Para quem curte jogos táticos no estilo XCOM, como eu, Capes chama atenção logo de cara. A possibilidade de montar seu time e posicioná-lo em mapas estratégicos para executar ações coordenadas é sempre envolvente. A cada turno, a tensão de tomar decisões certeiras alimenta o prazer de superar inimigos em combates bem pensados.
Desenvolvimento: Spitfire Interactive
Distribuição: Daedalic Entertainment
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Estratégia
Classificação: 12 anos (Violência, Linguagem Imprópria)
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, Switch, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
Duração: 15 horas (campanha)
Narrativa superficial e apelo genérico

Quando um novo título segue essa fórmula, ele já começa com pontos positivos no meu radar. No entanto, isso por si só não sustenta o interesse por muito tempo. É preciso algo mais — uma história marcante, personagens carismáticos, ou alguma inovação mecânica — para manter o jogador engajado por horas.
Infelizmente, é aqui que Capes dá seus primeiros tropeços. A proposta narrativa é extremamente genérica, apoiando-se em clichês do gênero de super-heróis sem entregar nenhuma grande reviravolta ou profundidade emocional. Os personagens são rasos, tanto visual quanto narrativamente. As dublagens não contribuem em criar empatia, e a caracterização dos heróis parece saída de um pacote de assets genéricos. Depois de duas ou três missões, a repetição de falas e a falta de personalidade começam a pesar.

As tentativas de desenvolver o pano de fundo de cada personagem não conseguem segurar o ritmo. Enquanto jogos como XCOM ou Warhammer (os de estratégia) apostam em criar universos envolventes e personagens com identidade, Capes se contenta com o básico — o suficiente para servir de palco às batalhas, mas não para construir algo memorável.
O visual é uma mistura de cutscenes 2D com gameplay em 3D. A princípio, isso até confere certo charme ao jogo, mas a execução deixa a desejar. As animações são engessadas e feias, e não acompanham o dinamismo esperado de combates entre super-heróis. Falta brilho, estilo e energia nas cenas que deveriam empolgar. Isso acaba comprometendo também o senso de impacto das batalhas: quando um ataque poderoso parece visualmente trivial, a experiência perde força.
O brilho é a gameplay

Agora, no que Capes realmente acerta, é na jogabilidade. A ausência de sorte ou aleatoriedade — como aquelas frustrantes chances de errar em XCOM — faz com que tudo dependa de posicionamento, sinergia entre habilidades e leitura do mapa. Isso transforma o combate em uma experiência mais lógica, quase como resolver um quebra-cabeça. E, para fãs de estratégia pura, isso pode ser um atrativo e tanto.
À medida que o jogador avança na campanha, novos heróis são introduzidos. Cada um tem habilidades bem distintas: alguns são voltados para a defesa, com escudos ou camadas de proteção; outros têm alta mobilidade ou ataques em área. Isso permite criar times com especializações diferentes, adaptáveis aos diversos objetivos de missão.
Depois de cada combate, o game permite melhorar os heróis, seja nas habilidades ou em atributos como dano e resistência. Há também objetivos secundários durante as missões, como terminar sem tomar dano ou impedir qualquer morte, que rendem mais experiência para evolução dos personagens. Esse sistema de recompensa é bem estruturado e incentiva o jogador a refazer missões com novas estratégias para extrair o máximo do jogo.
Cansa rapidamente por causa da repetição

Apesar dessas mecânicas bem construídas, a sensação de repetição é inevitável. As missões não apresentam grande variação ao longo da campanha. Os mapas tentam introduzir obstáculos novos — como barris explosivos ou verticais interessantes — mas eles não mudam substancialmente a forma como se joga. A fórmula de entrar, eliminar inimigos e melhorar personagens se repete com poucas surpresas, o que torna a experiência previsível após certo tempo.
Além disso, algumas missões exigem combinações específicas de heróis, limitando a liberdade de experimentação. Isso pode frustrar quem curte testar sinergias diferentes e encontrar suas próprias formas de vencer.
Precisa melhorar, mas a base taí
Capes não é um jogo ruim: ele tem uma base sólida, especialmente em seu sistema de combate. Mas também não é memorável, pois falta personalidade, ambição e originalidade. Para quem busca uma experiência tática sem a aleatoriedade de outros títulos, ele pode ser uma boa opção por algumas horas. Mas se você está atrás de envolvimento emocional, narrativa marcante ou design inovador, talvez seja melhor deixar essa capa guardada.
Cópia de Switch cedida pelos produtores