Onze anos após o lançamento de Diablo III, sua sequência direta chega aos consoles e PC com Diablo IV, mesclando visuais mais sóbrios e realistas com a jogabilidade clássica da série, repleta de sangue, vísceras e matança desenfreada.
Desenvolvimento: Blizzard
Distribuição: Activision-Blizzard
Jogadores: 1-8 (online)
Gênero: Ação, RPG
Classificação: 18
Português: Legendas, Interface e Dublagem
Plataformas: PS5, PS4, Xbox Series X/S, Xbox One, PC
Duração: 26 horas (Campanha)/155 horas (100%)
A filha do Mal
A história de Diablo IV coloca o protagonista criado pelo jogador em uma jornada contra Lilith, filha de Mephisto. O jogo se passa 50 anos após Diablo III: Reaper of Souls, em um Santuário em frangalhos por conta da batalha entre Céu e Inferno, e seus habitantes desolados e desesperançosos. E é assim, nos corações fracos de homens e mulheres, que as artimanhas de Lilith ganham força.
A jornada é repleta de surpresas e desafios, colocando o personagem do jogador e seus aliados à prova em batalhas contra os seguidores de Lilith. Em geral, é uma história satisfatória, e o tom visual mais sério do que o jogo anterior casa bem com essa temática de ódio que brota nos corações das pessoas e da adoração a um ser repugnante.
Montanhas nevadas, platôs, dunas desérticas, pântanos lamacentos e florestas sombrias passam uma aura de morte, com seus vazios preenchidos pelos monstros demoníacos de Lilith. Vilarejos e cidades ainda habitadas por humanos têm um aspecto um pouco mais vivo, mas ainda representam bem a fragilidade humana ante os estragos causados pelo mal maior.
Estruturalmente, Diablo IV é menos interessante do que seu antecessor. Diablo III contava com quatro atos, podendo ir até cinco com sua expansão Reaper of Souls. Cada ato se passava em uma região distinta, com boa variedade de inimigos, ambientações e missões secundárias e eventos em ocasiões aleatórias. Era uma experiência mais linear, mas, graças à randomização de layouts dos mapas e cenários, as partidas variavam a cada jogada.
O jogo atual adota uma estrutura de mundo aberto, com Masmorras e atividades espalhadas por todo o mapa. Embora seja um mapa imenso, a falta de continuidade em algumas ocasiões é bem esquisita. Suponha-se que o jogador entre em uma masmorra que se encontra na região montanhosa nevada. Ao entrar, o jogador se vê em um cenário completamente destoante do que estava anteriormente, como calabouços, prisões, cavernas áridas. Parece chatice com algo tão pequeno, mas é um detalhe que enriqueceria a experiência como um todo, pela atenção ao detalhe.
Protetores de Santuário
DIablo IV conta com cinco classes distintas para escolha. Bárbaro, Mago, Caçador, Druida e Necromante. Cada uma das classes se mostra bastante distinta em sua composição de habilidades e foco de jogabilidade. Bárbaros e Druidas são focados em combates físicos, com habilidades de aumento de dano e defesa físicos para suportarem melhor o calor das batalhas; Magos e Caçadores são proficientes no combate à distância, com magias elementais e flechas imbuídas de malefícios específicos, como veneno, sombra e gelidez; Necromantes, por sua vez, utilizam sua magia obscura para invocar aliados do mundo dos mortos para auxiliá-los em combate.
Ao invés de utilizar Força, Determinação, Destreza e Inteligência para governar os potenciais ofensivos e defensivos de cada classe, como em Diablo III, o jogo atual coloca essas quatro características como benefícios universais, enquanto atributos de equipamentos, habilidades e Pontos de Excelência agem em consonância para moldar as características de cada classe e subclasse que o jogador escolhe.
À título de exemplo, minha Caçadora é focada em ataques à distância velozes, com armadilhas para controle de multidões e fuga rápida em situações de perigo iminente, enquanto utilizo imbuição de Veneno para causar dano contínuo às hostes demoníacas. Todo esse conjunto de potenciais é específico dos itens e habilidades que utilizo e tenho ativos.
A variedade de possibilidades dentro de uma mesma classe é imensa. A mesma Caçadora que mencionei acima poderia ser uma assassina focada em lâminas curtas, ou uma guerreira feroz com lâminas médias e ataques físicos de proximidade. Essa variedade existe não somente pela grande quantidade de habilidades e golpes especiais que cada classe possui em sua árvore de habilidades, mas também pelos Quadros de Excelência desbloqueados após o nível 50.
Ao atingir o nível 50, o jogador pode seguir até o nível 100. Desta vez, no entanto, cada nível desbloqueia três Pontos de Excelência, que podem ser utilizados em quadros especiais com nódulos que melhoram as características passivas do personagem, e, assim, ajudam a moldar sua subclasse e suas características. Dentre nódulos comuns e mágicos, a presença de nódulos raros e lendários é o que define uma subclasse. Felizmente, é possível que o jogador veja todo o quadro antes de decidir gastar seus Pontos de Excelência, a fim de escolher aquele quadro que complementa melhor seu estilo de jogo e que tem uma sinergia maior com as características atuais de seu personagem.
We’re in the Endgame now…
O conteúdo pós-campanha de Diablo IV é curioso. Certas atividades são excelentes, mas o sentimento de que falta algo mais e mais variado é nítido, ao menos para mim. Ao finalizar a história, o jogador pode seguir jogando para completar as Masmorras do jogo, bem como completar atividades chamadas de Sussurro dos Mortos. Há 7 tipos de Sussurros diferentes, que vão desde completar um evento aleatório em alguma região de Santuário ou eliminar uma quantidade determinada de um tipo de inimigo, até completar uma Masmorra específica ou eliminar todos os monstros dentro de um porão amaldiçoado.
Embora as atividades em si sejam variadas, os monstros de Diablo IV não são. Alguns oponentes variam somente pela cor, e vez ou outra um padrão de ataque diferente. E se os inimigos menores causam isso em menor grau, o mesmo não pode ser dito a respeito dos chefes. Diversas Masmorras possuem uma batalha contra um chefe em sua etapa final. Mesmo tendo 115 masmorras diferentes, prepare-se para enfrentar os mesmos chefes a todo momento, cujas diferenças costumam ser um ataque diferente ou a cor do inimigo.
O que faz com que Diablo IV seja viciante é o ciclo em sua jogabilidade: matar hordas de monstros, subir de nível e encontrar equipamentos novos e melhores. Sabe-se que esse é o grande foco de Diablo como franquia e jogo, então há de se esperar certo nível de repetitividade. Mas a falta de criatividade para os chefes é gritante. Para completar, existem apenas três Chefes de Mundo, que aparecem de tempos em tempos em Santuário para que um grupo de jogadores os enfrente. São batalhas grandiosas e desafiadoras, é verdade, mas ter apenas três deles no jogo é pífio.
Uma experiência viciante
Embora a estrutura de mundo aberto e a pouca variedade de chefes sejam pontos negativos para Diablo IV, a grande variedade de classes e subclasses e estilos de jogo que cada conjunto de habilidades e equipamentos proporcionam tornam a experiência espetacular. O tom mais sóbrio e sério do visual casa bem com a temática de sua história. O ciclo de matanças é viciante e apenas as 205 horas que tenho somente com minha Caçadora ainda não são o suficiente para me fazer enjoar. Que venham as temporadas e os novos conteúdos, pois o futuro de Diablo IV parece bastante promissor.
Código de PS5 adquirido pelo autor
Revisão: Julio Pinheiro