Já sonhou? Não no sentido de ter um objetivo, mas de só deitar para dormir e viajar para outro mundo? Esses sonhos costumam ser aleatórios, e Dreams of Another é, certamente, uma representação disso. O novo jogo independente criado pela Q-Games, uma parceira de longa data da Sony conhecida pela franquia PixelJunk, tem uma proposta introspectiva e, ao mesmo tempo, excêntrica, com mensagens reflexivas e intrigantes, mas que podem ser esquecidas em meio a um mar de confusão e falta de nexo – assim como os nossos sonhos.
Desenvolvimento: Q-Games Ltd.
Distribuição: Q-Games Ltd.
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura
Classificação: Livre
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS5
Duração: 5 horas (campanha)
Destruindo tudo

Partindo do conceito explorado na obra do filósofo Friedrich Nietzsche de que “não há criação sem destruição”, Dreams of Another tenta subverter a fórmula típica de um shooter em terceira pessoa, transformando a mecânica de atirar, tão comum nos videogames, em algo que não é utilizado para a morte ou para dar fins, mas sim para a criação, novos inícios e caminhos.
O título coloca o jogador no controle de um homem de pijamas que vaga por um mundo repleto de nuvens, as quais precisam ser destruídas para que o protagonista possa seguir adiante nos caminhos que vão sendo revelados. Grande parte do loop de gameplay é centrado em atirar no mapa para explorar as fases, e isso deixa de ser interessante em questão de segundos – embora seja possível desbloquear novas formas de destruir as nuvens, como granadas, além de pequenas melhorias nos atributos do personagem, como a capacidade de se mover mais rapidamente.

Após destruir o mapa, o personagem principal pode interagir com os objetos encontrados e descobrir a história por trás deles – em outros momentos, também precisa atirar nesses objetos para acalmá-los e fazê-los parar de vagar pelo mundo. É tudo meio doido e, às vezes, até engraçado, mas o charme passa rápido, sobrando somente um design confuso, no qual nem mesmo uma linha branca enorme é suficiente para guiar o jogador ao longo das fases.
É confuso

Desenvolvido através do motor gráfico da Unity, Dreams of Another apresenta uma estética chamativa. Os visuais são compostos por pequenos quadradinhos que se movem constantemente, como se fossem uma pixel art de uma escala exagerada, com o complemento das nuvens redondas por todo o mapa.
Mas, ainda assim, tal como os nossos sonhos, esse é um jogo desfocado, com uma campanha que tem uma estrutura, no mínimo, confusa – por exemplo, após encerrar algum acontecimento da trama, o jogador é redirecionado ao menu inicial para recarregar o salvamento e, então, prosseguir em outro ponto, em vez de simplesmente avançar para o próximo evento de forma mais dinâmica e natural.

Dreams of Another foi mais pensado para a realidade virtual do que para telas convencionais, apesar de ter uma gameplay responsiva e uma perspectiva em terceira pessoa que se enquadra bem com o modo padrão. Entretanto, o modo VR (que conta com uma câmera em primeira pessoa) é exclusivo do PlayStation 5 e está ausente da versão para computadores, embora o dispositivo da Sony tenha compatibilidade oficial com a plataforma. É uma limitação injustificável e faz com que o jogo não atinja seu potencial completo no PC por um motivo bastante arbitrário – não há a possibilidade de alternar para a visão alternativa oferecida pelo modo, que seria uma boa opção.
Cansativo
Dreams of Another tem uma proposta única, mas a experiência não é tão interessante quanto os conceitos que os desenvolvedores tentaram explorar. A campanha, no geral, não mostra a que veio, enquanto a jogabilidade, apesar de sua inventividade, se torna cansativa em poucos instantes. É um jogo recomendado apenas para quem tem curiosidade em conhecer esse lado menos bem-sucedido de títulos que fogem do convencional, já que ter ideias “fora da caixa” nem sempre é garantia de sucesso – o que, infelizmente, é uma pena.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno




