Capa de Punhos de Repúdio

Review Punhos de Repúdio (PC) – Porradaria consciente

Embarque num beat ’em up arcade brasileiro de muito respeito que não deixa de lado o bom humor: Punhos de Repúdio, ou Pulling no Punches (título do exterior). O novo jogo da BrainDead Broccoli nasceu graças a uma campanha no Catarse super bem sucedida em meio a períodos turbulentos do nosso país, e representa essa realidade com uma paródia bastante crítica, repleta de signos reconhecíveis e dignos de aplausos de quem soube manter os pés no chão nos últimos anos.

Desenvolvimento: BrainDead Broccoli

Distribuição: BrainDead Broccoli

Jogadores: 1-4 (local) 

Gênero: Ação, Arcade, Luta

Classificação: 14 anos

Português: Interface e Legendas

Plataformas: PC

Duração: Sem registros

Cenário trágico e o fio de esperança

Não há nada como ir ao mercado da esquina com todas as proteções necessárias em 2021, como máscara cirúrgica ou PFF2, talvez algumas luvas, álcool em gel e, claro, mantendo sempre o distanciamento social. O duro dever da vida adulta se torna pior ao se deparar com pessoas que parecem relaxadas quanto a essa calamidade global, conversando e se aproximando sem qualquer proteção contra o letal vírus da Covid-19. No jogo, a representação é claríssima: essas pessoas usam camisas da seleção brasileira e têm um semblante muito agressivo.

Eis que, em Punhos de Repúdio, seu objetivo é unicamente combater os tais “bolsominions”, baladeiros de plantão, tiozões do “zap”, pais e mães da tal família tradicional brasileira, pastores endiabrados e fiéis corruptos de certas igrejas, entre outros muitos tipos de inimigos criativamente imaginados. Eles representam abertamente pessoas arrogantes do nosso difícil cotidiano atual, promovido caoticamente por um líder federal psicopata e nem um pouco amigável. 

Screenshot de Punhos de Repúdio - Os detalhes dos cenários são impressionantes e evidenciam delírios vividos durante a pandemia no Brasil

As artes de Punhos de Repúdio são incríveis, com cenários repletos de detalhes originalmente brasileiros, que muitos de nós entendemos de bate-pronto. É possível encontrar bares com litrões nas mesas e cadeiras de plástico, hamburguerias modernas, papéis e placas de protestos de negacionistas e terraplanistas, mercados com cartazes amarelos e quadros de falsos pastores e heróis. Esse ponto do jogo é um dos destaques, pois é visualmente absurdo de bom e de cômico.

Além disso, as personagens Laura, Nina, Olga e Lola são muito bem construídas, mesmo que sem falas no jogo inteiro, e representam diferentes tipos de personalidades femininas brasileiras. Sua jogabilidade muda bastante na escolha de uma para outra e é muito divertido testar cada uma delas com os buffs das cantinas mais próximas no mapa de navegação entre as fases e, claro, no meio da porradaria urbana em que estão inseridas para salvar o país, embora exijam muita adaptabilidade ao longo da jogatina. Mais divertido ainda deve ficar ao jogar com até 3 amigos no multiplayer local.

Quebrando tudo e – quase – todos

O que seus cenários tem de belos e bem detalhados, eles têm de destrutivos. Em Punhos de Repúdio, há alguns sprites e elementos únicos que corroboram para sua narrativa e podem gerar itens úteis a serem usados como armas ou como cura da personagem escolhida. Por exemplo, as caixas do “SOS” para conseguir itens médicos e de vidas extras.

As protagonistas avançam pelos cenários e encaram os absurdos que a sociedade brasileira viveu nos últimos anos, cheia de negacionismo, agressividade, demonização e politização à moda genocida. Logo, elas enfrentam, com seus punhos de repúdio, bolsominions, demônios, militares e chefes extremamente criativos, como Michael Douglas, baladeiro de plantão alucinado pelo álcool. 

Os gráficos cartunescos corroboram muito para essa sua bravura, enfrentando inimigos grotescos e repugnantes. E tudo acontece sempre num estilo bem único de traço e de pintura digital, o que dá uma satisfação tremenda ao progredir nessa infame – e interessante – narrativa. Afinal, quem não gostaria de uma válvula de escape como essa? Poder bater à vontade em cúmplices da morte e/ou da ruína de seus familiares, amigos ou de si próprio?! Sim, com certeza (risos de nervoso).

Pow! Kapow! Smash!

Bater em mini representações daquilo que – infelizmente – ainda são abominações políticas do Brasil é satisfatório até demais, sustentado sobre uma progressão de habilidades, repetições e golpes bem satisfatória. Também foi difícil não dar risadas genuínas com toda a criatividade presente nesse beat ’em up de apenas 4 capítulos que registram com bastante coragem um período histórico tão delicado e peculiar do país.

Punhos de Repúdio acerta em cheio no seu propósito de crítica social e gráficos bastante únicos, que lembram zines brasileiros, mas parece um pouco imaturo para algumas mecânicas travadas de luta. Especialmente em relação a alguns inimigos mais difíceis, os quais têm seu raio de acerto pouco polido, não dando espaço para ataques agressivos e reativos. Mesmo assim, ele é um produto sem igual que entrega muita diversão em pouquíssimo tempo e um fator replay minimamente agradável, principalmente se jogado em duas ou mais pessoas. Já a sua companhia remota ou presencial… bem, é melhor escolher muito bem antes de jogar.

Cópia de PC cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Punhos de Repúdio

8.5

nota final

8.5/10

Prós

  • Cenários muito lindos
  • Muitas referências brasileiras
  • Jogabilidade divertida
  • Narrativa e temáticas bem humoradas
  • Cumpre muito bem o que propõe entregar

Contras

  • Muitos inimigos exigem muita precisão ao golpear
  • O jogo é bastante curto
  • Curva de aprendizado meio longa para cada personagem
  • Pouca diversificação e modificação no replay das fases