Vindo de um mundo de excelentes exemplos de games de terror como Silent Hill e Resident Evil, há tempos espero por um produto do gênero que consiga me surpreender. Talvez o último tenha sido Resident Evil 7, em 2017, ou seja, vários anos atrás. Possivelmente, essa é a prova de que os Survival Horror não são mais algo mainstream como eram no final dos anos 90 e no início dos anos 2000, em que o gênero inundava o PS1 e o PS2. Maid of Sker pode ser considerado um desses títulos modernos que mesclam aventura, furtividade e terror, abusando de jumpscares como um elemento para amedrontar o jogador. Recentemente, o jogo da Whale Interactives recebeu uma atualização para Xbox Series X/S, sendo que há poucos meses também trouxe consigo um modo Challenges, que traz um gostinho a mais para aqueles que já terminaram todo o enredo principal.
Desenvolvimento: Wales Interactive
Distribuição: Wales Interactive
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Terror
Classificação: 18 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: Switch, PC, Xbox One, Xbox Series X/S, PS4 e PS5
Duração: 4.5 horas (campanha)/6.5 horas (100%)
Em busca de Elizabeth
Maid of Sker é uma adaptação da história de um local chamado Sker House, da cidade de Porthcawl, que conta sobre Elizabeth Williams, uma garota dos anos 1700 que se apaixonou por um tocador de harpa chamado Thomas Evans. Porém, o pai de Elizabeth não aceitava o romance do casal e trancou a filha em um quarto da casa, forçando-a a casar-se em um matrimônio arranjado, causando sua morte 9 anos após o casamento. Rumores dizem que o fantasma de Elizabeth assombra a Sker House até os dias de hoje.
Aqui, você é justamente Thomas Evans, que recebe uma carta de Elizabeth com um pedido de socorro. Apesar da história original ser ambientada em 1700 e alguma coisa, Maid of Sker toma a liberdade de trazer os eventos para o século 19. Com isso, Evans vai atrás de sua amada até o Sker Hotel, a fim de resgatá-la. Porém, o protagonista precisará lidar com criaturas chamadas Quiet Ones, que nada mais são do que pessoas que passaram por uma espécie de ritual e agora possuem sacos na cabeça, que soltam grunhidos e vagam por aí.
A jogabilidade é muito parecida com muitos games do mesmo estilo que saíram nos últimos anos. Facilmente consigo me lembrar de Outlast e Amnesia, dois títulos do gênero horror com elementos de aventura, em que não existe uma forma concreta de combater os inimigos, mas apenas meios de evitá-los ou fugir. Outro fator predominante é o jumpscare, uma maneira de tentar assustar o jogador com sons estridentes repentinos e alguma coisa bastante gráfica, causando um “susto”, que não considero exatamente um medo verdadeiro.
Maid of Sker consegue trazer um ambientação digna e levemente assustadora em alguns momentos, mas depois de poucas horas você certamente entenderá as coisas que o jogo fará e o “medo” não será mais um elemento surpresa. Para piorar, tudo é muito escuro e não existe sequer uma lanterna para iluminar o ambiente, algo que seria muito bem-vindo se fosse usado como um extra que atrai inimigos quando usado próximo a eles. Diria que foi um grande desperdício esse de não tirar proveito de um defeito gráfico existente aqui.
Narrativa superficial e jogabilidade rasa
Apesar de uma história interessante, Maid of Sker possui uma narrativa bastante pobre. A forma de transmitir os eventos do jogo é bastante superficial, sendo feita através de telefones e pedaços de papel com anotações. E isso chega a ser lamentável, pois passa uma sensação de que naquele mundo existe apenas o protagonista e os inimigos. Não há cutscenes, apenas momentos in-game em que algo acontece e ficamos sem reação, mostrando alguma cena rápida sem interferência do jogador.
Fora isso, também existem os pontos de salvamento representados pelos gramofones, em que guardamos o progresso e ouvimos gravações do passado de Elizabeth e sua família, principalmente da moça com seu rigoroso pai. Em geral, se você não tiver cabeça para ficar lendo cada bilhete espalhado pelos cenários, a experiência será bem devastada e sua única esperança será imaginar as cutscenes através das gravações. Não consigo culpar aquele que escolher fazer isso, já que soa como bastante preguiçoso contar tudo o que é necessário através de textos e registros em áudio.
Em termos de jogabilidade, há muitas limitações em relação ao tanto de ações que podemos tomar. Evans consegue correr, agachar-se, coletar itens e utilizar frascos de tônico para recuperar sua saúde. A principal mecânica é a de tapar a boca com as mãos para evitar que sua respiração atraia inimigos, já que os Quiet Ones não enxergam e são guiados apenas pelo seu respirar. E não pense que cedo ou tarde surgirá alguma mecânica nova para lhe surpreender, porque ela não existe. Tudo o que você aprende nos primeiros 15 minutos de jogo é aquilo que será usado até o fim. Além disso, não há um feedback visual simbolizando o quanto de barulho pode ser feito ou se o inimigo está quase detectando Evans ou não.
O brilho de Maid of Sker está em seus puzzles. Apesar de não existir uma recompensa estrondosa ou itens consumíveis que possam auxiliar na jornada, já que não se trata de um game de Survival Horror, a resolução de todos eles é até interessante e exige um mínimo de raciocínio, mas não deixam de ser desafios superados em poucos minutos.
Também é possível usar itens do inventário com elementos do cenário, como chaves coletadas para abrir certas portas. Isso causa um pouco de backtracking, que é o processo de ir e voltar várias vezes em locais já visitados, testando chaves, pegando itens importantes e evitando inimigos. Felizmente, existe o mapa para nos orientar e dizer quais ambientes estão trancados ou ainda não foram adentrados.
Atualização da nova geração e modo Challenge
O que me deixou mais ansioso quando soube da atualização, sem dúvidas, foi o modo Challenge. Trata-se de uma forma nova de jogar, com componentes que sequer existem no enredo principal. Aqui, temos 4 níveis diferentes de dificuldade, porém, em todos os cenários o objetivo é o mesmo: fugir e sobreviver. É uma abordagem bem mais interessante do que a jogabilidade principal, já que mescla tiro em primeira pessoa com terror, o que considero uma combinação excelente – vide Resident Evil 7.
Mesmo assim, é um modo confuso que carece bastante de um mapa, além de conter alguns bugs que deixarão você preso em uma parede ou ao lado de um móvel qualquer. Os cenários limitam-se ao hotel e a proposta é bem arcade sem qualquer compromisso de contar alguma história. Apesar de divertido, não existem cutscenes ou algo que dê uma personalidade extra para Maid of Sker. De qualquer forma, me diverti mais aqui do que na história principal.
Para finalizar, é excelente agora poder experienciar Maid of Sker em 60 fps, algo que muda completamente a experiência. Como muitos sabem, 60 quadros por segundo muitas vezes removem o input delay, causando uma resposta praticamente imediata dos comandos pressionados no controle. Com isso, tudo fica mais fluido e mais fácil de controlar, além de aumentar sua precisão ao movimentar a câmera. Diria que este é um elemento que se faz obrigatório em games com câmera em primeira pessoa nos dias de hoje.
O “terror” moderno já deu
Maid of Sker, como já mencionado, faz parte do gênero de terror moderno que tenta mesclar elementos de aventura e furtividade para criar algo… interessante. Isso muitas vezes acaba criando um jogo linear, que finge dar ações reais na mão do jogador, mas o máximo de verdade que isso traz são os momentos de fuga ou outros em que precisamos evitar inimigos silenciosamente. Fora isso, tudo não passa de uma coleta de itens para usar aqui e ali, o que dispensa totalmente a jogabilidade em si. Felizmente temos os puzzles, mas nem de longe eu diria que essa é a peça principal.
O pior de tudo, porém, fica realmente a cargo da narrativa contada por meio dos gramofones com suas gravações, dos telefones em que falamos com Elizabeth e os irritantes pedaços de papel que contêm anotações e estão espalhados por superfícies do jogo todo. O sentimento de estar sozinho em um mundo com monstros cegos é inevitável e constante, e não digo isso em um bom sentido. Maid of Sker carece de alma, personalidade e uma forma melhor de contar sua história, que se mostra interessante, mas desanimadora pelo modo que resolveram contá-la. Ah, não esqueça dos jumpscares.
Cópia de Xbox Series X/S cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami