Indicar 13 Sentinels: Aegis Rim é muito fácil, afinal este é um título recomendado por Yoko Taro, diretor do aclamado Nier Automata (2017), e Masahiro Sakurai, conhecido pela direção da franquia Smash Bros. e consequentemente pelo retumbante sucesso de Super Smash Bros. Ultimate (2018). Sakurai, inclusive, chega ao ponto de afirmar não existir “nada parecido com 13 Sentinels (…) e que todo mundo que se importa com narrativa deveria experimentar o jogo”.
É fácil indicar Aegis Rim, pois é possível trazer Taro e Sakurai e apelar para o argumento de autoridade – nesse caso duas baita autoridades. O desafio é explicar o quê exatamente é este jogo e o que há de tão instigante nele.
Desenvolvimento: Vanillaware
Distribuição: Atlus
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Estratégia, Aventura, Visual Novel
Classificação: 12 anos
Português: Não
Plataformas: PS4
Duração: 30 horas (campanha)/ 35 horas (100%)
13 Sentinels: Aegis Rim coloca o jogador no controle de treze personagens em um ambiente de ficção científica, relacionando a cultura popular japonesa e algumas questões sociais centrais do país através da apresentação de diferentes períodos históricos; a guerra em 1945, a modernização e o contato com os Estados Unidos em 1985, o mundo pós-apocalíptico em 2025.
O jogo conecta esses períodos pelo meio da ideia dos sentinelas, mechas gigantes de batalha, e de todo um mistério a ser desenrolado ao longo dos capítulos de cada protagonista, dos arquivos com informações e das batalhas estratégicas em tempo real.
Modos de jogo
Capítulos dos personagens, arquivo e batalhas são exatamente os três “modos de jogo” presentes na tela quando ligamos o título (após alguns prólogos, na verdade). Em cada um desses três ambientes realizamos atividades distintas, porém conectadas entre si e centrais para avançarmos tanto na trama quanto nos combates.
Logo após alguns capítulos introdutórios, desbloqueamos a trama de cada um dos 13 protagonistas. Cada personagem possui múltiplos capítulos e é dada ao jogador a prerrogativa de escolher a ordem de jogo. Sendo assim, na maior parte desse modo é possível descobrir informações em uma sequência diferente, vendo um determinado capítulo com ou sem saber de algum detalhe que alteraria a forma como compreendemos aquela cena.
Em alguns momentos existem capítulos bloqueados, os quais só podem ser acessados após ver uma outra cena em específico, ou até mesmo passar de algum estágio do modo de batalha. O mesmo acontece com as batalhas, ocasionalmente bloqueadas até cumprirmos algum bloco da história.
A trama das memórias
Ao controlarmos os personagens no modo Remembrance, no qual seguimos os capítulos dos protagonistas, é necessário movê-los por entre telas diferentes, interagir com outros personagens, e acessar a “nuvem de pensamentos”, uma teia de palavras-chave que podem nos levar a um desenrolar novo daquele personagem.
É possível que isso se dê apenas por uma ideia mesmo, ou, menos frequentemente, a partir de usar objetos aos quais temos acesso e que podem ser utilizados através da mesma nuvem de pensamentos. Dessa forma, na maior parte desses capítulos dos personagens o trabalho do jogador é justamente conectar ideias a momentos ou personagens específicos.
Ele apenas pincela, em poucos momentos, uma estrutura mais similar a um adventure como, por exemplo Full Throttle ou Grim Fandango, títulos em que a progressão se dá a partir da solução de puzzles principalmente a partir do uso de objetos e da interação correta com NPCs. Isso faz com que 13 Sentinels: Aegis Rim seja até mesmo mais próximo de visual novels, jogos em que, integralmente ou na maior parte do tempo, cabe ao jogador ler, assistir e ouvir as cenas sem outras interações para além do botão de prosseguir para a próxima fala, por exemplo.
Referências e influências
Entretanto, existe sim uma diferença entre alguns cenários. Se em um temos uma narrativa de detetive, em outro somos apresentados à uma espécie de “Dia da Marmota”, uma jornada repetitiva que só vai pra frente a partir de ser resolvida. Há ainda tramas mais focadas em romance, alguns contos de guerra, e outros mais intimamente conectados já logo de cara ao fator de ficção científica de 13 Sentinels.
