Recentemente peguei uma mania bem ruim de ouvir podcast enquanto jogo videogames. Isso é um tanto negativo porque você perde um pouco da experiência desejável para qualquer coisa que exija atenção em linhas de diálogos e afins, mas, por outro lado, acaba sendo bem proveitoso consumir algum conteúdo auditivo enquanto joga um videogame focado em gameplay. E DOOM Eternal entra muito bem neste caso. Quem já não ouviu falar de DOOM? Uma das franquias “pai” do gênero de tiro em primeira pessoa, criada por John Romero e John Carmack, que impressiona por se manter tão relevante mesmo com quase 20 anos de existência.
Recentemente, a série obteve seu glorioso retorno em 2016, com o game denominado apenas DOOM (que muitos agora chamam de DOOM 2016), que agradou muito os críticos e o público de forma geral. Depois do lançamento de DOOM Eternal no início de 2020 para Xbox One, PS4 e PC, a versão para Switch parecia ter sido esquecida pelos desenvolvedores. Eis que no último mês do ano o port finalmente deu as caras e, novamente, mostrou que a Panic Button é uma das empresas mais competentes quando se trata de transportar algum jogo ao híbrido da Nintendo.
Desenvolvimento: id Software
Distribuição: Bethesda
Jogadores: 1 (local) e 1-3 (online)
Gênero: Ação, Tiro
Classificação: 16 anos
Português: Dublagem, legendas e interface
Plataforma: PC, Xbox One, PS4 e Switch
Duração: 13.5 horas (campanha)/24 horas (100%)
História que nada
Sim, existe uma história em DOOM Eternal, assim como em todos os antecessores – por mais que não pareça. O enredo se passa após eventos de DOOM 2016, e o protagonista, chamado popularmente de Slayer, precisa deter os planos que os demônios do inferno têm de destruir a humanidade. Simples assim. E é tudo que você precisa para ingressar neste mundo repleto de sangue e violência descompromissada. Ao longo da campanha, o jogador irá invadir fortalezas inimigas e ir até os confins da casa do capeta para ter sua missão cumprida, acompanhado de uma dublagem fenomenal em português do Brasil.
Entre uma missão e outra, existe uma espaçonave que funciona como uma espécie de hub, para selecionar a próxima fase, rejogar as já completadas, treinar tiro com demônios em uma prisão controlada e até mesmo adquirir itens extras de personalização. Também existe um modo foto para clicar as imagens mais maneiras possíveis, mas que fica disponível só depois do término de uma missão.
Jogabilidade evolutiva
O início é um pouco lento, já que o personagem começa sua jornada sem qualquer armamento ameaçador, habilidade ou modificações. Porém, uma vez que você passa a receber os itens necessários para se tornar uma máquina de destruição, aí é quando as coisas começam a engrenar de verdade. DOOM Eternal apresenta mecânicas de evolução com o passar das missões, sendo possível implementar modificações em seu arsenal de armas, receber habilidades que aumentam muito a mobilidade e adquirir funcionalidades extras. A exploração também é incentivada – tanto horizontal quanto vertical -, já que segredos estão pelos cantos e concedem algumas estatuetas grotescamente fofinhas.
Pequenos robôs com caixas estão espalhados em alguns cenários, e a interação com eles permite com que uma modificação seja adicionada em qualquer Super Arma. Cada uma delas possui 2 tipos de ataques extras diferentes – além do padrão -, que adicionam muito à jogabilidade. A escopeta principal, por exemplo, pode lançar explosivos que grudam em inimigos, ou então se transformar em uma arma semi-automática que dispara sucessivamente. A metralhadora pesada tem a opção de criar um escudo que absorve danos dos demônios por um curto período de tempo, a escopeta serrada possui uma garra que faz o protagonista ser puxado até o inimigo que se encontra na mira, o lança-foguetes pode fazer disparos teleguiados e assim por diante.
Além das modificações em armas, o personagem pode utilizar Runas para comprar características únicas, como câmera lenta ao ficar com apenas 1 ponto de vida, aumentar sua movimentação enquanto está no ar, elevar o tempo que um inimigo perde o equilíbrio e muitos outros elementos que impactam diretamente no gameplay. Já certas habilidades são obtidas de maneira linear com o passar das missões, porque precisam fazer parte do jogo de forma contextual, e entre elas estão o dash e o pulo-duplo. Já na jogabilidade básica, podemos escalar certas paredes com ranhuras e pular de um lugar para outro, agarrando até mesmo nas bordas de superfície como acontecia em DOOM 2016.
Tudo isso pode ser resumido em algo simples: ritmo frenético. DOOM Eternal é um dos jogos mais ágeis que já joguei em toda minha vida, e isso causa até mesmo um pouco de confusão em certos momentos. Se optar pela dificuldade normal, certamente muitas vezes você verá a imagem de Game Over em sua tela, mas mesmo assim a vontade é de tentar novamente, e isso é facilitado graças ao curto loading para retornar – mesmo na versão de Switch.
