Cult of the Lamb chegou às plataformas recentemente e foi um sucesso estrondoso de vendas, além de estar constantemente no topo de visualizações em lives da Twitch. O novo hit da Devolver Digital traz um cordeiro encapetado que, antes de ser sacrificado diante de entidades demoníacas, precisa fugir e decidir seu destino.
Com um combate fluido bem simples, gerenciamento de recursos e minigames divertidos, o jogo surpreende bastante e, salvo alguns probleminhas pontuais de performance no PC, supera muito as expectativas pelas promessas da sua desenvolvedora indie para esse ano.
Desenvolvimento: Massive Monster
Distribuição: Devolver Digital
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação
Classificação: Livre
Português: Interface e Legendas
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, Switch, PC
Construa a soberania do culto
Um pequeno cordeiro aparece na tela, em meio a um ambiente hostil, acorrentado e rodeado por seres encapuzados. Ao andar até o topo da tela, você se depara com 4 demônios tenebrosos prestes a sacrificarem o inocente animal. No instante do golpe mortal de um carrasco, o protagonista é enviado imediatamente a outro plano bastante vazio, todo branco, com detalhes de correntes e crânios.
Neste inóspito ambiente você conhece outro demônio, o Aquele Que Espera, responsável por sua salvação. Esse demônio muito maior e mais amedrontador demanda ao cordeiro que inicie um culto em seu nome e sua nova religião e o liberte das tantas correntes que o prendem àquele mundo. Para que isso aconteça, o demônio-mór entrega sua coroa mágica ao cordeiro e pragueja contra os outros 4 demônios, desejando vingança contra os nomeados “bispos”, entregando muito poder nas mãos desse cordeirinho fofo.
E assim começa Cult of the Lamb. Seu objetivo é, então, iniciar um culto diabólico e derrotar os 4 bispos, Leshy, Shamura, Heket e Kallamar, e seus lacaios. Após a salvação do cordeiro, há uma rápida introdução à dinâmica de combate em uma pequena dungeon, que dá noções básicas de ataque e desvio. Você também encontra Ratau, um rato conselheiro presente nos momentos iniciais da narrativa, dando informações básicas para que essa jornada se inicie, além de introduzi-lo ao primeiro minigame, mais tarde.
Nesse mesmo início, as mecânicas de construção e manutenção do culto (gerenciamento de recursos) são apresentadas, bem como a recepção de um seguidor, adquirido na primeira dungeon. Esses são os seguidores animaizinhos fofos customizáveis na própria recepção, além da sua atribuição dentro do culto: se vai cortar lenha, minerar pedras, adorar a imagem do cordeiro para gerar devoção, refinar recursos ou cuidar de plantas do jardim.
Todos os recursos coletados são úteis em momentos criativamente distribuídos pelo jogo e têm sua relevância. Gerenciar o culto sempre vai suprir o combate e vice-versa. Um bom exemplo disso é as atualizações da igreja satânica – que, mais tarde, proverá melhorias ao cordeiro e seus equipamentos, alterações relevantes à jogabilidade das dungeons e ao status do culto em pró de um objetivo maior -, alcançadas via sermões constantes, rituais, doutrinas e upgrades da coroa e da lã (vestimenta do cordeirinho).
Por ser ridiculamente fácil, esse lado B do jogo possui muito mais conteúdo do que o ato de avançar pelas dungeons em si, trazendo grande acessibilidade a jogadores mais casuais. É no gerenciamento que, provavelmente, você vai passar a maior parte do tempo jogando, pois é extremamente imersivo, além de sustentar mais buffs e fatores facilitadores à continuidade narrativa. Sem um culto com muitos seguidores, inclusive, não é possível desbloquear as próximas fases e, logo, não há progressão. Portanto, é importante cativar bem seus seguidores e manter os 3 medidores administrativos no verde: fé, fome e saúde.
Além disso, permeados por uma narrativa linear e um combate extremamente fluido e satisfatório, existem uma série de segredos espalhados pelas dungeons, uns tão fofos quanto o protagonista peludo, outros até comoventes em forma de pequenas histórias, carregadas de emoção.
