Minha relação com Roguelikes nunca foi muito boa desde que descobri o gênero. Mesmo tendo jogado e adorado (odiar) Dead Cells, sendo inegavelmente incrível, não é exatamente o tipo de jogo que eu gosto de passar horas – me frustrando – jogando. Apesar disso, resolvi dar uma chance a Zengeon, e confesso não me arrepender disso.
Desenvolvimento: IndieLeague Studio
Distribuição: PQube
Jogadores: 1 (local) -e 1-4 (online)
Gênero: Ação, RPG
Classificação: 12 anos
Português: Não
Plataformas: PS4, Xbox One, Switch, PC
Duração: 1.5 horas (campanha)/12 horas (100%)
História simples e visual de anime
Durante séculos a academia celestial mantém a barreira que divide o mundo humano do mundo dos demônios protegida, mas certa noite, durante um eclipse lunar, um poder imensurável vindo do selo rompe essa barreira. As forças malignas começam a invadir a terra e o rei demônio retorna. Usando tudo que tem, o Mestre tenta manter o selo sob controle enquanto seus alunos ficam encarregados de defender nosso mundo dos terríveis demônios.
A história é simples: as forças do bem contra as forças do mal. A maioria das informações vem através de fragmentos de memórias liberadas ao encontrar certos artefatos. Mas tudo se desenvolve bem, considerando que para um Roguelike, o enredo acaba por ficar mais em segundo plano, ele ainda é bem bacana.
Como dito antes, Zengeon segue com um visual de anime, esbanjando e, eu diria até exagerando, no Cel Shading. A arte desse jogo é maravilhosa, isso é inegável, mas durante a gameplay as fases parecem que possuem um efeito visual tão carregado que fica esquito. Adoro animes e jogos com esse tipo de aparência, mas alguns acabam errando a mão um pouquinho, deixam com cara de “desenho falso”. Não é lá muito agradável aos olhos.
Personagens e habilidades
Obviamente o ponto alto de um Roguelike, além de te fazer espumar pela boca toda vez que morre, é sua jogabilidade! Com uma visão isométrica e uma boa gama de ação, mas com um esquema de habilidades que me lembrou muito os MMORPGs da vida, Zengeon te ganha nos primeiros minutos.
Admito que me viciei logo de cara. Os comandos são fáceis e simples, e tudo o que você precisa dominar é a distância e o momento exato de bater ou correr com o personagem que escolher. Falando em personagens, contamos com 5 estudantes da acadêmica celestial para enfrentarmos os demônios, mas de início apenas 2 deles estão disponíveis. Cada um deles possui uma arma e habilidades únicas, e cabe a quem jogar descobrir com qual se identifica mais.
Para liberar os outros é preciso avançar na história e coletar alguns artefatos que estão ligados ao personagem que está usando. Esses são objetos que desbloqueiam memórias deles. Ao coletar algum específico, outro personagem será liberado.
Voltando à jogabilidade: como exatamente esse Roguelike funciona? Além do objetivo de te fazer passar raiva, suas principais características são o mapa gerado aleatoriamente toda vez que jogar/morrer, perder praticamente todo seu progresso, tirando itens ou upgrades específicos geralmente relacionados a história do game, alta dificuldade e um bom fator replay devido a tudo isso já mencionado.
No início os mapas são menores, com menos inimigos, e também mais itens de cura aparecendo para te ajudar. Inclusive o mapa, apesar de simples, é muito bom e intuitivo. É fácil de se localizar, encontrar os itens importantes na fase e seu objetivo final.
Cada personagem possui 4 habilidades. A primeira delas é um combo básico, considerado o ataque padrão. A segunda sempre será uma esquiva, mas que geralmente também serve para dar dano nos inimigos. A terceira consiste em algum golpe de meia distância ou para afastar os adversários próximos. E, por fim, a última é a habilidade mais poderosa, na qual o personagem em questão invoca seu espírito guardião que representa algum elemento e desfere um ataque.
Tirando o ataque básico, todas as outras habilidades necessitam de um tempo de recarga para serem utilizadas novamente. Por isso o “ar” de MMORPG que mencionei antes. Dito isso, quero mencionar também que acho um crime “o golpe de esquiva” precisar ser carregado pra usar, pois acaba sendo essencial nas lutas, já que um movimento errado e os segundos de espera podem ser fatais.
Além disso, infelizmente não é possível ganhar novas habilidades, e só há as pré-existentes mesmo.. O que supre essa falta de evolução nas habilidades são artefatos de upgrade que nos concede “bênçãos” espirituais. Com a ajuda de diversos espíritos elementais, ganhamos novos poderes ativados aleatoriamente durante as lutas.
Essas bênçãos espirituais são possíveis através de artefatos que os inimigos dropam ou então os adquirindo atrás de umas caixas de upgrades que encontramos nas fases. Quando os inimigos são mortos eles também nos concedem moedas, e é usando elas que conseguimos abrir essas caixas.
Definitivamente o caminho certo em um Roguelike é achar a combinação perfeita de upgrades, pois existe uma vasta opção aos jogadores. Cada novo artefato lhe concedeu uma bênção espiritual nova ou então melhora uma antiga e quase sempre você deve escolher entre elas. Além das caixas, ainda há uma estátua que permite a troca desses artefatos por outros, tudo mediante um pagamento com as moedas arrecadadas durante as fases.
Demorei um tempinho até descobrir a combinação perfeita entre regeneração de vida e dano, mas consegui. Além desses artefatos ainda há mais 2 que são equiparáveis e consumíveis, por assim dizer. Um deles é uma poção que já vem pré carregada com 3 usos, após isso só encontrando mais durante as fases e, diga-se de passagem, como é difícil de achar isso! O outro item pode ser ou não consumível, pois depende de sua natureza. Geralmente os que lhe concedem algum status ou regeneração de vida (além da poção) são consumíveis, já os que causam dano são apenas recarregáveis. Eles também sofrem de um processo de de upgrade diferente. Sempre que um novo item equipável é encontrado, há a possibilidade de trocá-lo pelo novo ou melhorar o antigo “sacrificando” o outro item.
Uma boa jogabilidade, mas não sem defeitos
Apesar da jogabilidade fluida e ser tão rápido de se aprender a jogar quanto se morre, Zengeon veio recheado de pequenos problemas que podem tornar a experiência ainda mais frustrante. Por exemplo: os cenários, principalmente as primeiras fases, são repletas de objetos no cenário, como carros, carrinhos de lanche, cadeiras, barris e afins. Contudo, infelizmente 99% deles não são quebráveis. Vocês não têm ideia de como é triste e frustrante ver todo aquele potencial de coisas quebráveis e ao bater nelas nada acontecer. É impossível soltar seu vândalo interior. Apenas poucos objetos podem ser quebrados, como latas de lixo e caixas de madeira. E é através delas que conseguimos orbs de recuperação de vida, além das que os inimigos mortos deixam.
Esses mesmos objetos nos levam a outro problema ainda mais frustrante que o anterior. Como em alguns cenários existem muitas coisas, isso acaba atrapalhando muito as lutas. Frequentemente você se vê preso entre os objetos do cenário e os inimigos e, como não há como destruí-los, geralmente é morte certa. O mesmo acontece com suas habilidades, principalmente com as de meia distância, pois elas costumam ficar presas nesses itens de cenário e não chegar aos inimigos.
E como se isso não fosse o bastante, devido à visão isométrica, certas partes onde há árvores, telhados ou casas, é preciso que veja você através deles, com essas partes do cenário ficando transparentes. O problema é que nem sempre isso acontece e a luta acaba acontecendo às cegas.
Outro problema desanimador é a parte do salvamento. Não existe save automático, mas há uma opção de salvar manualmente no menu de pause, que sinceramente é uma grande frustração. às vezes em que eu tentei usar isso não funcionou como deveria. A função só fica habilitada a partir da segunda fase, mas se salvar em alguma outra mais pra frente, você será mandado de volta à fase 2 e terá de passar tudo de novo. São um total de 12 fases, eu estava na fase 4 quando salvei e voltei para a 2, e depois disso não me arrisquei a tentar salvar de novo e perder o árduo progresso que já tinha feito.
Em outro momento, salvei na própria fase 2 e, quando fui jogar novamente, resolvi trocar a roupa do meu personagem. Graças a isso o save foi simplesmente apagado. E isso sem nenhuma mensagem de aviso de que mudar a roupa poderia resetar meu progresso ou coisa do tipo. Simplesmente voltei no início da primeira fase como se nunca tivesse jogado.
Lembram dos artefatos que concedem as bênçãos espirituais? Então, cada um varia, mas há como ter várias ao mesmo tempo. O que lota a tela de poderes simultaneamente em que luta com os inimigos sem ver absolutamente nada. É raio caindo, pedra voando, círculo de fogo queimando geral, fora espíritos auxiliares que aparecem para bater em quem entrar em seu caminho. É uma loucura impressionante, em que não dá pra saber o que tá acontecendo. Fora isso, existem os números de dano que ainda aparecem no meio disso tudo.
Mas calma que apesar disso tudo, Zengeon é extremamente divertido e viciante. Impossível morrer e não recomeçar imediatamente. Mesmo com esses problemas, ele ainda possui uma jogabilidade muito “gostosinha”. A cereja do bolo é enfrentar os chefes gigantes e decorar seus padrões de ataque para revidar na hora certa. As fases são curtas e com os artefatos certos e pegando o jeito, e é possível terminá-lo em 1h30, isso com um personagem. Multiplique isso por 5 e terá aí mais de 10h de jogo, sem contar as horas que vai passar morrendo – é claro.
Fora o modo padrão de história, ainda há o Guard Mod, em que é preciso derrotar ondas de inimigos enquanto evolui seu personagem tudo outra vez. Isso eu confesso não ter gostado. Queria poder levar meu personagem já melhorado para esse modo.
Além do modo Easy, que já é bem difícil já por sinal, há também o Hard, que é um estresse certo.
Zengenon conta ainda com um multiplayer online, que infelizmente não consegui testar, pois nunca achei ninguém jogando. Ele deve ser ativado manualmente durante as fases. Ao que tudo indica outros players podem entrar em sua partida e te ajudar, e isso inclui te ressuscitar quando morrer também, o que é um bom jeito se assegurar seu progresso. Mas, segundo o que vi a respeito, quanto mais jogadores, maior é a dificuldade também. Triste é não ter um co-op local, pois seria bem divertido poder jogar com amigos presencialmente.
Vale a pena matar demônios?
Apesar da simplicidade, Zengeon é muito carismático e fácil de se adaptar. De bônus, Zengeon ainda possui uma trilha sonora maravilhosa, que mistura instrumentos tradicionais chineses com um ritmo mais moderno. Cada momento e ambientação das fases foi bem trabalhado. Mesmo alguém como eu, que não morre de amores por Roguelike, conseguiu achar neste jogo um certo equilíbrio entre a diversão e o ódio.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong