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Review Architect Life: A House Design Simulator (Xbox Series X) – Quando criar se torna frustrante

Atualmente, simuladores como Architect Life: A House Design Simulator tentam capturar a essência criativa do design de interiores,  mas sem o trabalho suado de desmontar projetos ou encarar a bagunça. Com uma proposta atraente, o Shine Group, conhecido por jogos como Quantic Pinball e por ferramentas que facilitam a adaptação de games do Unreal Engine para consoles, claramente quer agradar os entusiastas da arquitetura virtual, com boas intenções. O problema é que, por enquanto, Architect Life parece mais uma promessa do que uma entrega real. A experiência oscila entre momentos inspiradores e escolhas de design frustrantes. Quem busca um refúgio criativo pode até se empolgar no início, mas é difícil não sentir que o jogo ainda precisa sair da planta.

Desenvolvimento: Shine Research
Distribuição: Nacon
Jogadores: 1 (local) 
Gênero: Simulação
Classificação: Livre
Português: Legendas e interface
Plataforma: Xbox Series X|S, PC, PS5 e Switch
Duração: 19 horas (campanha)

Solte a imaginação para frustração

Uma casa moderna de dois andares com uma varanda no andar superior. Na parte frontal há uma piscina rodeada por áreas verdes e árvores, compondo um cenário acolhedor e relaxante. A fachada possui várias janelas amplas e uma planta trepadeira cobre parcialmente a parede lateral.
Construa de acordo com seu gosto

Apesar de Architect Life prometer acessibilidade com uma interface intuitiva, a realidade do esquema de controle conta outra história, e não das mais agradáveis. Para um jogo que exige precisão e detalhamento, os comandos parecem ter sido pensados mais para testar a paciência do jogador do que para facilitar a construção. Com teclado e mouse pode ser menos pior, mas se tratando de console a situação é bem diferente. É até possível ajustar os elementos com algum esforço, mas certas tarefas, como derrubar paredes ou encaixar objetos em ângulos específicos, beiram o absurdo em termos de fluidez.

O cúmulo, porém, é o botão de “encaixar”: representado por uma seta pouco informativa na tela e completamente ausente do mapeamento oficial de teclas. Depois de minutos de tentativa e erro, descobri que a função estava escondida sob outro comando do controle – uma decisão de design que desafia a lógica e compromete a imersão. Para um simulador que almeja realismo, tropeçar nos controles básicos é um deslize difícil de ignorar.

Uma mesa de trabalho com objetos comuns de escritório e artesanato — como régua, tesoura, tubo de cola, caderno e caneta — sugerindo um ambiente criativo e técnico.
Mesa de trabalho simples, mas onde acontece tudo

Enquanto o jogo tenta se vender como uma ferramenta fluida para o design criativo, a realidade dos controles desafia a paciência até dos mais perseverantes. A simples tarefa de girar um item exige mais cliques do que o bom senso recomendaria – um detalhe pequeno, mas que se soma ao cansaço com o tempo. Ajustar a posição dos elementos decorativos vira uma verdadeira batalha, especialmente quando a câmera resolve agir por conta própria, sabotando cada tentativa de precisão. E se a ideia era admirar os detalhes de perto, o zoom excessivo mais atrapalha do que ajuda: objetos se sobrepõem, somem atrás da interface e transformam o trabalho de aproximação em um exercício de frustração. Para um simulador que se propõe a ser uma extensão da criatividade, esbarrar nesses tropeços técnicos compromete seriamente a experiência.

Pequenos detalhes

Uma sala de estar moderna em um ambiente virtual de design de interiores. O espaço conta com um sofá em formato de "L", uma mesa de centro retangular com detalhes em madeira, uma estante com nichos quadrados, uma mesa de trabalho com um laptop, além de uma televisão montada na parede. Há duas janelas que permitem a entrada de luz natural, uma luminária de pé e uma planta decorativa em vaso
Altere piso, paredes e todos os objetos do ambiente

Architect Life tenta, literalmente, cobrir todos os ângulos. Você pode criar seu projeto em vista aérea ou em 3D, e ambas têm seu valor no processo. Ao longo da construção, o jogo vai despejando métricas como ângulos, metragem quadrada e estimativas de custo. Parece promissor, e até é, pelo menos no papel. Você começa pela fundação, passa por paredes internas e externas (uma distinção que The Sims até hoje ignora), sobe telhado, insere portas, janelas, e depois brinca de decorador com móveis, iluminação e sistemas de climatização.

Mas aqui está o dilema: Architect Life tenta vestir duas fantasias ao mesmo tempo, a do arquiteto técnico e a do designer de interiores, e o resultado é uma mistura que, embora ambiciosa, muitas vezes soa artificial. A maior parte dos arquitetos do mundo real provavelmente não está nem um pouco preocupada com o abajur que vai na sala ou a cor da parede da cozinha. A inclusão de elementos externos como árvores e cercas é um agrado simpático, mas não disfarça o fato de que o jogo ainda está tentando entender se quer ser uma ferramenta profissional ou um playground estilizado para entusiastas.

No centro, vemos a projeção de uma casa parcialmente construída, com paredes externas visíveis, portas posicionadas e alguns móveis sugerindo a disposição dos cômodos. A estrutura está sobre uma base de madeira
A maquete toma forma com o tempo

Para além da colocação de paredes e pisos, Architect Life tenta dar corpo à sua experiência com um sistema de progressão que, ao menos em teoria, adiciona propósito ao processo criativo. Desafios de design, gerenciamento de orçamento e demandas específicas de clientes formam a espinha dorsal de um “modo carreira” disfarçado, com recompensas sendo liberadas em ritmo de conta-gotas conforme contratos são concluídos.

A ideia não é ruim, e há até uma dose de satisfação em desbloquear novas ferramentas, texturas e opções de paisagismo. O problema é que esse senso de progresso, embora respeitável, depende demais de tudo funcionar como prometido. E nem sempre funciona. Quando a engrenagem emperra, seja por bugs, controles mal resolvidos ou feedback pouco claro, todo o sistema, que deveria ser o motor da motivação, acaba se tornando mais um obstáculo no caminho.

Simulação ou ilusão?

Architect Life acerta na ambição, mas tropeça na execução e ainda busca sua identidade. É um simulador que tenta oferecer tudo: liberdade criativa, apelo técnico, progressão por desafios e até um vislumbre de realismo na arquitetura digital. Mas no esforço de abraçar tantos elementos, o jogo acaba deixando escapar o essencial: a sensação de controle, imersão e prazer em construir.

Controles desajeitados, uma câmera rebelde e decisões de interface questionáveis criam atritos constantes que minam a experiência, principalmente quando o jogador quer apenas se concentrar na criação. O sistema de progressão, embora promissor, depende da estabilidade que o jogo ainda luta para alcançar. E a tentativa de mesclar o papel de arquiteto com o de decorador torna tudo mais confuso do que funcional.

Cópia de Xbox Series X|S cedida pelos produtores

Revisão: Júlio Pinheiro

Architect Life: A House Design Simulator

6.5

Nota Final

6.5/10

Prós

  • Diversão

Contras

  • Menus atrapalhados
  • Controle dos objetos
  • Modo carreira