Uma jogabilidade versátil
Não há quase nenhuma complexidade no combate do jogo. Basta saber desviar, bater e, opcionalmente, usar um ataque especial para superar qualquer inimigo. Os chefes e mini chefes são sempre mais desafiadores, e a mesma afirmação vale para eles, com os adicionais de poder atacá-los com explosões de cadáveres e/ou defletir projéteis disparados no mesmo espaço, por exemplo, graças a buffs ou ferramentas entregues ou conquistadas.
A jogabilidade se enriquece muito quando uma grande diversidade de possibilidades se expande para cada run, graças a novas construções e upgrades realizados no seu culto. Alguns exemplos são: transformação de seguidores em pequenos ajudantes de combate, possibilidade de uma ressurreição pelo sacrifício de um seguidor (caso o cordeiro morra em alguma run), e um coração extra (vida) após comer uma refeição qualquer. Vale dizer que boa parte desses benefícios ou doutrinas demoram um pouco em serem conquistadas, pois dependem de muito cultivo interno e externo e certo grind.
Lindas cartas de tarô também roubam a cena de gráficos cartunescos de personagens e cenários em 2D, inseridos em plataforma tridimensional. Essas dão vantagens e/ou trocas equivalentes nas runs, garantindo uma experiência roguelite ágil e fazendo o jogador escolher o tempo todo entre cartas da sua coleção, conforme as coleta pelo cenário e/ou com comerciantes, além de variadas armas com ou sem poderes especiais.
O jogo ainda conta com minigames desbloqueáveis por NPCs, que são passatempos opcionais muito divertidos localizados nas adjacências do culto, como a pesca, o Jogo do Bugalho (jogo de azar com dados) e até uma espécie de máquina caça-níqueis que troca moedas por pontos de devoção.
Roguelite, pero no mucho
A respeito do Cult of the Lamb, podemos ver alguns fatores do gênero roguelite nas suas mecânicas. Ao morrer, você perde todos os recursos adquiridos até o momento da morte na run e, em certa medida, uma quantidade de fé do seu culto. Os mapas de cada dungeon também remetem muito ao gênero, divididos em casas (de 3 a 5, no geral) com loots diferentes entre si, além da casa do chefe, e pequenas salas que servem de arena, geradas proceduralmente a cada run.
Porém, é difícil definir o jogo dentro do gênero roguelike ou roguelite, uma vez que ele impõe pouquíssimos desafios, independentemente da dificuldade escolhida no começo. Roguelites também são sobre muita repetição, perdas relevantes ou punições mais severas e aprimoramento dos buffs, armas, armaduras etc., com certa complexidade nas próximas runs.
Cult of the Lamb, muito embora capture a essência do roguelite com colecionáveis e buffs únicos que dão peso às suas escolhas e nivelam seus poderes, deixa a desejar em desafios e poucos fatores bacanas de replay. Ele nunca deixa de ser viciante pela história central e sua progressão, mas para se tornar mais interessante ainda, poderia oferecer mais desafio no combate e no gerenciamento.
Uma decisão do capeta
Em certos momentos, me deparei com alguns bugs bem chatos, capazes de atrapalhar a jogabilidade (travamento de animações e de algumas arenas), e quedas repentinas de quadros por segundo, especialmente nas proximidades do fim do jogo. No entanto, Cult of the Lamb com certeza me divertiu muito mais do que esperava e ainda deve render algumas boas doses homeopáticas de jogatina. Mesmo após 20 horas de jogo, ele ainda pode oferecer colecionáveis e conquistas sedutoras.
O jogo é, sem dúvida, um dos destaques do ano e tem um conceito genial e muito diferente do que estamos a ver nos videogames. Todas as suas mecânicas postas são tão bem entrelaçadas e fazem muito sentido à jogabilidade que tornam a experiência de jogá-lo muito única e especial. Ele não é perfeito, mas com certeza garante boas horas de diversão e, perigosamente, de vício. Entrar no culto para ajudar Aquele Que Espera é uma ótima escolha de entretenimento atual. E o tinhoso não vai te deixar longe dele tão facilmente, assim como você não vai se afastar.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Cult of the Lamb
Prós
- Jogabilidade muito fluida e simples
- Viciante do início ao final
- Belíssimos gráficos e estilo artístico
- Combate e missões bastante satisfatórios
- Sidequests e minigames interessantes
Contras
- Quedas de frame rate em algumas partes e momentos específicos
- Travamento após algumas animações
- Alguns bugs que atrapalham a jogabilidade
- Poderia oferecer mais desafio e complexidade em suas mecânicas