Nesse sentido, o título dialoga diretamente com diversas obras popularmente conhecidas: E.T, Guerra dos Mundos, Exterminador do Futuro, dentre outras as quais comentar seria cair no campo dos spoilers. Essa relação não é apenas de exaltação, visto que a temática de 13 Sentinels vai também por uma tentativa de examinar a relação com o passado e o que foi criado nele para então pensar o futuro.
Um ponto empolgante de 13 Sentinels: Aegis Rim é justamente como os cenários de cada personagem vão se encontrando e distanciando, fazendo com que vejamos um mesmo momento de perspectivas distintas. Muitas vezes vemos, depois de um novo capítulo com outro protagonista, o momento anterior a um capítulo já conhecido. Isso se dá para irmos compreendendo as relações e também a trama, pois esta é cheia de revelações e twists.
Lembro aqui da forma como o incidente de Nibelheim e contado três vezes ao longo de Final Fantasy VII (1997), ou de como o filme A Criada (2016) desenha a trama a partir da mudança de perspectivas e de quando ou onde chegamos numa cena.
Mechas e Kaijus
Avançar no “modo história” também gera pontos necessários para melhorarmos nossos sentinelas, inclusive conectando, por fim, os modos do ponto de vista narrativo. Aí entra, então, o modo batalha. Aqui temos um jogo de estratégia em tempo real. Vemos um mapa delimitado da cidade, e nosso objetivo é vencer um determinado número de inimigos ou chefes para proteger o centro.
Temos quatro geração de sentinelas divididas entre os 13 personagens jogáveis, e cada uma dessas gerações têm acesso a habilidades distintas. São habilidades que variam entre mísseis, armas automáticas defensivas, golpes corpo-a-corpo, etc. É possível mover nossos sentinelas (alguns são voadores, outros não), e então escolher, em tempo pausado, as habilidades a serem usadas e confirmar qual será a área de efeito delas.
Temos a oportunidade de pensar o combate espacialmente, criando combos entre nossos personagens e agredindo a maior área possível. Outro ponto mais estratégico se dá antes da batalha, já que é necessário escolher até 6 membros para a luta, enquanto os outros ficam ou na reserva ou na defesa. Não é possível usar sempre o mesmo time, visto que os personagens cansam e ficam inutilizados após duas ou três batalhas. Isso é interessante para forçar o jogador a usar diferentes personagens também nos confrontos.
A customização também é algo central em 13 Sentinels: Aegis Rim, pois enfrentar os inimigos sem melhorar os sentinelas e suas habilidades é o caminho certo para a derrota. O lado bom disso tudo é que tanto as batalhas quanto os capítulos da trama dialogam e geram pontos para melhorarmos nossos personagens.
O último modo, Arquivo, é bem importante para ajudar o jogador a rever informações e conceitos e, até mesmo, ter acesso a novos detalhes. É importante, sobretudo, para ajudar a reconstituir a linha do tempo do jogo. Habilitar esses detalhes é possível através de pontos conseguidos justamente no modo batalha.
Uma mistura original
13 Sentinels: Aegis Rim traz um formato interessante de contar sua história; dá agência ao jogador e com essa oportunidade de escolha cria as bases para que o engajamento com cada cena venha de níveis de informação diferentes. Brinca com a conexão entre capítulos e personagens além de dialogar diretamente com os outros modos de jogo. Sua batalha é competente, misturando elementos de estratégia em tempo real com turnos.
Sua trama passeia pela história recente do Japão, bem como por sua relação com a cultura popular e o ocidente. É uma ficção científica cheia de revelações e reviravoltas que examina qual o papel do passado e de seus ecos na construção do futuro. Visualmente estonteante, o título ainda se propõe contar distintos tipos de estórias a partir de seus personagens. Conectando perfeitamente seus três “modos de jogo”, 13 Sentinels é daqueles títulos que não aparecem sempre. Infelizmente.
Esta review foi feita com uma cópia de PS4 obtida pelo redator
Revisão: Jason Ming Hong