Ellipsis (Switch) Toque, explore, sobreviva

Review Ellipsis (Switch) – Toque, explore, sobreviva

Ellipsis constrói em silêncio um universo surpreendente e envolvente inspirado no futurismo dos arcades de décadas atrás. Seus desafios de sobrevivência em fases bidimensionais oferecem em geral uma experiência simples e desafiadora, mas nem sempre o jogo dialoga bem com as especificidades híbridas do Nintendo Switch.

Não é sempre que um jogo recebe um nome tão apropriado. Embora não existam figuras elípticas em Ellipsis, o termo traz alguns significados que ajudam a antever e compreender a experiência geral. A primeira associação é com a geometria que traz um campo semântico apropriado às linhas e figuras geométricas que formam as fases e obstáculos enfrentados. A importância de elipses e seus pontos focais no campo da óptica é apropriada ao percebermos que a matéria prima dos mapas e figuras de Ellipsis é pura luz, com efeitos visuais que lembram lentes e reflexos. Como figura de linguagem, a elipse apresenta uma omissão de termos cujos significados podem ser compreendidos no contexto da comunicação, algo alinhado com a ausência de palavras e instruções explícitas no jogo. Contudo, – como as órbitas planetárias descritas por Kepler, astrônomo alemão que viveu entre os séculos XVI e XVII – elipses não são círculos perfeitos e também trazem a ideia de imperfeição.

Desenvolvimento: Salmi
Distribuição: Silesia Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Puzzle, Ação, Arcade
Classificação: Livre
Português: Não
Plataformas: Switch
Duração: 2.5 horas (campanha)/4 horas (100%)

Silêncios eloquentes

Ellipsis dá o controle imediato ao jogador, que descobre o que deve fazer sem precisar ser ensinado.

O jogo se inicia oferecendo o controle imediato ao jogador. Sem qualquer palavra ou instrução, é possível perceber o objetivo de cada fase. Nesses desafios de tela única, deve-se controlar sua circunferência azul ao longo de um espaço com obstáculos geométricos, buscando estourar, em ordem, cinco bolhas. A princípio, os obstáculos são estacionários e não oferecem grande risco, mas aos poucos são introduzidos outros elementos que não podem ser tocados ou que até mesmo perseguem e atiram no jogador. 

Rapidamente é possível se familiarizar com a variedade de situações e elementos geométricos. Como um organismo que cresce e se desenvolve, o mapa do jogo se desdobra à medida em que cada fase é superada. O jogador acumula gradualmente um repertório de formas de interação e percebe os seres que habitam esse ambiente espacial, futurista e luminoso. 

A falta de informações explícitas não é um problema e colabora para a criação de um ambiente de exploração e descobrimento. O universo aparentemente simples de Ellipsis se mostra complexo, com regras próprias para cada conjunto de fases, e um ecossistema rico de seres e objetos. Ora mais abstratos, ora representativos de naves, automóveis e explosivos, os mundos surpreendem e permitem tanto períodos curtos de jogo quanto sessões mais extensas, sem cansaço. Aliás, o salvamento automático e tempo de carregamento rápido fazem com que  Ellipsis seja sempre uma boa opção no menu do Nintendo Switch, ainda que outros jogos se revezem como os mais acessados no momento.

Cada fase pode ser completada ao se estourar as quatro primeiras bolhas, sendo que a quinta é entendida como um bônus. Também é cinco o máximo de estrelas recebidas em cada fase como forma de classificação. Para conseguir o ranking máximo, é preciso estourar todas as bolhas, absorver os pedaços resultantes e fazer tudo isso respeitando as marcações no contador de tempo. Ainda que, como arcade, a busca pela melhor classificação seja em si uma motivação, o contador total de estrelas que fica aparente no mapa do jogo não parece oferecer outras razões para cumprir cada fase com o ranking máximo. 

Círculos imperfeitos

O mapa do jogo, geométrico e minimalista.

Ellipsis, lançado em 2020 no Nintendo Switch, está disponível desde 2016 para aparelhos Android e iOS, e também possui uma versão para PC. Sua chegada ao sistema da Nintendo, precisou se adaptar à natureza híbrida do console. No modo handheld, a experiência é bastante boa, semelhante aos controles em smartphones. O toque na tela oferece precisão de controle, mas também bloqueia a visão do jogador de parte da tela. Nesse momento, é fácil sentir falta de uma caneta de toque, como a Stylus, presente no WiiU e 3DS. 

O segundo modo de controle pode ser utilizado tanto no modo portátil, quanto conectado à TV. A velocidade do deslocamento na tela é controlada tanto pela amplitude do movimento no joystick, quanto ao se pressionar o botão ZL, que reduz a velocidade do jogador, permitindo movimentos mais cuidadosos. A realização de movimentos precisos pelo joystick é mais difícil e menos intuitiva que o controle por toque. Outro empecilho é o limite de velocidade imposto, inexistente no controle de toque, que torna alguns desafios bastante complicados. Pessoalmente, chego a desconfiar que alcançar a classificação mais alta em algumas fases pode não ser possível com esses controles. Pela possibilidade de alternar entre as formas de controle, Ellipsis oferece uma experiência mais agradável, ainda que não perfeita, no modo portátil.

Experiência desfocada

Ellipsis oferece uma experiência imersiva, mas a experiência talvez seja melhor em outra plataforma.

A adaptação do jogo ao console da Nintendo ainda peca por não internalizar um sistema de conquistas (presente em outras plataformas), que serviria como um incentivo para a busca das classificações máximas e o interesse em retomar o jogo após uma primeira experiência. Se Ellipsis parece simples a princípio, a experiência mostra que ele pode ser imersivo e tecnicamente desafiador. Trazê-lo ao Nintendo Switch foi uma decisão acertada, mas deixa um sabor ligeiramente amargo e a dúvida: será que a experiência não seria melhor se eu tivesse jogado em outra plataforma?

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Ellipsis

7.5

Nota final

7.5/10

Prós

  • Jogabilidade simples mas diversa
  • Grande quantidade de mundos e fases
  • Adequado a sessões de jogo curtas ou longas

Contras

  • Experiência incompleta no modo TV
  • Faltam incentivos para buscar os rankings máximos