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Review Animal Crossing: New Horizons (Switch) – Uma ilha de infinidades

A história é a seguinte: desta vez nada de viver os louros da vida de um prefeito como em New Leaf de 3DS, aqui você inicia numa ilha praticamente desabitada depois de viajar de férias junto com outros dois recém chegados, que serão dois animais aleatórios, e logo precisa montar sua barraca dada pela família de tanookis, e então escolher um nome pra ilha – já que você foi nomeado o representante dos residentes, quase um síndico. Ah, mas não pense que sua estadia na ilha vem assim de graça, pois Tom Nook irá lhe cobrar todos os bens cedidos para sua estadia assim como a passagem de sua viagem. Como sobreviver num lugar onde todos querem sugar suas energias?

Desenvolvimento: Nintendo
Edição: Nintendo
Jogadores: 1-4 (local) e 1-8 (online)
Gênero: Simulador
Classificação indicativa:
Livre
Português: Não
Plataformas: Switch
Duração: 60.5 horas (campanha)/ 307 horas (100%)

Entenda Animal Crossing

Animal Crossing é basicamente um mundo de possibilidades, e um jogo que exige bastante paciência e comprometimento de quem está jogando, visto que o tempo corrido dentro do jogo é diretamente relacionado ao tempo real – tecnicamente sincronizado com o relógio do Switch. Ou seja, se você estiver jogando às 14h, o jogo estará com o horário em 14h também. Apesar de ser algo que faz parte da essência de toda a série, isso pode afastar certos tipos de jogadores que não gostam de se sentir impedidos pelo próprio jogo de avançar o quanto quiser, até mesmo pessoas desavisadas podem acabar adquirindo o título e se deparando com este recurso que talvez não as agrade.

Sabendo que este é um título de nicho, saiba que New Horizons é uma evolução da série extremamente bem-vinda aos fãs de longa data. Sua imersão agora ganha força quando o jogo é desfrutado principalmente em comunidade, através de conversas por áudio com outros jogadores sobre o que eles estão fazendo no momento dentro do jogo, ou então visitando a ilha de seus amigos para sacudir suas árvores e pegar suas frutas. A última opção é bastante incentivada, já que cada pessoa tem uma fruta exclusiva em sua ilha no início, e uma das missões dos Nook Miles é possuir todas as frutas do jogo plantadas em suas terras.

Caso esteja jogando sozinho, pode concentrar todos seus esforços na ampliação de sua ilha e ficar de olho nos objetivos dos Nook Miles, que é uma espécia de dinheiro premium adquirido ao cumprir tarefas, o qual usamos para comprar itens exclusivos que não podem ser comprados com a moeda padrão do jogo, os Bells.

Uma vida pacata

O ritmo por aqui também é de uma essência bem explorativa e calma, exigindo bastante grinding e praticamente visitas diárias ao jogo – recomendo uma de manhã e uma no período noturno. Se sua mentalidade estiver bem voltada para um Stardew Valley da vida assim como a minha estava, você possivelmente vai se decepcionar por conta das diferenças. Animal Crossing é feito para quem gosta de momentos relaxantes, de desfrutar de uma ambientação extremamente bem feita enquanto busca recursos aqui e ali para ampliar sua ilha, convida novos residentes para povoar o local – a parte mais legal, na minha opinião -, ou então trabalhar de graça para a família mercenária de tanookis que parecem querer explorar o personagem a todo instante.

Podemos dizer que o exclusivo da Nintendo tem um objetivo central para todos os jogadores: divertir. O jogo não tem exatamete uma missão que trará vitória, nem mesmo um final em si, a proposta é simplesmente viver a vida naquele mundo cheio de personagens carismáticos, progresso num ritmo cadenciado e infinitas tarefas a serem cumpridas a fim de obter Bells e Nook Miles, e como tudo isso acontece em tempo real, é extremamente necessário estar sempre se planejando dentro e fora do jogo. Muita das vezes você vai perceber que os habitantes da ilha estão de certa forma vivendo suas próprias vidas ali naquele local, às vezes realizando até atividades diferentes no dia-a-dia, o que dá a sensação de que aquele mundo é de fato vivo. Também em algumas manhãs é possível que Tom Nook anuncie algo novo ou que aconteça algum evento, mas é sempre bom ficar de olho no mural de avisos do lado externo para se atentar a eventos como aniversários dos residentes – é bom ter um presente preparado para não decepcionar o aniversariante.

Sua ilha, seu gosto pessoal

Em segundo plano, mas não menos importante, Animal Crossing tem uma extensa variedade de itens que podem ser construídos usando as mesas de trabalho ou simplesmente ganhando dos residentes por sua amizade com eles. A maioria dos objetos visam apenas a decoração, coisa que faz sucesso entre os fãs do jogo – ainda mais com o compartilhamento de imagens e vídeos em redes sociais – e tornam sua casa ou ilha mais bonita. Além disso nossos desenhos personalizados também podem ser compartilhados com outros jogadores usando um QR code que o jogo libera para ser gerado após certos eventos acontecerem.

Jogando em conjunto

New Horizons é um jogo excelente para jogar com amigos através da internet, podendo ter sua ilha com até 8 pessoas no total compartilhando recursos, presentes, ou simplesmente conversando. Além destes recursos, observei durante este período de pós-lançamento do jogo a explosão de imagens e vídeos sobre New Horizons no Twitter e outras redes sociais, junto a isso percebi que pessoas criavam várias brincadeiras “personalizadas” em suas ilhas como pique-esconde, pega-pega, caça ao tesouro, pescaria, ou até mesmo faziam multirões para limpar o mato da ilha de alguém. Animal Crossing é, realmente, um jogo que se for vivido em comunidade promove uma experiência completamente diferente de jogar sozinho.

Quanto ao multiplayer local, é possível jogar na companhia de outra pessoa ao vivo no mesmo console e compartilhar experiências e a sua própria ilha. O jogo tem compatibilidade com pro controller, par de joycon ou joycons na horizontal para ativar o segundo jogador – até 4 jogadores no mesmo console. Para realizar a façanha, é necessário que existe um outro jogo salvo utilizando um segundo perfil do console, assim será instalado um app em seu celular (do jogo) permitindo convidar um segundo jogador para a jogatina.

Um dos jogadores fica sendo o líder da ilha (jogador principal), podendo realizar diversas ações e ter controle total sobre todos os objetos do local, porém esta liderança é facilmente passada para outro personagem através de um comando. Apesar disso, apenas o jogador principal pode ter acesso à criação de ferramentas e ao bolso de itens, então é necessário ficar trocando para ter as ações mestres do jogo e isso se torna um pouco chato.

Um ponto negativo é que Animal Crossing define uma ilha por console, portanto, caso um familiar queira jogar em sua própria ilha usando seu próprio perfil simplesmente não poderá “porque sim”, a não ser que compre outro Switch. Portanto nada de histórias isoladas, todos os eventos e progresso da ilha atrelada ao Switch será vinculado a todos os perfis. Especificamente sobre o modo multiplayer no mesmo console, também fica a crítica de todos os jogadores compartilharem a mesma câmera, então todos ficam preso naquele espaço limitado de visão. Podiam ter escolhido uma câmera dinâmica, onde todos, quando se dividissem, tivessem uma câmera isolada – assim como em jogos da LEGO.

A viagem no tempo

Mesmo que vá de certa forma contra a proposta do jogo e muitos fãs mais ferrenhos sejam contra esta prática, é possível de se “viajar no tempo” adiantando o relógio do Switch antes de encerrar o jogo e voltar ao menu principal. Se você toda vez que terminar um dia árduo de trabalho em Animal Crossing e não tiver mais o que fazer, pode adiar sempre o relógio para o dia seguinte na parte da manhã, desta forma o progresso no jogo será bem mais rápido e as consequências serão praticamente nulas – caso você se planeje bem e não pule eventos importantes.

É possível voltar à data corrente depois sem problemas, o jogo entenderá que somente mais um dia se passou. Porém, o proceso se torna maçante depois de algumas vezes feito, então seria legal ter alguma forma de escolher jogar assim em vez de ter que recorrer a certos macetes de progressão. Algumas pessoas criticam o uso disso com o seguinte argumento de que “é a forma errada de se jogar Animal Crossing, e se for pra fazer isso, simplesmente não jogue e não compre”. Mas uma reflexão importante que deixo é a seguinte: você é quem deve adaptar sua vida real a um jogo, ou o jogo que deveria se adaptar a você? Às vezes esse tipo de coisa mostra o quanto a comunidade consegue ser tóxica e age como se certas práticas fossem criminosas.

Pontos negativos

Eu, como alguém que valoriza muito a experiência e as mecânicas que um jogo oferece, notei vários pontos que me desgradaram em Animal Crossing: New Horizons. Alguns podem parecer bobeiras para certa pessoas, mas este review se trata da minha opinião sobre o jogo, e não de verdades absolutas. Então vamos lá, e sem choro:

1 – O gerenciamento de recursos é algo muito manual. Você não pode usar recursos guardados em seu armazenamento de sua casa, por exemplo, então o jogo não te deixa ser produtivo. Cada objeto construído exige que você tenha os materiais necessários sendo carregados com você, o que considero uma falta de agilidade por parte do jogo principalmente por conta de sua mochila ser algo bem limitado e muitos itens não se agruparem. No fim das contas, se torna um trabalho bem cansativo guardar os materiais em sua casa para usar quando necessário.

2 – Apesar de ser uma característica da série, não é possível rotacionar a câmera em ambientes externos, somente dentro de sua casa. Muitas vezes derrubei algo atrás das árvores e não conseguia ver direito onde o objeto se encontrava. Se houvesse ao menos uma forma de girar levemente a câmera apenas para ajudar na visualização, já resolveria este problema.

3 – Sei que é algo predominante no jogo, mas enquanto Animal Crossing tiver como ponto central o vínculo direto do jogo com o horário em tempo real, ele ficará restrito àquelas pessoas que se permitem ter um compromisso constante com a progressão, já que alguns eventos dentro dele exigem que você não deixe de jogar por longos períodos.

4 – Animal Crossing passa uma sensação de que muitas decisões foram tomadas propositalmente com a intenção de deixar o ritmo do jogo mais devagar, como ter que pegar os recursos um por um de forma cadenciada, animações que não podem ser cortadas, diálogos que não tem a opção de aparecer instantaneamente ou serem pulados, construções que levam um dia todo para serem concluídas… enfim, é tudo muito lento.

5 – Não é possível entrar na ilha de outra pessoa se ela estiver mexendo no smartphone (do jogo). Ah, e a animação de entrada na ilha dos outros também é bem demorada e maçante, além de ser impossível de pular.

6 – As ilhas geradas aleatoriamente para uso do ticket no aeroporto não apresentam muita variedade entre si, então facilmente você encontra uma fauna e flora bem semelhante entre todas as visitadas.

7 – Ferramentas que quebram e precisam ser refeitas. Sério mesmo? Até mesmo as ferramentas de níveis mais alto quebram depois de serem bastante usadas, mas qual o objetivo disso? Grinding e mais grinding somado à frustração.

8 – Sem savem na nuvem. Uma escolha justificada pela Nintendo para “evitar trapaças”. Ou seja, você prejudica o jogador retirando um recurso tão importante de um jogo da sua própria empresa, em vez de trazer uma solução menos agressiva ao jogador e que não exclua um recurso que pagamos para ter. Desgradável, não é?

9 – O sistema de pescaria é péssimo. Várias vezes jogamos o anzol para fisgar o peixe e ele simplesmente parece não enxergar. Também não é possível saber qual a distância correta para acertar um ponto em específico, já que não existe uma forma de mirar onde queremos jogar a isca.

10 – Apesar do mundo de Animal Crossing claramente ser composto por grids (quadrados, basicamente), não existe esta demarcação. Por isso você facilmente irá errar a colocação de algum objeto ou na hora de cavar o terreno.

11 – Talvez o ponto mais crítico para nós brasileiros: simplesmente não existe tradução para português. O jogo tem uma boa quantidade de textos para serem lidos e nem sempre as mecânicas são intuitivas, e sem o conhecimento ao menos intermediário de inglês o jogo fica bastante inacessível. É bem frustrante o fato da Nintendo não ter se dado o trabalho de traduzir um jogo baseado em leitura como este, o que passa a impressão de um completo descaso com os fãs brasileiros.

Para quem exatamente é o jogo

É preciso dizer com todas as letras: Animal Crossing, apesar de excelente, é um jogo de nicho. Não são todos os perfis de jogadores que estarão dispostos a ligar diariamente seu console para jogar um mesmo jogo, às vezes nem mesmo estamos no humor para isso e assim fica difícil indicar New Horizons para qualquer tipo de pessoa.

Se você já é fã da franquia desde os primórdios, ótimo, a versão de Switch é uma excelente evolução dos jogos anteriores. Porém se você, assim como eu, prefere experiências que não exigem um vínculo ao tempo real ou um compromisso diário, recomendo simuladores com uma proposta diferente, que ofereçam uma progressão menos lenta e que dão o poder de escolha em suas mãos.

Este review foi feito usando uma cópia para Switch cedida pela Nintendo

Animal Crossing: New Horizons

8

Nota final

8.0/10

Prós

  • Divertidíssimo
  • Jogar com amigos faz diferença
  • Nook Miles de montão
  • Evolução dos jogos anteriores

Contras

  • Jogo de nicho
  • Ritmo lento
  • Apenas uma ilha por console
  • Escolhas de game design desagradáveis
  • Sem save na nuvem