Como não podia faltar, a excelente trilha sonora de metal pesado de Mick Gordon acompanha seus ouvidos em toda a trajetória, o que soma demais à experiência completamente brutal que DOOM Eternal deseja passar – sem perder, muitas vezes, o clima de galhofa. Despedaçar criaturas infernais, usar seus próprios corpos para dilacerar seus órgãos e entregar um Soco Glorioso na fuça é uma das sensações mais prazerosas possíveis em videogames, garanto. Como se não bastasse, também há equipamentos secundários para serem usados nos confrontos, o lança-chamas e a granada, que pode ser alternada entre explosiva e congelante.
Muitas das vezes seu Slayer ficará sem munição, mas o jogo sabe muito bem como criar amarras na jogabilidade que casam muito bem: para restaurar suas balas, basta cortar seus inimigos ao meio utilizando a motosserra. Esta arma secundária utiliza combustíveis para alimentar os slots adicionais, mas sempre será restaurada naturalmente caso fique sem uso por alguns segundos. Com isso, existe uma sequência muito boa de ataque de curta distância que concede o necessário para as armas realmente potentes, fazendo com que a motosserra seja um quebra-galho bastante eficiente.
Excelente online, mas clama por variedade
Por mais que a campanha tenha uma longevidade absurda e permita jogar novamente todas as missões passadas, DOOM Eternal possui um multiplayer online muito competente. Nele, um grupo de até 3 pessoas se enfrentam em partidas públicas ou privadas, em que dois jogadores ficam no time dos demônios e apenas um controla o Slayer. O objetivo é simplesmente eliminar o time adversário, adquirindo uma vantagem à sua escolha por round, sendo que o Slayer possui todas as habilidades e armas existentes na história principal, enquanto que os demônios são dotados de poderes próprios – além de movimentação diferenciada – como invocação de minions e outras criaturas que enfrentamos na campanha.
O modo online é extremamente divertido e dá um bom número de opções para aqueles que desejam se aventurar na pele das criaturas infernais. Mesmo assim, é fato que poderiam ter criado uma variedade maior de modos, como enfrentamento de hordas ou qualquer outro tipo de jogabilidade cooperativa online. Um jogo para apenas três pessoas também não é lá muito convidativo, ainda mais pelo fato de que não existe crossplay entre as versões de DOOM Eternal nas outras plataformas. Seu save também não poderá ser carregado, caso já tenha terminado o jogo em outros consoles, o que é uma pena e chega a ser engraçado visto que há uma exigência em vincular sua conta Bethesda ao jogo, para guardar seus itens de personalização e nível.
Como um extra, existem desafios semanais e diários que exigem a conexão constante à internet, que quando cumpridos concedem mais personalizações para seu perfil no multiplayer online. Quem não quer um título ameaçador como “Portador dos presentes”?
O “milagre” da Panic Button
Como já era de se esperar, a Panic Button fez novamente um excelente port da série DOOM para o Switch. Considerando os limites de hardware do console da Nintendo, o jogo possui uma estabilidade fenomenal em 30 fps, não deixando a “peteca” cair em momento algum. E isso acontece até em momentos com muito elemento visual na tela, inimigos em grande quantidade e tudo acontecendo ao mesmo tempo. Seria mágica? Que nada, apenas uma empresa competente que sabe o que é necessário ajustar para que isso seja possível.
Em ambientes externos os defeitos ficam mais aparentes e a resolução cai, devido ao tamanho do cenário existente na tela. De qualquer forma, apenas objetos mais distantes do campo de visão do jogador perdem muito sua resolução, sombra e qualidade gráfica, mantendo o visual mais bonito em curtas distâncias. Mas, calma, não espere nada à altura de um Xbox One, PS4 e muito menos PC. DOOM Eternal não é exatamente bonito na versão de Switch, muito menos no borrado modo portátil. É bem mais indicado experienciar na TV se você for do tipo mais exigente, já que a diferença é gritante e os demônios são bem menos borrados. Mesmo assim, jogar com o console todo nas mãos é satisfatório, mas carece de beleza – já sabemos que a culpa é do Switch. Ah, e o diferencial fica por conta do sensor de movimentos para ajudar na mira.
O bom e velho videogame
DOOM Eternal é um excelente jogo, e provavelmente o melhor que tive a oportunidade de testar esse ano. Há momentos na vida em que não quero nada complexo para desvendar, muito menos uma história que me exija atenção. O último título da saga DOOM é exatamente isso: pegar e jogar, para se desestressar completamente. Quem não gosta de matar uns demônios de todas as formas possíveis para passar o tempo?
Infelizmente a campanha não é lá tão diversificada, mesmo com vários ambientes diferentes e exploração de cenários. Lá para as últimas fases tudo fica um pouco maçante e acaba sendo meio repetitivo, mas até lá já foram mais de 15h de diversão descompromissada. Já em relação ao multiplayer, é uma boa forma de aumentar a quantidade de horas investidas no game, mas fico no aguardo de novos modos no futuro para agregar ao fator “diversão com amigos”.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami