Lançado originalmente em 2005 na Rússia e em 2006 para o resto do mundo, Pathologic é um clássico jogo de terror psicológico e sobrevivência com visão em primeira pessoa, que nos coloca na pele de um médico no meio de uma terrível epidemia. Por ter sido aclamado pela crítica e recebido diversos prêmios no seu local de origem, em 2015, a Ice-Pick Lodge lançou uma versão definitiva em HD apenas para o PC, não expandindo o público dessa obra incrível. Porém, em 2019, por meio de doações dos fãs a desenvolvedora conseguiu produzir Pathologic 2, uma reimaginação do clássico, e não uma continuação. Portanto, coloque sua máscara de proteção, lave bem suas mãos e venha conhecer essa obra.
Desenvolvimento: Ice-Pick Lodge
Distribuição: tinyBuild
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Terror, RPG
Classificação: 16 anos
Português: Não
Plataformas: PS4, Xbox One e PC
Duração: 28 horas (campanha)/36 horas (100%)
Uma quarentena extrema
O início de Pathologic 2 é o seu final, sendo extremamente emblemático e pouco explicativo, ele deixa inúmeras perguntas sem nenhum sinal de respostas. Tudo começa no dia 12, o último dia para salvar a cidade, em um teatro que serve de hospital para a população. Entre os cômodos do local, encontramos Mark Immortell informando o fiasco em que nossa segunda tentativa resultou, dando a entender que você é um péssimo ator e que tudo não passa de uma mera peça de teatro.
Logo após algumas conversas, o personagem é requisitado na catedral para tomar a decisão sobre o que será feito com a cidade. Ao sair do teatro, a situação vista é lastimável, pois há corpos de pessoas mortas pelo chão, outras estão sendo queimadas vivas pelo exército local, e algumas lutam entre si pela sobrevivência e o caos está plantado, expondo a sua falha em conter a epidemia.
Chegando na catedral, tanto a Inquisidora quanto o Comandante decidem o que será feito para acabar com o contágio da praga: a destruição da cidade. Por final, Mark aparece novamente questionando se gostaríamos de uma segunda chance – ou terceira – voltando 12 dias no passado, sendo devidamente apresentado ao personagem que interpretamos e como ele se meteu nessa terrível situação.
Você interpreta Artemy Burakh – ou Haruspex, no clássico -, um cirurgião da capital, que volta às pressas para sua isolada cidade natal após seu pai, o único médico local, enviar uma carta dizendo que grandes dificuldades irão chegar e que precisará de sua ajuda. Chegando na cidade, logo após descer do trem, três figuras estranhas tentam matar Artemy, pois ele é suspeito de ter derramado o sangue de alguém muito importante. Portanto, o desenrolar de toda narrativa inicia-se aqui, em descobrir quem foi assassinado e conseguir sua inocência de volta.
É inquestionável que o maior ponto positivo de Pathologic 2 é sua trama, pois ela faz o jogador sentir a frustração em ver a vida escorrendo pelas suas mãos. Artemy é apenas um humano que precisa se alimentar, descansar, saciar sua sede e cuidar de sua imunidade, enquanto toda uma cidade depende dele para sobreviver. Tendo isso em vista, temas como humanidade, vida, tempo, ciência e crença são os pilares que constituem a construção narrativa do mundo de Pathologic 2, pois cada um deles possui impacto na maneira como o personagem irá pensar – algo esclarecido mais à frente. Vale apontar também que esse jogo traz reflexões sobre a situação atual do mundo e como esses temas também foram vistos na nossa realidade.
A cognição de um médico
É premeditado que será impossível salvar a todos, e consequentemente personagens irão morrer, seja pela má utilização do tempo, cansaço ou a falta de recursos. Por conta disso, dependendo da sua eficácia médica, alguns distritos da cidade irão odiar ou se importar com Artemy, modificando a forma como será tratado pelas ruas. Isso demonstra como a sociedade do jogo é viva, nos levando aos Pensamentos, uma mecânica bem importante.
