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Review Spider-Man Miles Morales (PS5) – A grande responsabilidade

Disparar teias, lutar contra supervilões, encarar bases cheias de inimigos e ajudar a resgatar gatinhos: a vida de um super-herói não é fácil, mas também nunca foi tão fluida nos consoles como agora no Playstation 5. Spider-Man Miles Morales está para o Spider-Man de 2018 assim como Uncharted – Lost Legacy está para Uncharted 4. Eu explico.

Desenvolvimento: Insomniac Games

Distribuição: Sony Interactive Entertainment

Jogadores: 1 (local)

Gênero: Ação

Classificação: 12 anos

Português: Dublagem, interface e legendas

Plataformas: PS4 e PS5

Duração: 7 horas (campanha)/16 horas (100%)

Miles Morales é o novo amigão da vizinhança
Miles Morales é o novo amigão da vizinhança.

O Espetacular Homem-Aranha

Eu não diria que a nova geração começa cheia de mentiras, mas eu digo que está repleta de meias verdades espalhadas pelo caminho. Quando Spider-Man Miles Morales foi anunciado ao lado de Ratchet and Clank e Horizon: New Forbbiden West, estava subentendido – para não dizer francamente explícito – que esses games seriam exclusivos da nova geração. Durante alguns meses, a Sony brincou com o desespero de sua fanbase ao não revelar o preço do novo hardware, retrocompatibilidade e detalhes dos novos jogos. Quando enfim contou ao mundo quanto custaria, anunciou que seus 113 milhões de usuários não seriam abandonados: o PS4 também receberia parte desses jogos, dentre os quais, Miles Morales.


Há duas versões do jogo, portanto. A do PS4 suporta 30 quadros por segundo (fps) e é tão bonita quanto o primeiro Spider-Man. A versão para PS5 oferece a escolha entre gráficos aprimorados com ray-tracing, que possibilita efeitos e reflexos mais realistas e a opção de performance em 60 fps. Eu optei pelos quadros extras e o visual, ainda assim, não deixa nada a desejar aos espelhos e iluminação definida do modo fidelidade.

Spider-Man Miles Morales é bonito e fluido no Modo Performance.
Spider-Man Miles Morales é bonito e fluido no Modo Performance.

O Aranhaverso

No jogo, Miles Morales é um aprendiz de Homem-Aranha. Vou assumir que você, leitor, vive em uma caverna e não assistiu o Aranhaverso; presumo também que não tenha jogado o primeiro Spider-Man (2018) e evitarei os spoilers – é melhor não comentar a respeito da história, até porque ela segue os tropes das histórias em quadrinhos: uma pessoa comum descobre possuir super-poderes; aprende a lidar com as responsabilidades que acompanham esses poderes; é surpreendido por amigos próximos e faz inimigos no processo; no final da jornada, descobre algo a respeito de si mesmo e cresce pessoalmente, beneficiando aqueles que o cercam.

Como fã do personagem da Marvel, admito que a princípio me causou estranheza a dupla saída do Peter Parker. Esse estranhamento passou com menos de cinco minutos no controle de Miles Morales. Ele é uma versão 2.0 do personagem clássico, com poderes da habilidade Venom que oferecem boa variação no combate. A trilha sonora do Cabeça de Teia também é melhor em relação ao jogo de 2018 – ao contrário daquela, não tem o tom da música heroica, sendo menos cansativa por isso. 

O novo Spider-Man monta em cima dos inimigos.
O novo Spider-Man monta em cima dos inimigos.

Miles é afro-latino, como 24% da população novaiorquina; e como quase 49% da população da Grande Maçã, ele fala outro idioma em casa além do inglês. Essa representatividade demográfica contribui para a percepção de que ele é gente como a gente e consequentemente, permite a identificação do jogador com seu protagonista. Porém, contudo e todavia, a sensação que isso me passou ao longo do jogo é que Miles está mais bem construído do ponto de vista do marketing demográfico do que como, efetivamente, o personagem de uma história. Miles repete muitas das características de Peter, para além do fato de ambos serem órfãos.

Miles também dá as caras sem a máscara.
Miles também dá as caras sem a máscara.

Muito de uma coisa boa

Como alguém que jogou o primeiro Spider-Man em um PS4 Fat, o salto de qualidade gráfica é visível; mas o game já era bonito em 2018. Miles Morales e o ray tracing sobem o nível de detalhes e de beleza, mas não sei até que ponto isso importa muito. A diferença geracional não é impressionante como foi da sexta para a sétima geração de consoles (do Xbox original para o Xbox 360, digamos).

O Modo Foto continua uma diversão à parte.
O Modo Foto continua uma diversão à parte.

O que compreensivelmente nos leva a questionar: é só isso? Gráficos que já eram bonitos agora ainda mais bonitos? Só o passar dos anos pode responder a essa questão. Especificamente em relação a esse título cross-gen, a experiência no Playstation 5 não é a mesma do Playstation 4, a começar pelos 60 fps que fazem muita diferença na hora de balançar pelas teias em NY sem sentir dor de cabeça (quem tem cinetose ou labirintite sabe do que estou falando).

A tecnologia ray tracing é mais visível nos momentos menos dinâmicos.
A tecnologia ray tracing é mais visível nos momentos menos dinâmicos.

Ou seja, os gráficos são apenas uma pequena – mas pequena mesmo – fração dessa avaliação. O controle DualSense e suas sutis vibrações sonoras contribuem para uma experiência diferente, ainda que a presença do controle não seja tão bem explorada quanto em Astro Playroom.

Em relação ao áudio 3D não percebi muita diferença. De toda forma, foi a qualidade da exploração de 3 dos 5 sentidos (tato, visão e audição) e o modo foto que me levaram a seguir jogando, muito mais do que a história ou as missões em si.

Não tentem isso em casa.
Não tentem isso em casa.

Miles Morales, Paparazzo

As diferenças em relação ao Spider-Man (2018) param no áudio 3D, na qualidade gráfica e na resposta tátil do novo controle da Sony. As semelhanças com o título original, porém, não são as melhores.

Primeiro, o título da Insomniac apresenta problemas graves no hardware novo, levando a erros de sistema – no PS4 Fat eu perdi um disco rígido devido aos erros assim que abri a introdução do jogo. No console novo eu tive apenas um travamento, mas jogando no lançamento eu tive que instalar o game duas vezes porque cometi o pecado de ejetar o disco do leitor (o PS5 nas primeiras duas semanas tinha um bug que deletava todos os arquivos de jogo se a mídia fosse ejetada).

O sentido de Aranha quando aparece novo ícone no mapa.
O sentido de Aranha quando aparece novo ícone no mapa.

Segundo, a estrutura dos dois jogos é semelhante: mundo aberto com missões principais, missões secundárias, tarefas, itens a coletar, desafios a cumprir, bases de inimigos a conquistar e áudios a sincronizar (nenhum sentido), além dos crimes aleatórios que ocorrem na cidade. A cada nova introdução tutorial, os ícones pipocam no mapa e a única coisa que isso me despertou foi… fadiga.

Cumprir cada uma dessas missões e tarefas passam uma sensação de trabalho ao jogador, além de dar a impressão de preguiça por parte do desenvolvedor. O PS5 tem um sistema de cards que funcionam como hiperlink: você clica neles e é redirecionado para cada uma dessas coisas específicas. Isso ajuda a cumprir a listinha de tarefas do game, mas não elimina a sensação de trabalho gratuito.

O trabalho de Aranha só acaba quando termina.
O trabalho de Aranha só acaba quando termina.

Último chefe

Quem não jogou o primeiro Spider-Man pode se divertir muito com o jogo: apesar de ser curto, a Insomniac optou por fazer Miles Morales repetir, em escala reduzida, as atividades do Peter Parker. Com a edição Ultimate, você recebe um código para a remasterização do jogo de 2018, que inclui a troca do modelo do Homem-Aranha.

Spider-Man Miles Morales tem características que remetem ao Uncharted – Lost Legacy: a repetição do que deu certo na franquia original, reaproveitando elementos mas trocando protagonistas, tudo isso embalado em um pacote mais enxuto, isto é, uma experiência mais curta em número de horas para testar a aceitação do mercado em relação às trocas de protagonistas. Mas Miles Morales não oferece uma experiência significativamente diferente da original. É mais do mesmo, e que bom se você gostou do mesmo porque é o que você terá, apesar das tecnologias incorporadas.

O poder Venom faz a diferença em combate.
O poder Venom faz a diferença em combate.

Pessoalmente espero que a nova geração que se iniciou traga novos modos de construção dos mundos abertos – não apenas maiores e mais rápidos, sem loadings, mas estruturalmente distintos, abandonando a listinha de tarefas sem graça e seus ícones que poluem o mapa. Os novos equipamentos, tanto da Sony quanto da Microsoft, oferecem novas possibilidades que, provavelmente, só começaremos a vislumbrar com o abandono paulatino dos títulos cross gen.

Até lá, se tiver a chance de experimentar Miles Morales, vai fundo. Mas nunca pelo preço cheio, espere uma promoção. Uncharted – Lost Legacy caiu bastante de preço após alguns meses de lançamento e o mesmo deve acontecer aqui.

Esta review foi feita com uma cópia de PS5 adquirida pela autora

Revisão: Bia Bock

Spider-Man Miles Morales

7.5

7.5/10

Prós

  • Gráficos
  • Trilha Sonora
  • Campanha curta
  • Boa introdução ao personagem novo
  • Modo Foto

Contras

  • Preço de lançamento
  • Miles Morales como aprendiz de Peter Parker
  • Colecionáveis repetitivos