AVISO: Informamos que este jogo contém uma breve cena com conteúdo sexual, além de violência gráfica extrema ao longo de toda a sua campanha.
Keiichiro Toyama voltou. O criador de séries renomadas como Silent Hill, Gravity Rush e Siren agora está lançando Slitterhead, o primeiro jogo da Bokeh Game Studio, fundada em 2020 por ex-funcionários da Sony. Mesclando terror com ação, o título foge do convencional ao combinar diversos elementos de gameplay que, embora nem sempre funcionem perfeitamente juntos, resultam em uma experiência interessante, digna de atenção.
Desenvolvimento: Bokeh Game Studio lnc.
Distribuição: Bokeh Game Studio lnc.
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Terror, RPG
Classificação: 18 anos (Violência Extrema, Conteúdo Sexual, Drogas Lícitas)
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, PS5, Xbox Series X|S
Duração: 20 horas (campanha)
Um espírito perdido
Situado nas noites de uma versão ficcional de um distrito de uma Hong Kong dos anos 90, Slitterhead coloca os jogadores no controle de um espírito chamado Hyoki, uma criatura conhecida como Night Owl – ou Coruja da Noite, na tradução. Atormentado por monstros, Hyoki tem um único objetivo: eliminar os Cabeça-Rasgadas, criaturas que se disfarçam de humanos e que aterrorizam a população do local.
A jornada começa quando a entidade conhece Julee, uma mulher em perigo por causa desses monstros e acaba descobrindo ser uma Raridade, e possuir uma afinidade especial com Hyoki, o que a torna capaz de perceber suas ações enquanto ele a influencia. Partindo disso, o espírito se alia a ela e outras Raridades ao longo da campanha para resolver casos sinistros relacionados aos Cabeça-Rasgadas, ao mesmo tempo em que busca respostas sobre sua própria origem.
Apesar da proposta intrigante, o desenvolvimento da história é entediante, confuso e sem muito sentido, especialmente devido à inclusão de loops temporais na trama e pela falta de uma dublagem compreensível nos diálogos. Para receber novas missões e entender o contexto delas, é preciso navegar num menu e assistir a várias cenas curtas, uma de cada vez, o que se torna cansativo e maçante após algumas horas.
Estrutura confusa
Slitterhead é uma experiência baseada em missões, mas sem uma campanha linear, o que resulta em uma narrativa fragmentada e bagunçada. A falta de clareza na organização dos eventos torna complicado acompanhar os casos investigados, que são totalmente diferentes uns dos outros. Essa estrutura também prejudica a progressão, justamente pela necessidade de achar Raridades adicionais em pontos desconhecidos das missões, sem qualquer indicação ou orientação.
As missões, por outro lado, possuem uma estruturação melhor e brilham nas cutscenes, que são eletrizantes e surpreendentes. A maior qualidade de Slitterhead está em sua trilha sonora, composta por Akira Yamaoka. O lendário compositor combina diferentes gêneros com músicas ambientais e eletrônicas, entregando uma atmosfera incrível para a longa campanha, elevando o clima de terror do game, mesmo que o foco não esteja nos sustos.
Entretanto, Slitterhead é um jogo tecnicamente ultrapassado, mesmo considerando seu escopo reduzido. Os visuais são limitados, com modelos e ambientes excessivamente simples que não realçam a excelente direção artística, inspirada principalmente por Parasyte.
Há uma discrepância notável entre a jogatina propriamente dita e as cutscenes, que são exibidas em vídeos pré-renderizados com efeitos mais realísticos e agradáveis. A versão para computadores é particularmente decepcionante, pois é prejudicada por serrilhados, travamentos durante a exploração e crashes constantes entre missões – atrapalhando bastante o que poderia ser uma boa experiência.
Gameplay criativa, mas disfuncional
A gameplay de Slitterhead condiz com a proposta de controlar um espírito, já que boa parte dos objetivos são centrados na travessia pelas fases ao possuir seres vivos – seja “pulando” entre pessoas distintas ou utilizando uma câmera livre para controlar alvos à distância.
Hyoki está sempre acompanhado de uma Raridade, mas há uma necessidade frequente de possuir outras pessoas para avançar na campanha. Perseguir e encontrar Cabeça-Rasgadas pelo mapa também é uma tarefa importante, mas repetitiva, porque as mesmas ações precisam ser realizadas em praticamente todas as missões, várias vezes.
O sistema de combate segue um estilo inspirado nos soulslikes. A jogabilidade é lenta e focada em esquivas e parries, mas se diferencia pela mobilidade que Hyoki tem à disposição, proporcionada por seus poderes. Os humanos se aglomeram durante os confrontos, permitindo ao jogador manipulá-los e usá-los em conjunto com as duas Raridades escolhidas para cada missão. Com isso, é permitido utilizar pessoas como ferramentas de ataque ou distração, colocando um fator tático no game.
As Raridades possuem golpes únicos complementados por um sistema de habilidades ativas e passivas, enquanto os humanos contam apenas com ataques genéricos, mas ainda úteis nas lutas. Planejar o uso dessas skills é vital, uma vez que elas consomem diretamente os pontos de vida de cada personagem, exigindo cuidado para evitar mortes prematuras no decorrer das batalhas.
O jogo, porém, sofre com uma falta de responsividade no combate, consequência direta da escolha de criar algo no estilo dos soulslikes. Além disso, limitações desnecessárias na jogabilidade das Raridades afetam a jogatina – como, por exemplo, a ausência de uma mira para personagens que utilizam armas. Embora apresente ideias criativas e interessantes, a gameplay, no geral, é travada e atrapalha o ritmo da narrativa, sendo esse o ponto alto de Slitterhead, apesar de seus problemas.
Intrigante
Por experimentar com vários elementos e apresentar resultados pouco satisfatórios num conjunto da obra enfadonho, repetitivo e tecnicamente limitado, Slitterhead certamente não agradará a todos. Ainda assim, a experiência merece ser testada pela fascinante criatividade por trás da obra, que tem uma identidade completamente única por causa dessas ideias “fora da caixa”.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: AIlton Bueno