Os Pensamentos de Artemy são como teias de aranha com missões e acontecimentos que ele possui conhecimento, mas é impossível saber de tudo. A cidade é um local grande, com ocorrências a todo momento que aparecem em horários específicos, possuindo um limite de tempo para interação. Portanto, há a possibilidade de perder algo único por não estar no local certo na hora certa, podendo ser a compra de um item, uma explicação importante ou uma informação muito útil.
Outra maneira de saber mais sobre o que a sociedade esconde é conversando com os NPCs, algo constante do início ao fim de Pathologic 2, trazendo centenas – talvez milhares – de textos que devem ser lidos. É de exímia importância – sério, é a coisa mais importante do jogo – ler e escolher seus diálogos, pois o maior inimigo é o tempo e não se pode perdê-lo com conversas ínfimas, necessitando de atenção ao escolher com quem conversar e o que será dito. Infelizmente não há legendas em português para os consoles, e Pathologic 2 possui um inglês um pouco complicado com algumas palavras em russo, podendo frustrar quem não possui tanto conhecimento. Já para o pessoal do PC, existe uma tradução disponibilizada feita por um fã – valeu, Rato Profeta.
Simulação de médico
Essa é certamente uma parte fundamental da jogabilidade e também a mais frustrante. Fazer diagnósticos, cirurgias ou remédios não são complexos, porém é necessário ter materiais de boa qualidade e recursos, o que é bem escasso. Levando em consideração a amplitude da cidade e as muitas residências existentes nela, o jogador é obrigado a explorar muitos locais para encontrar utensílios importantes. Caso não encontre, ainda é possível comprar itens nas lojas especializadas ou fazer trocas com os NPCs.
Dando maior atenção aos deveres de um médico, os diagnósticos são feitos com amplificadores de imunidade que apontam o local onde a praga está afetando o paciente, podendo ser nos nervos, ossos ou sangue. Após o diagnóstico, é necessário dar um antibiótico e esperar que um milagre aconteça. Por outro lado, as cirurgias são feitas em último caso, podendo ser realizada em corpos mortos para a retirada de sangue e órgãos, que servem para confecção de novos remédios.
Um teste de paciência
Os gráficos de Pathologic 2 não são o seu ponto forte, pois são bem simples e não demonstram ter um grande peso. São raros os momentos em que uma quantidade de NPCs ficam juntos e as residências possuem poucas características próprias. Levando esses dois fatores em consideração é de se esperar que telas de carregamento sejam raras e rápidas, mas ocorre totalmente o contrário.
Passar de um distrito para o outro, entrar em uma casa, iniciar um diálogo ou abrir o mapa podem fazer com que ocorra um loading. O maior problema é que esse loading pode levar entre 5 e 40 segundos para qualquer uma dessas situações, fora o inicial que pode te fazer esperar mais de 1 minuto para gerar todo o mapa do jogo. O ponto positivo é que dá para responder aquela mensagem no celular, ir ao banheiro ou preparar um lanchinho. Durante todo esse teste de paciência, Pathologic 2 deu crash duas vezes, aparentando estar mal polido e precisando de maior atenção nesses detalhes.
Uma obra para poucos
Pathologic 2 é um jogo incrível para os amantes de uma boa narrativa, exprimindo imensa profundidade em temas importantes e que facilitam a imersão do jogador. Porém, para os demais será uma experiência de muito conflito, por possuir uma jogabilidade que frustra com o mínimo erro e não ser muito ativo. Desde o início é aconselhado que se jogue na máxima dificuldade e isso, com toda certeza, é um diferencial para receber uma melhor imersão ao tormento que será experienciado. Mesmo sendo uma obra que prende o jogador a todo momento, as constantes telas de carregamento e os travamentos que ocorrem regularmente podem estragar toda a experiência, sendo necessária muita paciência. Aconselho que, caso tenha interesse em Pathologic 2 e não possua um inglês de nível intermediário, jogue com um tradutor do lado ou obtenha a versão de PC com tradução disponível – ou até mesmo opte pelo clássico.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong