Você pode nunca ter ouvido falar de Night of the Dead, mas com certeza já jogou esse jogo – ou, pelo menos, algo muito parecido com ele. Criado pela JacktoStudios, o título reúne mecânicas de crafting, tiro, caça, tower defense e sobrevivência em um mundo aberto enorme dominado por zumbis, e a única tarefa é sobreviver pelo maior tempo possível. O game foi lançado em acesso antecipado em 2020 e chegou à sua versão completa só agora, quatro anos depois, trazendo uma experiência genérica e pouco polida.
Desenvolvimento: JacktoStudios
Distribuição: JacktoStudios
Jogadores: 1 (local) e 1-50 (online)
Gênero: Ação, Tiro, RPG
Classificação: 16 anos
Português: Interface
Plataformas: PC
Duração: 23 horas (campanha)
A noite dos mortos
Sem um grande foco numa narrativa, o título põe seus jogadores no papel de um personagem em branco que acorda num bunker, precisando sair desse local e explorar a cidade em busca da cura contra os zumbis. Existem sistemas de construção, de coleta de materiais, de crafting de equipamentos e, claro, de sobrevivência. Matar os infectados libera novos pontos de pesquisas, usados para desbloquear equipamentos melhores – sendo esse um dos principais sistemas de progressão presentes no jogo, que possui diversas missões lineares.
Com objetivos simples, essas pequenas quests guiam os jogadores com sucesso no universo do game, que não coloca ninguém no mapa sem rumo ou ideia do que fazer. Entretanto, a experiência não é muito focada, sendo, acima de tudo, mais um jogo de sobrevivência sem uma identidade própria. Todo o conteúdo único e inovador só aparece na aventura após incontáveis horas jogando algo que já foi feito inúmeras vezes ao longo dos anos.
Mesmo focado numa experiência multiplayer, Night of the Dead funciona bem em seu modo single player, que conta até com a companhia de NPCs que emulam uma jogatina cooperativa. O título pode ser jogado em salas online com até 50 pessoas, sendo essa a maneira ideal de prestigiar a campanha, já que assim o jogo se torna um verdadeiro coop – mas apenas em tese, porque os jogadores podem se unir para atazanar os outros, visto que há um sistema PvP que permite matar humanos e destruir as bases alheias.
Todas as condições das partidas podem ser totalmente personalizadas. É possível criar um save da forma que quiser, alterando diversas variáveis, como a intensidade das ondas dos zumbis (que possuem uma inteligência artificial péssima), o período de spawn dos itens da natureza ou a degradação dos materiais construídos. Também dá para seguir uma das configurações pré-estabelecidas pela equipe de desenvolvimento, que resultam sempre em uma jogabilidade punitiva e satisfatória.
Desleixo técnico
Basicamente, Night of the Dead é um survival como qualquer outro já feito. Porém, o restante do pacote oferecido pela JacktoStudios é decepcionante. A gameplay propriamente dita é excessivamente lenta, uma vez que todas as ações demoram muito para serem realizadas. O suporte ao controle é péssimo, com um esquema confuso e diversos problemas que impedem que os ícones dos botões corretos apareçam na tela. O recomendável é jogar apenas com o mouse e teclado, os quais se comportam adequadamente, mesmo com diversas funcionalidades igualmente esquisitas.
Os visuais são pouco distintivos, pois os desenvolvedores claramente utilizaram recursos prontos disponibilizados pelo marketplace da Unreal Engine, o motor empregado no game. Apesar das texturas estarem numa resolução baixa, os gráficos não são necessariamente feios por causa desse fator, mas são genéricos, justamente porque vários outros jogos também usam esses mesmos materiais fornecidos pela engine.
Contudo, a otimização é horrível. O desempenho é sofrível, com carregamento longos e travamentos ao andar pelo mapa. O uso agressivo de filtros de upscaling gera uma imagem ruim, com uma nitidez exagerada e problemas de rastro, decorrentes exatamente desse uso agressivo. Night of the Dead permite alternar entre uma câmera em terceira pessoa ou uma visão ao estilo de um FPS, mas as animações, em geral, são extremamente robóticas e não ficam agradáveis em nenhum desses modos.
O pior é a tradução em português, marcada por uma infinidade de erros gramaticais. Os textos não fazem sentido e muitos deles nem foram traduzidos, sendo exibidos em francês. Migrar para o inglês é obrigatório para entender alguma coisa, dado que a experiência com a localização no idioma nacional é incompreensível. A interface é poluída e possui uma fonte minúscula, que dificulta a leitura dos textos em resoluções altas. A apresentação, que poderia ser um dos grandes diferenciais de um game como esse, é desleixada e tosca, prejudicando bastante a jogatina – que até diverte, mesmo com todos esses problemas e a falta de inovação em relação a tudo o game que se propõe a fazer.
Não é uma boa alternativa
Night of the Dead nem é tão bom, mas pode entreter por um certo tempo porque acerta na fórmula de um game no estilo survival, mas os controles lentos, a apresentação ruim e a tradução pavorosa transformam a jogatina rapidamente em algo torturante. O problema é que existem vários outros jogos que também acertam nessa mesma fórmula, e muitos deles custam menos do que esse.
Com o fim do período de acesso antecipado, os responsáveis decidiram aumentar o preço do título na Steam para refletir todo o conteúdo adicionado ao longo dos anos, passando de R$ 47 para R$ 88. Neste valor, há alternativas superiores, mais completas e bem feitas dentro desse gênero, e isso torna o jogo da JacktoStudios algo que não vale a pena investir tempo algum.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Night of the Dead
Prós
- Missões guiam bem
- Dificuldade personalizável
Contras
- Jogo genérico
- Performance ruim
- Tradução péssima
