não é um jogo de Wii U), além de aspirante a ladrão. Sim, uma trama mais do que inusitada dá origem aos eventos desse Point ‘n’ Click bastante único, cheio de diálogos e mecânicas interessantes de batalha.
Hero-U é uma espécie de sequência espiritual da série de jogos Quest for Glory dos anos 80, que também abordam RPG e Point ‘n’ Click. O jogo foi trazido através de campanha de financiamento coletivo, e tem o objetivo de fazer uma ode aos RPGs de velha guarda. Faça sua matrícula na universidade de heróis para tornar o mundo em um lugar melhor – ou não.
Desenvolvimento: Transolar Games
Distribuição: Silesia Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG, Point ‘n’ Click
Classificação: 12 anos
Português: Não
Plataformas: PC, Switch
Duração: 26.5 horas (campanha)/75 horas (100%)
Vida bandida
Shawn é um personagem sem muitas histórias de fundo ou qualquer explicação sobre sua existência, e tudo que sabemos aqui não vai além do conhecimento sobre seu desejo em se tornar um membro da guilda de ladrões. Para isso, ele resolve invadir uma residência e roubar uma moeda especial, para utilizar como prova de seus dotes furtivos. Porém, ao final do ato, Shawn acaba sendo descoberto ao escapar pela janela do local, e uma misteriosa figura surge nas sombras para lhe oferecer uma mudança de vida em troca de sua ida à Hero University.
Após a concordância em tomar outros rumos, Shawn chega ao centro acadêmico e então precisa passar por uma espécie de seleção (similar à franquia Harry Potter) para, assim, ser enviado ao grupo mais indicado de acordo com suas habilidades.
Para sua surpresa, ele acaba não servindo para nenhuma das classes disponíveis na universidade, e termina como um Rogue (uma espécie de trapaceiro, em tradução livre), o grupo dos rejeitados que evita deixar com que outros tomem conhecimento de suas práticas reais – porque isso acarretaria um escândalo acadêmico.
Dentre as características dos Rogues está a furtividade, o lockpicking (abertura de trancas), uso da “esperteza”, entre outros atributos que fizeram com que o nome público da classe fosse Disbarred Bards (os Bardos rejeitados, ou algo similar) para não atrair tanta atenção.
Fazendo amigos, e evitando inimigos
Como um recém-chegado na Hero-U, Shawn conquista a amizade de algumas figuras, enquanto cria inimizades com outras como o administrador Terk, que fica no pé do protagonista e o ameaça com deméritos em seu currículo escolar. Aquele que atinge 100 pontos de demérito, é expulso sem precedentes da academia.
Além disso, a mecânica de relacionamentos é bem empregada, e funciona através de escolhas de tons de respostas em um sistema de diálogos que permite até mesmo com que Shawn tenha romances com personagens disponíveis para tal. A construção de uma amizade também é apresentada em um medidor, e concede itens ou pontos de atributos que são distribuídos automaticamente em seu personagem, consequentemente elevando habilidades como o lockpicking (abertura de fechaduras) e o stealth (furtividade).
Outra forma de melhorar seus atributos é visitar diariamente o salão de treinamentos, que fica localizado próximo à sala de aula. Lá, é possível treinar uma vez por dia em cada equipamento distribuído pelo cômodo, como na seção de lançamento de facas, caminhada na corda bamba, levantamento de halteres, luta com bonecos de treino, entre outros.
Batalhas por turnos e trabalhos extra curriculares
As principais atividades da academia acontecem durante a luz do dia, enquanto à noite é possível acessar as masmorras abaixo da loja de Gregor, uma espécie de rato bem-educado que gerencia a loja da universidade – que vive fazendo promoções questionáveis em seus produtos. Aqui, podemos perambular pelos cantos escuros, lutar com ratazanas para adquirir suas carcaças passíveis de venda, interagir com locais exploráveis para encontrar itens e resolver puzzles para continuar avançando. É basicamente a dungeon de Hero-U e o local mais explorável de todo o jogo.
Infelizmente, a variedade de inimigos não é tão grande, restringindo-se apenas à criaturas, se ausentando de qualquer possibilidade que seria interessante de existir aqui como duelos entre alunos para adquirir recompensas e itens. Porém, nem tudo é perdido, e o dinheiro pode ser recebido ao realizar tarefas para a cozinheira e seu co-chef, além de se inscrever na aula de curativos na enfermaria. Enfermaria essa que, aliás, funciona muito bem como uma fonte de cura para Shawn após uma embates nas masmorras subterrâneas, evitando assim gastos excessivos com poções e outros itens necessários para aliviar a dor e recuperar a saúde.
A dor de ser um port de PC
Hero-U: Rogue to Redemption não é um jogo perfeito, mas isso não é um grande problema. Por aqui, alguns poucos detalhes incomodam de forma geral, e possivelmente o maior deles será a movimentação. Como se trata de um port de PC, características de Point ‘n’ Click foram mantidas na versão para Nintendo Switch. Felizmente, jogando no modo portátil as coisas se tornam mais flexíveis por existir suporte para toques na tela, facilitando apontar para onde Shawn deve andar.
Porém, se optar por jogar na Dock (TV), terá que suportar um cursor deveras lento para indicar a movimentação do personagem, sem opções de personalização de velocidade. Infelizmente, os desenvolvedores disseram que não há planos para adicionar uma forma de controlar o protagonista tal como um The Sims de consoles, em que podemos movimentar utilizando o analógico e interagir com o objeto mais próximo visualmente do personagem.
Outro ponto é a jogabilidade em si que é um pouco lenta e repetitiva. O ciclo de gameplay em Hero-U é um pouco igual no dia-a-dia da universidade. Sua rotina será bem parecida, e irá transitar entre aulas, conversas com NPCs, treinamentos para elevar atributos e um monte de falas absurdamente grandes ou interações que não agregam tanto ao enredo. Ou então você pode experimentar um jogo de cartas presente para tentar fugir um pouco da mesmice.
Por falar em interações desnecessárias, o jogo utiliza seu bom-humor para fazer piada com praticamente tudo à sua volta. Shawn possui falas, geralmente, provocativas e engraçadinhas, e isso se estende às interações com objetos inanimados, os quais também oferecem uma grande quantidade de opções propositalmente inúteis apenas para manter o clima.
A trajetória do quase heroi
A jornada de Shawn em Hero-U: Rogue to Redemption é uma excelente pedida para amantes de RPG, ainda mais à moda antiga. O sistema de batalha é bem competente, mas a variedade de inimigos não é impressionante. O ritmo de avanço no enredo é lento e arrastado, e a sensação de necessidade de repetição no dia-a-dia dentro da academia de heróis acaba sendo inevitável.
O senso de humor também muitas vezes se mostra forçado, apesar da maioria dos diálogos serem bastante interessantes e gerar o interesse na leitura. Porém, tenha em mente que não há localização para o português, mas apenas inglês e francês. Hero-U é bem acima da média, e acabou sendo bem melhor do que eu esperava. Porém, senti falta de um pouco mais de variedade nas atividades diárias e textos mais objetivos, em vez de precisar seguir uma mesma rotina.
Cópia de Switch cedida pelos produtores