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Review Northgard (Switch) – RTS de peso

Quando falamos de RTS (jogos de estratégia em tempo real) para Nintendo Switch (ou até mesmo em outros consoles de mesa), fica difícil de pensar em como isso é executado. Vários fatores podem atrapalhar um jogo deste gênero neste console: tamanho da tela, hardware, falta de compatibilidade com mouse e teclado USB, entre outros. Porém, Northgard é um jogo indie muito bem executado e que faz bonito em quase tudo aquilo que tem como proposta.

Desenvolvimento: Shiro Games
Edição: Shiro Games
Jogadores: 1-6 (online)
Gênero: Estratégia, Multiplayer
Classificação indicativa:
10 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, Xbox One e Switch
Duração: 14 horas (campanha)/ 80 horas (100%)

Guerras nórdicas

Northgard é um jogo de estratégia que envolve a cultura nórdica e narrativas excelentes, com uma trama que gira em torno de Rig, o sobrevivente de seu clã e protagonista do jogo, e sua principal missão é vingar a morte de seu pai e a morte dos seus companheiros executados. Ao longo de sua jornada, Rig encontrará várias personalidades e fará diferentes aliados, cada um possuindo características próprias que trazem diversidade à estratégia e treinam o jogador através da própria história. Além da apresentação fantástica que Northgard oferece, é necessário também exaltar as animações de alta qualidade de todos os modelos 3D, excelente ambientação, cenários lindíssimos e trilha sonora de altíssimo bom gosto.

A medida que avançamos na história, liberamos alguns clãs diferentes para utilizar no modo livre disponível no menu principal. Cada clã possui algumas vantagens e desvantagens, então vai de cada um escolher aquele que mais lhe apetecer. Nada disso é uma novidade jamais vista nos jogos concorrentes, mas ponto positivo por conter aspectos que são bem bacanas de ter neste gênero. Sobre os modos de jogo, temos a história principal, o modo-livre (skirmish) e o multiplayer online, que faz uso de servidores de diversas regiões – menos América do Sul – ou então conexão direta peer-to-peer entre dois consoles através da internet.

Características próprias

Uma das premissas de Northgard é explorar novas áreas do jogo e conquistá-las utilizando o recurso “comida”. Sabe aquela névoa que costuma existir em Age of Empires e Warcraft? Aqui não temos isso, mas sim locais completamente escuros (literalmente pretos) que precisam ser descobertos antes de suas unidades pisarem em novas terras. Para isso você precisa treinar alguns exploradores e enviá-los para adentrar nestas áreas escuras. Porém é necessário cuidado, se existirem unidades hostis nestes lugares, há chances de que seus exploradores sejam feridos ou mortos.

O jogo também foge do padrão quando se trata de criar novos “peões”. Chamo de peão aquela unidade mais básica, a qual é necessária para construir, adquirir recursos, cortar lenha, caçar animais, etc. Neste jogo você não pode criar novos peões (chamados aqui de aldeões) o quanto quiser, em vez disso eles são treinados automaticamente na construção central de seu vilarejo (prefeitura) e exigem casas para habitar. Apesar de ser um processo automatizado, é preciso se preocupar com a felicidade geral de seu povo, pois quanto mais alto o medidor ficar, mais rapidamente a construção central treinará estes peões. Consequentemente, quanto mais baixa a felicidade estiver, mais lento o treinamento irá acontecer – ou até mesmo será completamente parado.

Outras mecânicas do jogo lembram um pouco mais os títulos tradicionais de estratégia, como o comércio entre clãs, compra de vantagens utilizando sabedoria, expedições de navios para obtenção de fama, etc.

Complexidade de nível médio

Existem vários pecurialidades que limitam as ações do jogador por aqui, como um número máximo de construções em uma área e limite de trabalhadores por contrução. Estas quantidades podem ser expandidas através do uso de alguns recursos, o que acaba sendo um diferencial – positivo ou negativo – em relação a outros jogos do mesmo gênero que trabalham com ações bem mais permissivas. Veja bem, isso não é uma crítica ao jogo, mas sim uma sinalização para avisar que Northgard não segue mecânicas já vistas na maioria dos RTS, portanto é necessário dizer que a curva de aprendizado aqui é um pouco maior do que o comum.

