A capacidade inventiva das pessoas é um grande diferencial. No mercado de bens de consumo em geral, sempre há uma busca incessante de refinar certo material – com uma fórmula já estabelecida – e transformá-lo em algo novo. Na indústria de games isso não é diferente. Certos jogos, por exemplo, acabam definindo gêneros e criando mecânicas que se tornam regras no desenvolvimento de títulos futuros. As câmeras por cima do ombro em Resident Evil 4 que o diga.
Na verdade, o mais comum é vermos surgir produtos que se debruçam (ou se inspiram) em certos jogos. E essa síntese, quando bem utilizada, é capaz de entregar uma experiência nova – através do refino de certas ideias – e nos premiar com gratas surpresas. Desenvolvido pelo estúdio indie Heliocentric Studios e publicado pela Team17, no dia 23 de fevereiro, para Nintendo Switch e PC, Rogue Heroes: Ruins of Tasos mistura elementos de jogos consagrados – como The Legend of Zelda: A Link to the Past – para trazer algo novo e com identidade.
Desenvolvimento: Heliocentric Studio
Distribuição: Team17
Jogadores: 1-4 (local e online)
Gênero: Aventura, ação, RPG
Classificação: 10 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC e Switch
Duração: Sem registros
Protegendo Tasos
![Devemos concluir as masmorras para manter os titãs aprisionados.](https://jogandocasualmente.com.br/wp-content/uploads/2021/02/review-rogue-heroes-ruins-of-tasos-switch-01-1024x576.jpg)
A história gira em torno de um conflito centenário envolvendo quatro deusas e quatro titãs. Após anos de batalhas, as deusas se sacrificam para aprisionar os titãs e, assim, a paz é estabelecida na terra de Tasos. Porém, com o passar do tempo, a ganância de povos desbravadores destrói o equilíbrio existente e coloca em xeque a estabilidade do lugar. Se alimentando do sofrimento de Tasos, pouco a pouco os selos que mantinham os titãs aprisionados começam a perder força. Dessa forma, monstros e outros males passam a assombrar o lugar. Diante do caos iminente, os espíritos das deusas convocam um grupo de escolhidos e uma leva de heróis surge para restabelecer o equilíbrio perdido. Nossa missão é enfrentar os desafios das quatro grandes masmorras para fortalecer a magia dos selos que mantêm os titãs aprisionados e trazer novamente a paz ao mundo.
Se você ainda não conseguiu fazer essa associação pelo título do game, é bom avisar que, para todos os efeitos, Rogue Heroes é um divertido Roguelite que mescla elementos de aventura, ação e RPG. Para concluirmos nossos objetivos temos que desbravar cada canto da Terra de Tasos, enfrentar seus perigos, diversos desafios e puzzles presentes pelos cenários e, principalmente, nas masmorras (nosso principal objetivo). O mapa, inimigos e puzzles dessas dungeons são gerados proceduralmente. Isso quer dizer que toda vez que adentrarmos nesses locais iremos encontrar desafios diferentes da nossa última empreitada.
Desafio “light”
![Ao passarmos por todos os andares das masmorras, enfrentamos um boss.](https://jogandocasualmente.com.br/wp-content/uploads/2021/02/review-rogue-heroes-ruins-of-tasos-switch-02-1024x576.jpg)
Diferente de jogos Roguelike – que são extremamente punitivos – aqui temos uma versão mais “light” e menos desafiadora do subgênero. Isso quer dizer que uma morte não necessariamente fará você perder seu loot, itens ou te jogará para o início para que tenha que começar tudo outra vez do zero. Nosso personagem apenas será jogado para o vilarejo em que iniciamos a aventura, sem os itens provisórios que adquirimos na masmorra. Os cristais e moedas conquistadas – que servem para comprar itens, construir lojas e casas, ampliando nosso leque de interações sociais com os NPCs – permanecem conosco.
Apenas teremos que refazer a dungeon do início. Nada demais! Para entrar nas masmorras temos que depositar todos os cristais que estão em nossa posse (as moedas permanecem conosco). Então devemos gastar o máximo possível com melhorias e itens para o nosso personagem antes de nos aventurarmos por lá. De toda forma, uma vez que uma masmorra é completada, mesmo que nosso personagem morra mais à frente, não teremos que passar pelos desafios dela novamente.
O bom e velho pixel-art
![Os cenários em pixel-art são muito bonitos.](https://jogandocasualmente.com.br/wp-content/uploads/2021/02/review-rogue-heroes-ruins-of-tasos-switch-05-1024x576.jpg)
Uma das coisas que mais chama atenção logo de cara em Rogue Heroes é o seu visual. O jogo conta com belos, simpáticos e coloridos gráficos em pixel-art. É uma mistura do que vimos há trinta anos em A Link to the Past, com algo mais recente como no igualmente belo Stardew Valley. Particularmente, acho incrível como essa escolha de design não envelhece. E quando bem utilizada dá um charme extra ao jogo.
Rogue Heroes faz uso da câmera top-down com progressão livre pelos mais diferentes cenários. Seja em florestas, vales congelados, pântanos ou lagos, cada ambientação possui um visual único, rico em detalhes, com inimigos específicos e diferentes mecânicas que alteram levemente o level design: você pode se afogar no lago, afundar no solo irregular do pântano ou deslizar no chão dos vales congelados.
Uma pena que não presenciamos o mesmo capricho com a trilha sonora do jogo. Enquanto os dois jogos em pixel-art que citei possuem uma seleção de músicas marcantes e bem construídas – que casam perfeitamente com a proposta dos games – as composições em chiptunes (típicos das primeiras gerações de consoles), em Rogue Heroes, são repetitivas e sem originalidade. Eu, por exemplo, optei por diminuir o máximo que pude o áudio das músicas.
Avance sozinho ou acompanhado
![Jogue sozinho ou acompanhado.](https://jogandocasualmente.com.br/wp-content/uploads/2021/02/review-rogue-heroes-ruins-of-tasos-switch-06-1024x576.jpg)
Em Rogue Heores, podemos desbravar Tasos sozinho ou com mais outros três jogadores. A Heliocentric Studios acertou em diversificar a forma de experimentar o game, disponibilizando um cooperativo local e online que funciona muito bem, diga-se de passagem. As partidas online apresentam pouco lag e deixam o jogo ainda mais divertido. Outra coisa legal é que os cristais obtidos na run com os amigos é compartilhado de forma homogênea, e os itens comprados e classes desbloqueadas por determinado jogador da party ficam salvos em seu perfil. Ou seja, tudo que é adquirido nas jogatinas cooperativas ficará permanentemente com o jogador convidado e anfitrião.
No início do game devemos criar nosso personagem, mas as opções de personalização, apesar de não ser um problema, são escassas (cor do cabelo, roupas etc). A única classe disponível, neste momento, é a do herói. Conforme avançamos no jogo, outras sete classes são disponibilizadas para compra numa lojinha específica (ladrão, cavaleiro, mago, patrulheiro, bruxo, pirata e ceifeiro). Cada uma delas conta com uma arma principal e uma habilidade e status específicos. O herói, por exemplo, consegue dar uma investida com a espada; o ladrão é mais ágil, porém mais vulnerável; o patrulheiro faz uso de um arco; o bruxo é um especialista em poções e por aí vai.
Os controles são bem simples. Basicamente temos um botão de ação (A) que serve para usarmos a arma principal, interagir com os NPCs e que nos permite arremessar objetos. Temos ainda um escudo bem útil nas batalhas e que é acionado ao segurarmos o botão ZL. Com o botão B usamos a habilidade específica da classe de nosso personagem. Com os botões de ombro (L e R) alternamos nossas armas e ferramentas e com o ZR as utilizamos. No menu do jogo temos acesso a um mapa, uma lista de missões, nossos equipamentos, inventário e um bestiário que adquirimos mais à frente no jogo e que contém descrições detalhadas dos inimigos.
Customize bem seu personagem
![Troque os cristais por construções para aumentar as possibilidades de interações no vilarejo.](https://jogandocasualmente.com.br/wp-content/uploads/2021/02/review-rogue-heroes-ruins-of-tasos-switch-08-1024x576.jpg)
Ao começar nossa jornada somos jogados num vilarejo pouco povoado. Com os cristais vamos ampliando o número de moradores do local, na medida em que desbloqueamos moradias, lojas de poções, ferramentas, academia e até mesmo uma fazendinha para plantarmos certas sementes e conseguirmos itens que podemos colocar para venda. Nosso personagem conta com uma barra de vitalidade, uma de magia (que é consumida por ferramentas e feitiços) e duas barras de vigor (uma para as habilidades específicas da classe e outra para os ataques simples). E todas podem ser melhoradas nas diferentes lojas do vilarejo.
Nas dungeons podemos coletar baús, que só podem ser abertos com moedas, que garantem uma quantidade razoável de cristais. Algumas armas e itens provisórios também podem ser coletados, mas quebram quando nosso personagem morre. Porém, fiquem tranquilos que conforme avançamos temos a opção de comprar itens e armas permanentes, como arcos, bumerangues, bombas e um arpão para alcançar certas áreas do cenário antes inacessíveis (dá-lhe, Link). Esses itens – é bom frisar – irão permanecer sempre em nossa posse.
Repetir uma dungeon já completada é a forma mais rápida de se conseguir moedas e cristais para comprar itens, ferramentas e melhorias. Explorar cada canto do mapa e os diversos objetivos secundários (como ajudar uma criança doente, limpar um mausoléu, achar personagens perdidos, etc) é igualmente importante para obter algo que seja útil em nossa empreitada. O jogo conta com algumas estátuas de teletransporte que funcionam como fast travel, para facilitar na exploração. É necessário gastar com sabedoria os recursos adquiridos. Nesse sentido, perder um tempo “farmando”, customizar bem o nosso personagem e ampliar as possibilidades de classes à nossa disposição – desbloqueando-as na loja da Agulha Enferrujada – é essencial para que tenhamos sucesso na batalha para defender Tasos dos titãs.
Um Roguelite competente
Rogue Heroes: Ruin of Tasos apesar de ter muito do visual, mecânicas, recursos e até mesmo itens dos primeiros jogos de The Legend of Zelda, surpreendentemente possui carisma e identidade próprios. Por mais que as comparações sejam inevitáveis, ele aplica muito bem algumas das mecânicas do jogo de aventura da Nintendo para apresentar algo novo. É um jogo que se inspira na famosa franquia sem se apresentar como uma mera cópia, ao contrário de muitos outros que vemos por aí. A história, apesar de não ser original, transmite um senso de responsabilidade diante de certas atitudes egoístas dos seres humanos. Trata-se de um Roguelite competente, com desafio na medida e que certamente irá garantir horas de diversão, seja jogando sozinho ou acompanhado.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong