Depois do belíssimo remake de Wonder Boy The Dragon’s Trap (terceiro título da série, popular aqui no Brasil por conta da versão produzida pela Tec Toy com os personagens da Turma da Mônica), desenvolvido pelo estúdio francês Lizardcube, coube ao estúdio Monkey Craft fazer a releitura do clássico Wonder Boy: Asha in Monster World. Lançado originalmente para o saudoso Mega Drive, em 1994, o título é o sexto jogo da série e chegou a compor uma coletânea lançada para os consoles da sétima geração, em 2007 (Sega Ages). Mas agora ele recebeu uma nova roupagem – fazendo uso de um competente cell shading 2.5D – e foi lançado no último dia 28 de maio.
Desenvolvimento: Monkey Craft
Distribuição: Studioartdink
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Ação, Plataforma
Classificação: Livre
Português: Não
Plataformas: PC, PS4 e Switch
Duração: 5 horas (100%)
Uma fantástica fábula

A história gira em torno de um mal iminente que toma conta de um reino formado por um oásis no deserto, chamado de Rapadangna. Em meio a escuridão que espreita o lugar, uma garotinha de cabelos verdes sente o chamado dos espíritos guardiões, enfraquecidos pelas trevas, clamando por ajuda. Como numa fantástica fábula, Asha assume o papel de heroína junto ao seu amiguinho azul Pepelogoo e cruzará toda Rapadangna para trazer a paz de volta ao lugar.
Toda a direção de arte foca no folclore e nas tradições da Península Arábica pré-islâmica. A ambientação (que parece ter saído de obras como Ali Babá), as roupas e armas utilizadas, o mercador ambulante com seu dromedário, o gênio da lâmpada e tantos outros elementos são referências dessa rica cultura. Ao pegar emprestado traços de uma sociedade moldada pelo patriarcalismo, o protagonismo feminino agrega ainda mais valor à história e se coloca como um grande ponto de diferenciação das tradições do qual se inspira sem, contudo, descaracterizá-la.
O visual de Asha in Monster World é colorido, vibrante e inspirado. Na verdade, ele se apoia na beleza artística do original em pixel art, de 1994, para recriar aquele mundo usando a tecnologia atual. O resultado em cell shading é muito agradável e bonito, parece que estamos jogando um anime interativo, mas esperava algo próximo ao trabalho empreendido pela equipe de desenvolvimento de The Dragon’s Trap, lançado em 2017. Não que isso seja um problema ou que o visual seja feio, longe disso, mas alguns elementos de cenário não ficaram tão bem em 2.5D.
Liberte os espíritos guardiões

Em Asha in Monster World devemos percorrer por estágios diversos para libertar quatro espíritos guardiões: Rotto, Shabo, Hotta e Priscilla. As fases possuem algumas subdivisões, cada uma com progressão ora linear, ora livre e com um level design próprio. Podemos desbravar uma selva, voar pelos céus em tapetes mágicos ou explorar o interior de uma pirâmide antiga. Apesar da variedade, algumas fases tornam-se cansativas por serem longas demais.
A cidade que abriga o castelo da rainha Praprill XIII, funciona como hub para a escolha das fases e um ponto seguro. Dentro dela podemos comprar espadas (ataque), escudos (defesa) e braceletes (energia). Em linhas gerais, o sistema de progressão é bem simples e se dá unicamente através da aquisição desses objetos. Dessa forma, o único jeito de melhorar os poderes de ataque, defesa e energia de nossa heroína é juntando dinheiro – espalhados pelas fases – e comprando os novos armamentos com os mercadores de Rapadangna.
Nossa energia é marcada na tela através de corações. Os mesmos podem ser aumentados de duas formas: com o uso de braceletes mágicos ou encontrando Life Drops espalhados pelas fases. O jogo possui duzentos no total, e quando conseguimos juntar dez, ganhamos um coração extra de energia. Os Life Drops tornam a experiência com o jogo um pouco mais longeva, na medida em que encontrar todos pode acrescentar um pouco mais de desafio.
Uma vez concluída uma fase, podemos revisitá-la a qualquer momento para procurá-los. Da mesma forma, é possível sair dela quando quisermos, solicitando uma carona ao gênio.
Asha e seu amigo Pepelogoo
Para cumprir sua missão, Asha conta com a ajuda de seu amigo azul voador Pepelogoo. O carismático companion – que tem um visual que lembra bastante o visto nas animações do Estúdio Ghibli – acrescenta algumas novas mecânicas ao gameplay. É com ele, por exemplo, que conseguimos dar pulos duplos ou planar pelos cenários. A ajuda do personagem, no entanto, se resume mais na parte de exploração e solução de puzzles do que nos combates em si.
O sistema de combates de Asha in Monster World é uma das poucas coisas que não me agradaram. Por mais que o jogo tenha a proposta de emular boa parte da experiência do clássico dos 16 bits, pelo menos a mecânica de ataque poderia ter sido revista. Não é possível, por exemplo, correr e atacar ao mesmo tempo, e nem há a implementação de combos. O combate, nesse sentido, fica travado e cadenciado demais. Mesmo o inimigo agindo de forma padronizada – que permite decorar a forma como eles se movimentam e atacam – errar o timing na hora de desferir o ataque nos deixa vulneráveis a golpes.
Dito isso, procure sempre abusar dos salvamentos, principalmente se estiver em uma área que não sabe o que esperar ou se estiver com pouca energia. Como o jogo não possui save points automáticos é o jogador que dita quando e onde quer guardar o seu progresso. Se morrer e tiver um Elixir em mãos, Pepelogoo te revive, mas esse é um item que você, com certeza, irá querer guardar para as lutas contra os chefões do jogo.
Respeitando o legado de um clássico
Wonder Boy: Asha in Monster World apresenta uma experiência bem curtinha (leva cerca de cinco horas para ser concluído). A equipe de desenvolvedores buscou atualizar a parte técnica e visual, mantendo algumas das mecânicas do jogo original. Isso pode ser ruim para os jogadores novatos ou bom para aqueles que experimentaram o original lá atrás. Se eu pudesse fazer uma metáfora, diria que se trata de um idoso em um corpo rejuvenescido. Apesar de questionar a escolha de design do jogo (prefiro o de The Dragon’s Trap), o trabalho empreendido nesse remake, como um todo, é digno de nota e respeita o legado do clássico da SEGA.
Obs.: a versão física de Wonder Boy: Asha in Monster World vem, exclusivamente, com o jogo original Monster World IV, publicada pela ININ Games.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami