Se há uma coisa que o mundo dos games nos ensinou, é que vestir a farda de um policial é muito mais do que sair dando ordens por aí. É lidar com dilemas morais, enfrentar o caos das ruas e, no caso de The Precinct, mergulhar de cabeça em um thriller neo-noir que mistura ação, estratégia e um toque de sandbox urbano.
Desenvolvimento: Fallen Tree Games
Distribuição: Kwalee
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Simulação
Classificação: 14 anos (violência, drogas lícitas, linguagem adulta)
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X|S
Duração: 7 horas (campanha)
Justiça ou vingança?

The Precinct é um jogo de ação policial em mundo aberto que se passa na cidade fictícia de Averno City, trazendo uma estética retrô dos anos 80 com gráficos modernos. Você assume o papel de Nick Cordell Jr, um policial novato que busca justiça após a morte de seu pai, um ex-detetive renomado.
Se um bom jogo policial precisa de um mistério, The Precinct entrega uma trama sólida. A narrativa segue um jovem oficial tentando restaurar a ordem em uma cidade afundada no crime. Mas, claro, nada é preto no branco e logo você percebe que cada decisão carrega peso moral.
A comparação com Max Payne e Sleeping Dogs é inevitável, especialmente no tom sombrio e nos personagens ambíguos. Contudo, The Precinct mantém sua própria identidade, apostando mais na rotina policial do que na vingança desenfreada.
O roteiro é competente, cheio de diálogos afiados e momentos de tensão que fazem você se sentir realmente parte da força policial. Nada de situações previsíveis ou missões sem impacto.
Um Banho de neon e realismo

Se tem uma coisa que The Precinct faz muito bem é captar a estética noir com maestria. Os visuais são um verdadeiro espetáculo de sombras e luzes, com ruas molhadas refletindo a névoa de letreiros neon e carros patrulhando um cenário digno de um filme policial dos anos 80.
O ciclo dinâmico de dia e noite e os efeitos climáticos, que alteram a iluminação e a visibilidade em tempo real, são implementados de maneira a reforçar a sensação de um mundo vivo e em constante mudança. A referência a uma paleta de cores que mistura tons frios e quentes, a presença dos efeitos de partículas como chuva e neblina e a implementação de texturas de alta definição elevam a experiência visual, proporcionando uma profundidade que complementa as emocionantes perseguições de carro e confrontos intensos.
Essa atenção meticulosa aos detalhes não só melhora o valor cinematográfico do jogo, mas também engrandece a jogabilidade, imergindo o jogador em um universo onde cada frame conta. Essa combinação não só atrai os fãs do estilo noir e dos clássicos policiais, mas também impressiona pelo desempenho exigente.

No Xbox Series X, o poder gráfico da nova geração brilha. O ray tracing faz sua mágica nas superfícies úmidas, criando um ambiente que pulsa realidade. Cada esquina da cidade parece contar uma história de pichações sujas nos becos, a vitrines de lojas que dão um toque autêntico à urbanidade.
A modelagem dos personagens é decente, embora não chegue aos padrões absurdos de fotorrealismo de obras como Red Dead Redemption 2 ou Cyberpunk 2077 (após seus polimentos). Ainda assim, animações fluidas e detalhes nos uniformes dão um charme especial ao protagonista.
Entre o controle e o instinto

The Precinct oferece uma experiência única ao combinar a ação de um arcade policial com a profundidade e imprevisibilidade de uma simulação sandbox. Uma das mecânicas centrais do jogo é o sistema de resposta a emergências. Ao longo da sua jornada, você mesmo pode vir a se deparar ou a central de despachos envia informações detalhadas sobre uma ampla variedade de incidentes, desde pequenas infrações de trânsito até tiroteios intensos e confrontos entre gangues.
Essa diversidade obriga o jogador a analisar rapidamente o cenário e tomar decisões críticas: optar por uma perseguição em alta velocidade, isolar uma área ou até solicitar reforços para conter uma situação mais complexa. Assim, cada decisão impacta diretamente o desenrolar dos eventos, promovendo uma sensação autêntica de urgência e estratégia.
Outro pilar de The Precinct é o sistema de perseguições veiculares. Inspirado pelos clássicos filmes policiais dos anos 80, o jogo integra uma física de condução realista e desafios urbanos variados. Em meio a ruas encharcadas de chuva e iluminadas por neon, as sequências de perseguição exigem reflexos rápidos, precisão nas curvas e um profundo entendimento do ambiente.
Os controles são responsivos, precisos e, acima de tudo, satisfatórios. Guiar uma viatura pelas ruas é uma experiência que mistura arcade e realismo na medida certa, evitando aquela sensação de “sabonete deslizando no gelo” que alguns jogos policiais costumam ter.

O combate, por sua vez, exige estratégia. Você pode ser aquele policial linha dura que parte pra cima ou usar abordagens táticas e cautelosas. Prisões, interrogatórios e até investigação forense compõem uma variedade impressionante de mecânicas.
O mundo aberto é um dos destaques: patrulhar a cidade não é simplesmente um detalhe, mas uma peça fundamental da experiência. Pequenos incidentes podem se transformar em grandes casos, dependendo de como você lida com cada situação. Essa dinâmica lembra um pouco L.A. Noire, mas sem tanto foco na detecção visual de pistas. Uma simples abordagem para checar a identidade de um NPC se comportando estranhamente pode se tornar uma grande perseguição de carros com reféns e troca de tiros.
Não é só mais um

É impossível evitar comparações com outros jogos ou até mesmo o jogo que definiu um gênero, como o Grand Theft Auto original. A Fallen Tree Games, um estúdio composto por 5 pessoas, conseguiu criar um jogo que se destaca entre muitos por aí.
Se fosse para descrever The Precinct em poucas palavras, diríamos que ele é um cruzamento entre L.A. Noire, Grand Theft Auto e This Is the Police. Ele pega a liberdade de um sandbox, a profundidade investigativa e o dilema moral de um gestor policial e os mistura em um único pacote.
Comparado a GTA V, a cidade é menor, mas bem mais detalhada em termos de interação policial. Já em relação a L.A. Noire, a investigação é mais dinâmica e menos engessada. Em certos momentos, The Precinct consegue se destacar ao trazer um equilíbrio entre ação e estratégia que falta em muitos títulos do gênero.
Vale a pena?
Se você gosta de jogos policiais e procura algo que equilibre ação, estratégia e narrativa, The Precinct definitivamente merece sua atenção. A versão do Xbox Series X faz jus ao poder da nova geração, com gráficos belíssimos e uma jogabilidade refinada. Não é um jogo perfeito, há pequenos bugs pontuais e missões que poderiam ser mais variadas, mas ele entrega uma experiência envolvente que coloca você diretamente no papel de um agente da lei. Então, coloque o distintivo, ligue seu rádio de comunicação e prepare-se para fazer justiça nas ruas de um dos cenários urbanos mais vibrantes dos games.
Revisão: Júlio Pinheiro
Cópia de Xbox Series X|S cedida pelos produtores