Outra característica única do jogo é não permitir mandar individualmente seus peões para tarefas específicas, forçando você desatribuir alguma função de um peão para que ele seja encaminhado para o local onde está sendo requisitado trabalho. Portanto é preciso uma atenção maior na hora de gerenciar as prioridades se tratando de qual recurso está mais escasso e precisa de um empenho maior. O jogo também não permite fazer um quadrado de seleção na tela para escolher quais unidades de combate comandar, o que você pode fazer é utilizar o menu de tropas disponíveis e separá-las em grupos e enviar cada uma para um lugar individualmente.

Algo bastante interessante em Northgard são as estações do ano, e antes de chegar o forte inverno você recebe notificações de que a nevasca está chegando para se preparar da melhor forma possível estocando grande quantidade de recursos. Quando o alerta é dado, é extremamente indicado que você eleve ao máximo os níveis de felicidade e comida de sua aldeia, pois o inverno derruba e muito sua capacidade de colheita.

Adaptações para console

Provavelmente a versão de PC (à qual não tive acesso) funciona de forma mais natural por se trata de um jogo com bastante agilidade no uso de teclado + mouse, mas de forma alguma a adaptação de console faz feio. A versão jogada por mim foi a de Nintendo Switch, mas apesar dele disponibilizar funções de toque na tela de forma nativa, a Shiro Games escolheu não incluir nenhum comando que fizesse uso deste recurso.

Mesmo assim as funções são executadas de forma completamente competentes utilizando os botões físicos e a roda de ações, porém leva alguns bons minutos para que a pessoa se acostume e memorize cada uma delas. Uma crítica que preciso fazer é em relação à resolução do jogo na TV, as fontes ficam tão pequenas que jogar numa TV de 42 polegadas se transforma numa tarefa nada prazerosa – por mais próximo que você fique da tela -, então em 99% do tempo joguei no modo portátil do Switch, já na televisão apenas testei por alguns minutos e já senti o incômodo.

Nem tudo é perfeito

Mesmo tendo um recurso interessantíssimo como o multiplayer peer-to-peer, tive problemas com este modo por não conseguir utilizá-lo, em todo momento eu recebia a mensagem de que não foi possível realizar a conexão. Uma pena, pois esta forma de jogar online pra mim é a melhor por conta de sua longevidade. Quando um jogo tem seu modo online baseado em servidores, é esperado que um dia estes serão fechados, mas quando existe a opção de conexão direta entre duas pessoas, a história muda porque nada (a não ser um futuro update) vai impedir duas pessoas de jogarem através da internet.

Tendo conseguido apenas jogar usando os servidores oficias do jogo, constei que a experiência não foi agradável. Houveram desconexão por diversas vezes, input delay e lag, o que comprometeu a experiência e resultou em um combate inacabado entre meu colega e eu porque um de nós caiu – apesar do jogo tentar reconectar automaticamente em seguida.

A versão de Switch traz uma exclusividade ruim, que é a falta de sombras gerais do jogo. Segundo contato que tive com os desenvolvedores, o hardware do Switch contém uma limitação de memória RAM que impede a execução destas sombras, o que obrigou que esta versão fosse “presenteada” – no mau sentido. Como se não bastasse, existe um problema de performance no console da Nintendo, onde o jogo se esforça para alcançar 60fps na câmera mais próxima, mas sofre para manter 30fps na câmera mais distante.

Por fim, o que vai contra meu gosto pessoal é a falta da inclusão de um modo acelerado. O ritmo do jogo não é tão lento assim, mas prefiro quando tenho a opção de jogar de forma mais rápida ou não, e aqui temos apenas a velocidade padrão. Também contatei os criadores para perguntar se havia intenção de lançar uma atualização que adicionasse este recurso, porém disseram que “isso estragaria a experiência que desejaram para Northgard“. Não concordo com essa decisão, pois adicionar a função de aceleração apenas daria mais liberdade para quem está jogando – sem essa de estragar a experiência.

Palavra final

Northgard é um jogo de estratégia em tempo real com várias particularidades, algumas podem afastar aqueles que já estão acostumados com títulos parecidos e ao mesmo tempo cativar outras pessoas. A Shiro Games produziu uma obra-prima do gênero RTS, a qual merece ter destaque e pode até mesmo ser comparada com grandes jogos como Warcraft 3.

Este review foi feito usando uma cópia para Switch cedida pela Shiro Games

Northgard

8

Nota final

8.0/10

Prós

  • Narrativa fantástica
  • Excelente apresentação
  • Animações bem feitíssimas
  • Mecânicas interessantes
  • Multiplayer online

Contras

  • Modo peer-to-peer problemático
  • Sem função de acelerar o jogo
  • Complexidade não é para todos