Histórias de super-heróis sempre foram muito famosas antes mesmo de chegarem à TV e a coisa realmente explodiu com os grandes sucessos cinematográficos e hoje faz parte do conhecimento dos jovens – e até dos mais velhos. Sentinels of Freedom é um RPG tático em que controlamos uma equipe de heróis diferentes daqueles já conhecidos, portanto, não espere um Batman ou Homem de Ferro. Mas ainda assim é possível ver alguns com suas individualidades.
Desenvolvimento: Underbite Games
Distribuição: Underbite Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG, Estratégia, Aventura, Tabuleiro
Classificação: 10 anos
Português: Não
Plataformas: PS4, PC, Xbox One e Switch
Duração: 14 horas (campanha)/15 horas (100%)
The Flash contando história
Sentinels of Freedom se aproveita do método original utilizado para colocar os heróis na boca do povo: as histórias em quadrinhos. De início parece ser uma boa jogada, visto que super-heróis e HQs são uma junção positiva. Após um tempo, percebi ter mudado completamente de ideia, pois havia se tornado algo cansativo e excessivo. A quantidade de textos não é enorme, mas explica pouco, com diálogos pífios e que não agregam tanto. O maior dos problemas é, sem sombra de dúvidas, a falta de legendas em português, o que poderia diminuir esse cansaço.
O tutorial é a porta de entrada para toda a história. Começamos controlando Wraith, uma aspirante à Batman que utiliza de bugigangas e combate corpo-a-corpo. Após alguns combates, somos informados que um banco em Metropolis está sendo invadido. Encontramos com Bunker, que é quase um tanque de guerra, e Tachyon, uma velocista, e então o dever nos chama. Durante o combate para adentrar o banco e conseguir acabar com os vilões, as coisas se complicam com civis feridos necessitando de ajuda e muitos inimigos ao redor, os heróis se vêem em apuros, até que “bum”: um herói chega e salva a todos.
O enredo de Sentinels of Freedom está longe de ser uma obra-prima. Ela é extremamente rápida e direta e, quando se dá conta, já terminou. A história vai se passando conforme fazemos missões e novos heróis aparecem sem muita explicação. É possível encontrar mais informações sobre eles? Sim! Existe uma seção no quartel general com um compêndio explicando tudo, mas em forma de textos razoavelmente grandes e com letras miúdas, o que dificulta a leitura mesmo no console. Portanto, uma maior profundidade, tanto no enredo quanto nos personagens, faz muita falta. Eles aparecem ajudando a equipe e pronto: já fazem parte do time. Agora vai lá e leia sobre eles – essa é a ideia que tive quando me interessei por um deles.
Você pode ser um herói
A grande surpresa em Sentinel of Freedom, de fato, é poder criar seu próprio herói, mas isso vai além da aparência. Podemos escolher estilos de poderes, sendo 2 deles constantemente utilizados, cada qual trazendo habilidades ativas e passivas. Há também a possibilidade de ajustar alguns atributos próprios do herói, podendo escolher o background (história do personagem), personalidade e origens do poder. Essas escolhas influenciam em porcentagens como vida, sincronização com outros heróis, vigilância (estar atento durante as batalhas), entre outros.
Mesmo tendo deixado a customização de lado, ela não é rica em detalhes, mas mantém o nível adequado. Fora o já conhecido de sempre como cabelo, pele, rosto, olhos e a variação de cores, ainda é possível escolher a roupa do herói e o visual das armas. Dando maior atenção às roupas, podemos escolher entre armaduras, ombreiras (de cada lado), máscaras, botas, acessórios, luvas e um símbolo característico, todos possuindo variações. O nível não decai quando se trata das armas, e caso utilize armas de fogo é possível escolher alguns estilos, desde revólveres até futuristas, em que os sons e as cores do disparo podem ser modificados – o mesmo serve para as armas brancas.
Sinceramente? A criação e customização de um herói é o que há de melhor em Sentinels of Freedom. Ela foi surpreendente, pois eu não esperava ser algo ótimo. Na realidade, nem sabia que existia. No final da criação, acabei sem querer criando um quase Capuz Vermelho (um dos Robins do Batman), mas com um capacete azul. Faltou criatividade com toda certeza, mas fiquei muito satisfeito com o resultado. Vale ressaltar e finalizar que as possibilidades de novas combinações são grandes, mas não possuem impacto na gameplay.
A melhor defesa é o ataque
O sistema tático de Sentinels of Freedom é bem padrão e não apresenta muitas diferenças ou inovações de outros jogos do gênero. Cada personagem possui uma quantidade de AP (pontos de ação) que definem o quanto cada um pode se mover ou quais habilidades poderá usar. Ademais, há uma singela barra embaixo do cursor que simboliza a movimentação do herói dependendo da sua velocidade. Por exemplo, Tachyon é uma velocista, sendo assim, essa barra é preenchida lentamente fazendo com que ela possa ir bem mais longe. Por outro lado, Bunker é mais pesado, portanto, percorre um curto espaço mesmo possuindo muito AP.
A dificuldade dos combates também é um ponto que deve ser analisado. Em um primeiro momento parece estar atrelada diretamente à quantidade de inimigos, estes que podem chegar a dezenas, mas isso pode ser facilmente contornado com heróis que aplicam dano em área, visto que muitos inimigos são bem fracos. Porém, o que dificulta mesmo – e até cansa – é como as missões são extensas, durando longos períodos pela quantidade de inimigos e a demora em tomarem uma decisão. Além do mais, essa é uma questão inovadora, pois em certos momentos a máquina permanece 5 segundos sem tomar uma atitude, como se estivesse “pensando”. Comumente, em jogos de estratégia é disponibilizado uma opção para acelerar ou pular o turno de inimigos indesejados, como em Sentinels há muitos e a maioria são minions, essa opção faz muita falta.
Ainda sobre a dificuldade, os vilões e seus ajudantes são uma parte fundamental para qualquer história de herói. É inquestionável que eles sejam mais resistentes e escondem cartas na manga, mas isso não os torna um perigo total pois eles também possuem fraquezas. Como todo bom RPG, habilidades ou ações específicas tendem a ter uma maior eficácia nos inimigos, e aqui em Sentinels of Freedom não é diferente. Eu poderia escrever muitos parágrafos explicando como funcionam, pois eles são complexos, tanto que a própria desenvolvedora deixa tabelas explicativas no menu e quando for atacar, mas também é exibido um símbolo em cima de cada inimigo demonstrando se aquela habilidade é boa ou não contra ele. Portanto, do início ao fim, explorei as fraquezas e nem me importei com essas tabelas, e mesmo assim não foi nem um pouco desafiador, fazendo do ataque a melhor defesa.
Quantidade não é qualidade
Sentinels of Freedom ocupa 8.9 GB, o que é muita coisa, mas isso não necessariamente significa excelência. Por mais que alguns cenários sejam bem grandes e estão recheados de objetos que implementam o ambiente, tive uma constante sensação de que faltava maiores detalhes para ser considerado algo realmente bom, portanto, a arte é bem abaixo do esperado. Ainda vale citar que houveram alguns travamentos durante minha jogatina, sendo necessário reiniciar o jogo ou a missão.
É difícil falar qualquer coisa sobre a música de Sentinels of Freedom além de “esquecível”, pois parece que a colocaram ali apenas para dizer que há. O que piora ainda mais são as longas missões, já que pela contínua repetição das músicas tudo se torna ainda mais maçante, chegando a um ponto que você só quer acabar tudo e ir para próxima.
Nem um super-herói salva
Sentinels of Freedom não é um jogo mega ruim, mas dificilmente agradaria com outros do mesmo gênero que fazem muito melhor – XCOM, Into the Breach e Wargroove são alguns deles. O grande ponto positivo é na criação de um herói próprio com as suas preferências. Porém, com tantos outros pontos mais importantes e que influenciam ainda mais em uma melhor jogatina como história, mecânicas diferenciadas e direção de arte, o conteúdo existente aqui não é o suficiente para salvá-lo, podendo deixar os fãs de heróis e de RPGs táticos bem decepcionados.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong