Desde seu anúncio na Nintendo Indie World em Agosto, Eastward não saiu da minha mente. O seu visual que se inspira em animes dos anos 90 em conjunto com uma música contagiante fizeram meus olhos brilharem de paixão. Sinceramente, eu nem sequer sabia sobre o que se tratava a trama ou qual era o gênero do game, e tudo o que importava eram os aspectos visuais e sonoros. Para minha surpresa, isso não é tudo o que há de bom em Eastward e, por conta disso, ele é meu indie favorito de 2021.
Desenvolvimento: Pixpil
Distribuição: Chucklefish
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura, RPG
Classificação: 12 anos
Português: Não
Plataformas: PC, Switch
Do marrom ao colorido
Em Eastward, acompanhamos a dupla John e Sam em uma aventura que retrata muitos temas. John é um escavador em uma mina e o primeiro a escavar uma pessoa: Sam. Juntos, os dois vivem em uma pequena sociedade no subsolo chamada Potcrock Isle, onde todos acreditam que o mundo de cima está corrompido pelo Miasma. As gerações passam e nada muda, pois as pessoas continuam nascendo e morrendo ali. Mesmo com pequenos reflexos do Sol, quem acredita em vida acima do solo é considerado louco e é punido, fazendo alusão ao Mito da Caverna.
John é um protagonista de poucas palavras, então toda a comunicação é feita por Sam, que é demasiadamente animada. Por conta desse ânimo e vontade de se provar certa, já que vive dizendo que na superfície tudo é lindo, Sam sobe e John vai atrás. A partir disso, o marrom da terra das minas sai de cena e a beleza de um mundo vivo em cores é apresentada. Assim, se dá o início de uma trama em busca de muitas respostas e que acaba retratando temas como aceitação, descobrimento e paternidade, sendo normalmente expressados pelas distintas personalidades que iremos encontrar.
De médico e louco, todo mundo tem um pouco
Talvez o ponto mais marcante de Eastward, além do visual, são os personagens que conhecemos nessa jornada. Todos são feitos com um humor meia boca que, de tão ruim que é, você acaba rindo. A música tema destes encontros tem grande influência nessa sensação, pois consegue facilmente passar o clima de “o que diabos está acontecendo?”.
Como dito anteriormente, esses personagens carregam consigo características únicas, mas não apenas isso, porque cada um tem um complexo que interfere na jornada de John e Sam. Um bom exemplo disso é Jasper, um ator extremamente medroso e que vive contando firula, mas que vive nos encontrando, sendo surpreendente a sua conclusão. Além dele, há também o prefeito de Potcrock Isle que, por mais que seja um vilão, possui aspectos que trazem empatia em sua ignorância.
No final das contas, Eastward possui muitas personalidades que demonstram estar complexadas pelas suas ideias. Eu poderia dizer que por conta desse constante choque com o diferente de forma tão bruta, o game traz uma reflexão sobre a verdade. Não existe uma forma correta de viver a vida, nada é como uma receita de bolo, e tá tudo bem. Em muitos momentos, mesmo sendo uma garotinha, Sam vai mudando a forma como as pessoas pensam sobre si mesmas, e é uma interação bem legal. No fim, a aventura é longa, mas é facilmente memorável por conta desses aspectos. Porém, não é só na conversa que os problemas são resolvidos.
Nem todo guerreiro usa espada
Eastward pode ser facilmente dividido em dois modos de gameplay: interativa e combate. Na primeira, controlamos apenas John, e algumas vezes a Sam, e a interação com outros NPCs ou mini games é o foco. Porém, em dungeons, o hub muda e é possível trocar entre os dois protagonistas para resolver puzzles e lutar contra inimigos.
Quando estamos mais tranquilos, o modo interativo entra em cena. Nesses momentos é quando a história mais se desenrola, mas também temos a opção de melhorar os equipamentos de John, comprar ingredientes para cozinhar ou jogar Earthborn. Este último que seria uma clara referência a Dragon Quest, sendo um jogo de RPG por turnos que Sam ama. Para melhorar as habilidades dos personagens e vencer o game, é preciso colecionar muitas figuras especiais.
Já no combate as coisas são um pouco mais quentes, tanto que John utiliza uma frigideira como arma, além de outros equipamentos como bombas. Sam não é completamente inútil, pois ela possui poderes que permitem liberar passagem e afastar o Miasma, sendo a origem dessas habilidades um dos mistérios de Eastward. As dungeons seriam os locais de maior desafio, tanto no combate quanto na resolução de quebra-cabeças. No entanto, muitas dessas masmorras são extremamente simples e pouco desafiadoras. Nem mesmo os chefes conseguem aumentar o grau de dificuldade, então, tudo aparenta estar mais focado na história mesmo.
Um hobby apreciado
Pode parecer anti higiênico, mas, com a mesma frigideira que John mata monstros, ele também cozinha. Eastward usufrui de uma mecânica culinária semelhante a The Legend of Zelda: Breath of the Wild, porém, com uma diferença: há ingredientes que podem ser encontrados pelas fases e comprados em lojas. Na hora do MasterChef, podemos fazer as mais diversas misturas e, no final, uma máquina de cassino é apresentada.
Ao girar a máquina de cassino, ingredientes são mostrados e, caso consiga fazer uma dupla ou trio, efeitos especiais são adicionados à comida. Os “rangos” feitos por John podem adicionar mais corações, aumento de força, defesa ou mobilidade temporários. Isso depende muito dos temperos que são utilizados, mas o verdadeiro diferencial fica por conta da sorte mesmo. São muitos pratos para serem descobertos, fazendo da arte de cozinhar uma tarefa bem simples e divertida. Cozinhar é importante em Eastward, pois os saves são feitos em geladeiras que sempre trazem consigo questionamentos existenciais, sendo um complemento aceitável.
Apaixonante e nostálgico
Desde o princípio, Eastward demonstrava ser uma experiência artística deslumbrante e primorosa. No decorrer de toda a jornada de John e Sam, isso foi fortemente reforçado, sem nenhum momento de questionamento. A ambientação semelhante ao Japão visto em animes do anos 90 somada à trilha sonora refletem uma experiência nunca vista antes em jogos – pelo menos não em pixel art. Todavia, Eastward não é só beleza.
A história, recheada de momentos engraçados, mas também com questionamentos importantes retratando alguns temas complexos, é inspiradora. Isso se dá pela forma como Sam lida com as diferenças e as estranhezas dos demais personagens que encontramos no caminho, e como ela consegue mudar suas percepções. No entanto, o enredo aparenta ser o foco completo aqui, tendo em vista os inexistentes momentos de dificuldade encontrados. Portanto, Eastward poderia ser facilmente classificado como uma narrativa de aventura belíssima.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong