Criado pelo estúdio independente VEA Games, Nikoderiko: The Magical World é um jogo de plataforma relativamente agradável, mas pouco original em tudo que tenta fazer. Lançado inicialmente para consoles em outubro de 2024, o título chega agora ao PC em uma conversão mediana, que poderia ser significativamente melhor em vários aspectos.
Desenvolvimento: VEA Games
Distribuição: Knights Peak, MY.GAMES
Jogadores: 1-2 (local)
Gênero: Plataforma
Classificação: Livre
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, Switch, PS5, Xbox Series X|S
Duração: 7 horas (campanha)
Explorando em 2D e 3D
Na aventura, é preciso controlar Niko e Luna, os protagonistas, em uma jornada por um mundo mágico para recuperar um artefato roubado por Grimbald, o grande vilão a ser derrotado pela dupla. Na prática, Nikoderiko: The Magical World é um Crash Bandicoot legalmente distinto, com inúmeras semelhanças ao clássico produzido pela Naughty Dog.
A gameplay se concentra em atravessar fases enquanto se coleta itens e derrota inimigos, com uma perspectiva lateral combinada com momentos em terceira pessoa, com uma visão dos ambientes em 3D. Apesar de não ser possível controlar a câmera com o analógico nesses trechos específicos, a jogabilidade é funcional. Os controles são familiares e parceiros com outros games do gênero, oferecendo mecânicas responsivas e satisfatórias que indicam que os desenvolvedores replicaram suas inspirações com competência.
A campanha pode ser jogada com até duas pessoas, de forma cooperativa. Entretanto, a opção é restrita para a jogatina local na mesma tela, sem suporte ao multiplayer online – um recurso que certamente se enquadraria dentro da proposta. Embora a narrativa mostre os dois protagonistas juntos, o secundário não aparece no modo single player, nem mesmo como um bot controlado pela inteligência artificial. Esse é um ponto que Nikoderiko deixa a desejar, pois a experiência acaba não sendo uniforme entre os diferentes modos. Jogar sozinho transmite uma sensação de que algo essencial está faltando, reduzindo a interação com uma mecânica que poderia ser essencial.
Mecânicas sem tanto sentido
Um diferencial interessante da gameplay é a presença de um botão que permite invocar pequenos monstros, úteis para atravessar os mapas e derrotar oponentes com mais agilidade. No entanto, eles não possuem uma utilidade real para a jogatina, servindo apenas como uma alternativa para se locomover nas fases – ou seja, há pouca diferença entre explorar a pé ou com uma montaria. Os monstros só desempenham um papel relevante quando surgem de surpresa em cenários pré-definidos, seja para passar por áreas específicas ou enfrentar vilões.
Em relação à dificuldade, Nikoderiko oferece um modo fácil, ideal para a exploração, e o normal, que apresenta desafios maiores. Porém, os encontros contra chefes são simplistas, não importando a opção escolhida, uma vez que o verdadeiro desafio deles está mais na compreensão do design de cada fase do que nos ataques dos inimigos. Basta entender a lógica por trás dos confrontos para avançar na aventura.
A exploração fora do caminho principal, ocasionalmente, é recompensada com o desbloqueio de minigames especiais. Mas, no geral, o jogo é bastante linear e repetitivo. Pelo menos, as fases são curtas e têm um ritmo agradável, e caso o jogador morra, ele retorna a um checkpoint próximo, o que ajuda a evitar frustrações. Por outro lado, não há salvamentos automáticos nas missões, então é necessário retornar ao começo de uma fase se o progresso for interrompido – um detalhe que, sem dúvidas, pode ser um pouco chato.
Problemas técnicos existem
Nikoderiko: The Magical World foi traduzido para português, mas alguns textos ficaram incompletos, especialmente nas configurações – que, por sua vez, trazem pouquíssimas opções técnicas. O título chega ao PC em um estado abaixo de seu potencial, sem compatibilidade com telas ultrawide e com travamentos frequentes durante a exploração dos mapas, além de uma distância de renderização baixa que provoca problemas de pop-in na jogatina.
A estética do jogo é bonita, mas nada original. O design de personagens é excessivamente genérico, parecendo uma espécie de Crash Bandicoot feito pela Vídeo Brinquedo – um estúdio de animação brasileiro que produz filmes perigosamente similares às obras da Disney, Pixar e DreamWorks. As cutscenes são bem animadas, mas elas são prejudicadas por vídeos em baixa qualidade e acabam sendo esquecíveis, já que a narrativa é o aspecto menos cativante do game, que brilha por sua jogabilidade.
O quesito sonoro conta com bons efeitos nos cenários e uma trilha sonora assinada pelo compositor britânico David Wise, conhecido por seu trabalho em outros jogos independentes com a proposta de revitalizar o gênero de plataforma e pela produção das faixas de diversos títulos da franquia Donkey Kong, uma outra inspiração dos desenvolvedores. As músicas são excelentes e combinam com a aventura de Niko e Luna, mas ficam repetitivas com o tempo – uma máxima que, de certa forma, se aplica para Nikoderiko: The Magical World como um todo.
Derivativo demais
Nikoderiko: The Magical World é divertido, mas muito parecido com tudo que já foi feito antes. Portanto, é somente mais um título pouco distintivo em meio a um mar de games similares, embora ainda represente uma entrada válida ao gênero de plataforma. O problema é que muitos jogos do tipo permanecem presos a fórmulas de quase 30 anos atrás, sem se concentrarem em inovar ou em se diferenciar de suas inspirações. Afinal, só revisitar e voltar a um formato que já não possui a mesma relevância que tinha no mercado nem sempre é suficiente por si só.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong