Rogue Heroes Capa

Review Rogue Heroes: Ruins of Tasos (Switch) – Um Roguelite competente

A capacidade inventiva das pessoas é um grande diferencial. No mercado de bens de consumo em geral, sempre há uma busca incessante de refinar certo material – com uma fórmula já estabelecida – e transformá-lo em algo novo. Na indústria de games isso não é diferente. Certos jogos, por exemplo, acabam definindo gêneros e criando mecânicas que se tornam regras no desenvolvimento de títulos futuros. As câmeras por cima do ombro em Resident Evil 4 que o diga. 

Na verdade, o mais comum é vermos surgir produtos que se debruçam (ou se inspiram) em certos jogos. E essa síntese, quando bem utilizada, é capaz de entregar uma experiência nova – através do refino de certas ideias – e nos premiar com gratas surpresas. Desenvolvido pelo estúdio indie Heliocentric Studios e publicado pela Team17, no dia 23 de fevereiro, para Nintendo Switch e PC, Rogue Heroes: Ruins of Tasos mistura elementos de jogos consagrados – como The Legend of Zelda: A Link to the Past – para trazer algo novo e com identidade. 

Desenvolvimento: Heliocentric Studio
Distribuição: Team17
Jogadores: 1-4 (local e online)
Gênero: Aventura, ação, RPG
Classificação: 10 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC e Switch
Duração: Sem registros

Protegendo Tasos

Devemos concluir as masmorras para manter os titãs aprisionados.

A história gira em torno de um conflito centenário envolvendo quatro deusas e quatro titãs. Após anos de batalhas, as deusas se sacrificam para aprisionar os titãs e, assim, a paz é estabelecida na terra de Tasos. Porém, com o passar do tempo, a ganância de povos desbravadores destrói o equilíbrio existente e coloca em xeque a estabilidade do lugar. Se alimentando do sofrimento de Tasos, pouco a pouco os selos que mantinham os titãs aprisionados começam a perder força. Dessa forma, monstros e outros males passam a assombrar o lugar. Diante do caos iminente, os espíritos das deusas convocam um grupo de escolhidos e uma leva de heróis surge para restabelecer o equilíbrio perdido. Nossa missão é enfrentar os desafios das quatro grandes masmorras para fortalecer a magia dos selos que mantêm os titãs aprisionados e trazer novamente a paz ao mundo. 

Se você ainda não conseguiu fazer essa associação pelo título do game, é bom avisar que, para todos os efeitos, Rogue Heroes é um divertido Roguelite que mescla elementos de aventura, ação e RPG. Para concluirmos nossos objetivos temos que desbravar cada canto da Terra de Tasos, enfrentar seus perigos, diversos desafios e puzzles presentes pelos cenários e, principalmente, nas masmorras (nosso principal objetivo). O mapa, inimigos e puzzles dessas dungeons são gerados proceduralmente. Isso quer dizer que toda vez que adentrarmos nesses locais iremos encontrar desafios diferentes da nossa última empreitada. 

Desafio “light”

Ao passarmos por todos os andares das masmorras, enfrentamos um boss.

Diferente de jogos Roguelike – que são extremamente punitivos – aqui temos uma versão mais “light” e menos desafiadora do subgênero. Isso quer dizer que uma morte não necessariamente fará você perder seu loot, itens ou te jogará para o início para que tenha que começar tudo outra vez do zero. Nosso personagem apenas será jogado para o vilarejo em que iniciamos a aventura, sem os itens provisórios que adquirimos na masmorra. Os cristais e moedas conquistadas – que servem para comprar itens, construir lojas e casas, ampliando nosso leque de interações sociais com os NPCs – permanecem conosco. 

Apenas teremos que refazer a dungeon do início. Nada demais! Para entrar nas masmorras temos que depositar todos os cristais que estão em nossa posse (as moedas permanecem conosco). Então devemos gastar o máximo possível com melhorias e itens para o nosso personagem antes de nos aventurarmos por lá. De toda forma, uma vez que uma masmorra é completada, mesmo que nosso personagem morra mais à frente, não teremos que passar pelos desafios dela novamente.

O bom e velho pixel-art

Os cenários em pixel-art são muito bonitos.

Uma das coisas que mais chama atenção logo de cara em Rogue Heroes é o seu visual. O jogo conta com belos, simpáticos e coloridos gráficos em pixel-art. É uma mistura do que vimos há trinta anos em A Link to the Past, com algo mais recente como no igualmente belo Stardew Valley. Particularmente, acho incrível como essa escolha de design não envelhece. E quando bem utilizada dá um charme extra ao jogo.

Rogue Heroes faz uso da câmera top-down com progressão livre pelos mais diferentes cenários. Seja em florestas, vales congelados, pântanos ou lagos, cada ambientação possui um visual único, rico em detalhes, com inimigos específicos e diferentes mecânicas que alteram levemente o level design: você pode se afogar no lago, afundar no solo irregular do pântano ou deslizar no chão dos vales congelados. 

Uma pena que não presenciamos o mesmo capricho com a trilha sonora do jogo. Enquanto os dois jogos em pixel-art que citei possuem uma seleção de músicas marcantes e bem construídas – que casam perfeitamente com a proposta dos games – as composições em chiptunes (típicos das primeiras gerações de consoles), em Rogue Heroes, são repetitivas e sem originalidade. Eu, por exemplo, optei por diminuir o máximo que pude o áudio das músicas. 

Avance sozinho ou acompanhado

Jogue sozinho ou acompanhado.

Em Rogue Heores, podemos desbravar Tasos sozinho ou com mais outros três jogadores. A Heliocentric Studios acertou em diversificar a forma de experimentar o game, disponibilizando um cooperativo local e online que funciona muito bem, diga-se de passagem. As partidas online apresentam pouco lag e deixam o jogo ainda mais divertido. Outra coisa legal é que os cristais obtidos na run com os amigos é compartilhado de forma homogênea, e os itens comprados e classes desbloqueadas por determinado jogador da party ficam salvos em seu perfil. Ou seja, tudo que é adquirido nas jogatinas cooperativas ficará permanentemente com o jogador convidado e anfitrião.

No início do game devemos criar nosso personagem, mas as opções de personalização, apesar de não ser um problema, são escassas (cor do cabelo, roupas etc). A única classe disponível, neste momento, é a do herói. Conforme avançamos no jogo, outras sete classes são disponibilizadas para compra numa lojinha específica (ladrão, cavaleiro, mago, patrulheiro, bruxo, pirata e ceifeiro). Cada uma delas conta com uma arma principal e uma habilidade e status específicos. O herói, por exemplo, consegue dar uma investida com a espada; o ladrão é mais ágil, porém mais vulnerável; o patrulheiro faz uso de um arco; o bruxo é um especialista em poções e por aí vai.

Os controles são bem simples. Basicamente temos um botão de ação (A) que serve para usarmos a arma principal, interagir com os NPCs e que nos permite arremessar objetos. Temos ainda um escudo bem útil nas batalhas e que é acionado ao segurarmos o botão ZL. Com o botão B usamos a habilidade específica da classe de nosso personagem. Com os botões de ombro (L e R) alternamos nossas armas e ferramentas e com o ZR as utilizamos. No menu do jogo temos acesso a um mapa, uma lista de missões, nossos equipamentos, inventário e um bestiário que adquirimos mais à frente no jogo e que contém descrições detalhadas dos inimigos.

Customize bem seu personagem

Troque os cristais por construções para aumentar as possibilidades de interações no vilarejo.

Ao começar nossa jornada somos jogados num vilarejo pouco povoado. Com os cristais vamos ampliando o número de moradores do local, na medida em que desbloqueamos moradias, lojas de poções, ferramentas, academia e até mesmo uma fazendinha para plantarmos certas sementes e conseguirmos itens que podemos colocar para venda. Nosso personagem conta com uma barra de vitalidade, uma de magia (que é consumida por ferramentas e feitiços) e duas barras de vigor (uma para as habilidades específicas da classe e outra para os ataques simples). E todas podem ser melhoradas nas diferentes lojas do vilarejo. 

Nas dungeons podemos coletar baús, que só podem ser abertos com moedas, que garantem uma quantidade razoável de cristais. Algumas armas e itens provisórios também podem ser coletados, mas quebram quando nosso personagem morre. Porém, fiquem tranquilos que conforme avançamos temos a opção de comprar itens e armas permanentes, como arcos, bumerangues, bombas e um arpão para alcançar certas áreas do cenário antes inacessíveis (dá-lhe, Link). Esses itens – é bom frisar – irão permanecer sempre em nossa posse.

Repetir uma dungeon já completada é a forma mais rápida de se conseguir moedas e cristais para comprar itens, ferramentas e melhorias. Explorar cada canto do mapa e os diversos objetivos secundários (como ajudar uma criança doente, limpar um mausoléu, achar personagens perdidos, etc) é igualmente importante para obter algo que seja útil em nossa empreitada. O jogo conta com algumas estátuas de teletransporte que funcionam como fast travel, para facilitar na exploração. É necessário gastar com sabedoria os recursos adquiridos. Nesse sentido, perder um tempo “farmando”, customizar bem o nosso personagem e ampliar as possibilidades de classes à nossa disposição – desbloqueando-as na loja da Agulha Enferrujada – é essencial para que tenhamos sucesso na batalha para defender Tasos dos titãs.

Um Roguelite competente

Rogue Heroes: Ruin of Tasos apesar de ter muito do visual, mecânicas, recursos e até mesmo itens dos primeiros jogos de The Legend of Zelda, surpreendentemente possui carisma e identidade próprios. Por mais que as comparações sejam inevitáveis, ele aplica muito bem algumas das mecânicas do jogo de aventura da Nintendo para apresentar algo novo. É um jogo que se inspira na famosa franquia sem se apresentar como uma mera cópia, ao contrário de muitos outros que vemos por aí. A história, apesar de não ser original, transmite um senso de responsabilidade diante de certas atitudes egoístas dos seres humanos. Trata-se de um Roguelite competente, com desafio na medida e que certamente irá garantir horas de diversão, seja jogando sozinho ou acompanhado.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Rogue Heroes: Ruins of Tasos

9

Nota final

9.0/10

Prós

  • Visual em pixel-art
  • Cooperativo local e online
  • Legendas em PT-BR
  • Desafio na medida
  • Controles precisos

Contras

  • Trilha sonora fraca
  • História manjada