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Review No Place for Bravery (Switch) – Uma busca brutal, bela e humana

No Place for Bravery é o mais novo Souls-like com visão isométrica desenvolvido pelo estúdio brasileiro Glitch Factory. Sem muitas delongas, o título representa tudo aquilo que mais gosto: uma história íntima, combates desafiadores e pixel art de primeira. Diante destas informações, lhes apresento esta primazia que existe no nosso maravilhoso Brasil.

Desenvolvimento: Glitch Factory

Distribuição: Ysbryd Games

Jogadores: 1 (local)

Gênero: Ação, Aventura, RPG 

Classificação: 16 anos

Português: Legendas e interface

Plataformas: PC, Switch

Duração: 8 horas (campanha)

Brutalidade pura

Uma finalização brutal.

A escolha do título No Place for Bravery (Sem Lugar para Bravura) é simples, clara e autoexplicativa. O combate moldado a partir de referências Souls-like, como Sekiro, exemplifica bem o que esperar dessa jornada. A autoconfiança é crucial para enfrentar cada encontro com monstros, mas ser corajoso é trilhar para um suícidio rápido e atroz. Digo isso como um fã de Souls-like, que foi colocado em seu devido lugar ao subestimar os desafios e morrer várias vezes. Mas é válido ressaltar que a Glitch Factory disponibiliza uma customização na dificuldade para quem só quer curtir a história.

A principal problemática de No Place for Bravery não é a estamina, mas muito pelo contrário: ela tem uma regeneração rápida e é pouco gasta. Postura é o tormento de todo ser vivo nesse título brutal, sendo representado por uma barra amarela. Após defender muitos ataques, ela “vai para o brejo” e você fica exposto por tempo suficiente para morrer. Porém, aparar ataques de inimigos causa o mesmo efeito a eles e nos permite finalizá-los.

O estouro do escudo após um ataque ser aparado.

O que incita a brutalidade de No Place for Bravery não é apenas o desejo de seguir em frente. É muito o contrário. Quando quebramos a postura de um inimigo, o estrondo feito é tão prazeroso que a recompensa é uma finalização digna de Mortal Kombat. Isso reforça um desejo contínuo de ser ainda mais brutal, transformando o combate em uma busca por esse sentimento. No entanto, é aqui que mora o perigo, uma vez que somos meros humanos em um mundo tão ríspido quanto nós.

Opressão e humanidade

Thorn com Phid encarando o Hewdyr.
O Hewdyr em… pessoa? Bicho? Ser vivo?

A sensação que tive com a narrativa de No Place for Bravery é a de respirar com dificuldade após ser afogado nessa opressão de brutalidade e perigo. A busca do protagonista, Thorn, é encontrar sua filha, Leaf, que foi raptada por um Hewdyr, ser folclórico e místico do fim dos tempos. Acompanhado por seu filho adotivo, Phid, ele percorre todo mundo de Dewr a procura desse ser e, dependendo das escolhas de quem joga, ele abrirá mão de possibilidades ou será violento nessa busca implacável.

Fiz essa analogia com a respiração porque é notório, do início ao fim, o sofrimento de Thorn. Conforme descobrimos mais sobre o seu passado e aquele mundo, mais somos afogados nessa terra violenta, trágica e, até diria, intolerante. Porém, sempre que nos aproximamos de descobrir algo de Leaf e de ver a relação paterna de Thorn com Phid, uma expiração de esperança e otimismo ocorre.

No Place for Bravery me deixou emotivo, principalmente após descobrir que baseia-se em experiências verídicas. O combate brutal em conjunto com esse mundo sanguinolento facilitou minha afinidade com Thorn e sua redenção. É indispensável a forma como esses dois aspectos são um contraponto que corrobora fortemente com a narrativa e as escolhas. Diante disso, é fácil enxergar a humanidade de Thorn mesmo com tanto sangue nos olhos.

Um afago aos olhos

Thorn na boca de um ser antigo.
Somos minúsculos em Dewr.

Se o combate é brutal e o mundo é muito perigoso, o grande culpado por essa representação é a arte de No Place for Bravery. Mesmo com a pixel art, a Glitch Factory consegue expor a violência visceral em cada finalização. De forma semelhante, a grandiosidade dos locais que viajamos nos oprimem o tempo todo, demonstrando que somos pequenos homens em uma terra gigante.

Os cenários colossais são incrivelmente bonitos e detalhados. Digo isso apesar de não ser um fotógrafo de jogos, mas No Place for Bravery merecia essa apreciação. Entretanto, pela imensidão dos locais e a necessidade de andar muito, a falta de um botão para correr faz falta. A corrida até existe, contudo, só ocorre automaticamente depois de uns segundos e não contínua após fazer qualquer ação. Depois de um tempo, a viagem rápida é liberada, mas não ameniza muito esse problema. 

Assim como os cenários, a trilha sonora também é um maravilha bárbara e lembra bastante as músicas vikings com aqueles “vozeirões” e batidas de tambor. No aspecto artístico, No Place for Bravery não deixa nem um pouco a desejar, embora raramente ocorram alguns pequenos problemas, como personagens presos na parede. Em outro momento, durante a passagem em um local específico, a tela ficou preta e me vi fora do mapa. Essa foi a única vez que precisei reiniciar o jogo.

Pitacos de um fã

Há dois problemas em No Place for Bravery que me desanimaram por se tratar de um Souls-like: progressão e exploração. Aqui não melhoramos os status de Thorn em fogueiras, apesar de orar nelas para salvar e recuperar poções de vida. As melhorias são o desbloqueio de habilidades ativas e passivas para as armas, que precisam de itens específicos espalhados pelo mundo e moedas. Estas que só possuem essa finalidade, além de serem usadas para comprar itens usáveis, que podem ajudar, mas podem ser ignorados.

Caso queira explorar muito, nem sempre essa alternativa será recompensadora. No Place for Bravery permite, após pegar três armas, uma exploração ampla em locais importantes. Porém, eles detém desafios grandes que, às vezes, serão recompensados com moedas ou consumíveis, e não com itens chaves. Se pelo menos pudesse comprá-los por uma quantia exorbitante, seria uma boa alternativa.

Uma jornada importante

No Place for Bravery é mais um título brasileiro recomendado para a maioria, até para aqueles não acostumados com combates difíceis. Ele acerta, basicamente, em tudo ao que se propõe, transmitindo toda a brutalidade e humanidade que existe nesse mundo com a história e a jogabilidade. Porém, a maior excelência sem dúvida alguma é o seu visual. Este que detém um papel essencial para com todo o título, e talvez seja o motivo pelo qual No Place for Bravery fosse tão aguardado e, agora, seja uma jornada emocionante e importante para os brasileiros.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Ailton Bueno

No Place for Bravery

9

Nota final

9.0/10

Prós

  • História sentimental
  • Combate brutal
  • Customização de dificuldade
  • Arte opressiva e colossal
  • Músicas e sons imersivos

Contras

  • Progressão fraca
  • Exploração pouco recompensadora