Os jogos de MMORPG talvez sejam os mais sujeitos a riscos nas plataformas por recepção das comunidades, além de serem do gênero mais constante e clássico da indústria. Nunca se sabe quando vão vingar ou não desde o lançamento. Mas quando estes vingam, chegam com tudo. Lost Ark é um sucesso absoluto! Desde seu lançamento na Coreia do Sul, em 2018, ele vem trazendo cada vez mais adeptos e nos continentes ocidentais não está sendo diferente, lotando e sobrecarregando servidores desde sua primeira hora de lançamento.
Até o momento da postagem dessa review, Lost Ark continua dominando no topo dos mais jogados da Steam, segundo o site Steam Database (SteamDB). Apresentando conceitos um tanto inovadores para MMO do seu estilo e porte, o jogo da desenvolvedora sul-coreana publicado pela Amazon Games é realmente promissor e tem agradado muito uma legião de jogadores. Sem dúvida, ele entrega tudo o que promete, se mostrou estar bem melhorado após sua versão beta fechada e ainda oferece muito mais possibilidades ao longo da jogatina. E aí, vamos encarar o mal que se espalhou por Arkesia?
Desenvolvimento: Smilegate RPG
Distribuição: Amazon Games
Jogadores: 1 (local e online)
Gênero: RPG, MMORPG
Classificação: 16 anos
Português: Indisponível
Plataformas: PC
Duração: 38.5 horas (campanha)
Arkesia te aguarda
A história de Lost Ark não é das melhores encontradas por aí, mas nunca deixa a desejar. Realmente, este não é o ponto mais forte do jogo. Porém, é consistente o bastante para engajar e longe de ser vazia, além de apresentar um lore bem extenso e interessante. O único problema aqui é sua falta de granularidade, ou seja, sua história poderia estar muito mais condensada, a fim de poupar o tempo do jogador e focando mais nos aspectos em que o jogo é mais forte e atraente.
Inicialmente, é preciso escolher uma das classes para jogar, que são: Warrior, Martial Artist, Gunner, Mage e Assassin. Todas elas possuem de 2 a 4 subclasses, variando muito entre habilidades de combate, pre-builds e o sexo da(o) personagem. Esse character ocupa um espaço determinado em servidores do jogo, portanto fica restrito jogar com ele(a) nesse mesmo servidor, apenas. Na customização desse(a), as possibilidades de fazê-la são incríveis e bem livres, dando uma gama enorme de cor de pele, olhos, boca, tatuagens, sobrancelhas, armaduras iniciais etc.
Arkesia é o mundo em que todo o enredo se passa. De início, é preciso escolher a subclasse do seu personagem, no Espelho do Mundo, onde é possível testar e visualizar cada atributo dessas subclasses. Com essa funcionalidade, muita praticidade é entregue antes do seu início de gameplay, evidenciando a realidade do game ao disponibilizar até mesmo um gerador de inimigos de vários níveis nesse momento.
Só é estranho se deparar com alguns personagens homens e mulheres que estão disponíveis em subclasses específicas, parecendo que foram selecionadas a dedo pelos desenvolvedores. Consequentemente, as animações e skins de mulheres são muito sexualizadas, o que é bem comum em títulos asiáticos. Logo, fica evidente o quão machista esse tipo de escolha pode ser (e possa refletir a sociedade coreana) atualmente no contexto social em que estamos inseridos.
Sem mais delongas, a trama já se apresenta no rápido tutorial do início, o qual não é recomendável pular. O mundo está repleto de demônios e criaturas estranhas, hostis à humanidade e às raças aliadas. Mas o buraco é mais embaixo: existem clérigos e outras pessoas poderosas corrompidas pelo mal, contribuindo para a disseminação de magias perversas e a reprodução sem fim de mais demônios.
Dada essa realidade, cabe ao(à) protagonista resolver esse cataclisma, o qual se espalha pelo mundo inteiro. Ao longo dessa jornada, alguns NPCs vão ajudar e prover recursos que farão a diferença na evolução dos ambientes e do seu ou sua personagem.
Lost Ark só peca em equilibrar, em certos momentos, a quantidade de missões de conversação com NPCs e de combate. O combate dificilmente fica enjoativo, mesmo se baseando em um clique no mouse e atalhos para as habilidades no teclado, mas as idas e voltas entre um NPC e outro parecem infinitas às vezes. Porém, tais missões também dão um bom fundo e um contexto super coerente às diferentes situações dos mapas.
Mecânicas surpreendentes (ou só renovadas?)
Lost Ark é intensamente baseado em outros MMORPG de alguns anos atrás, então algumas mecânicas são realmente apenas uma reprodução de produtos como os da franquia Diablo, Grim Dawn, Path of Exile, Torchlight etc. Sua renovação talvez esteja na ideia do poder de customização rápida de habilidades, nos vários espaços de builds para forças e fraquezas que são disponibilizados ao jogador e num dinamismo bem satisfatório de história e, principalmente, de combate.
A proposta de combate dele é de ritmo acelerado, ou seja, o jogo não só fica intenso como é mais legal e exige isso do jogador em diversos momentos. Ser rápido significa evoluir rápido e chegar ao level cap depressa. Se auto desafiar significa ganhar loots melhores e estar com equipamentos melhores e em maior quantidade que de outros jogadores do mesmo nível. Essa ideia é muito interessante, pois passa a mensagem de que Lost Ark é acelerado e vai satisfazer em grande medida em pouquíssimo tempo de cliques no controle ou no mouse e teclado, além de se mesclar muito bem com um combate audiovisualmente satisfatório e com uma variedade incrível de inimigos.
Lost Ark é online e lida com quantidades massivas de jogadores ao mesmo tempo, mas é possível jogar completamente sozinho. A campanha solo não deixa de ser interessante e não atrapalha em nada dos outros jogadores, tampouco vice-versa. Apenas o chat aberto na interface pode frustrar um pouco (pois é, a toxicidade da comunidade é muito presente), por isso aconselho a deixá-lo fechado caso não precise de dicas ou vá organizar raids e jogatinas com seus amigos ou simplesmente com pessoas aleatórias em jogo.
As dungeons são incríveis! Elas são mapas curtos e repletos de inimigos desafiadores para se divertir e usufruir 100% das oito habilidades principais alocadas nos botões rápidos. Talvez sejam a parte mais interessante de Lost Ark. Sua dificuldade em qualquer nível é branda e, dependendo da região, o tempo de carregamento do matchmaking é quase instantâneo, além de ser viável fazê-las inteiras em single player também.
Além de quests primárias e secundárias extremamente rápidas de serem concluídas, dá para se perder em diversas mecânicas que são apresentadas com calma e pouco a pouco. Existem sistemas de crafting, de gravuras e status para o/a personagem, de upgrade para armas, dungeons especiais, mercado da comunidade movidos a moedas do jogo e reais (olá, microtransações), de paquera por mimos e habilidades conquistadas exibidas aos NPCs, arenas de PvP, classificações para as raids (de forma a direcionar melhor todos os jogadores), etc.
Enfim, existem múltiplas mecânicas, mas há duas delas que se destacam e podem virar a mesa em algumas situações: o sistema de cartas e construção de decks, adquiridas em mercadores específicos, alguns loots e de chefões; e o sistema de “pedras da resistência” brutas, que podem ser adquiridas de baús de loots ou de chefões também e precisam ser lapidadas num NPC de Luterra, se tornando “pedras do nascimento” e dando atributos positivos e negativos no conjunto de equipamentos.
Lost Ark parece ser infinito, mas vai se organizando quanto mais se joga e se entende sobre seu mundo. Com tantas mecânicas, é difícil se lembrar de todas e manter uma frequência de atualização delas, mas nenhuma surpresa até aqui. Os MMOs são imensos mesmo e isso já era esperado, o que exige muito do jogador em habilidades, memorização e raciocínio analítico, conforme se avança.
Continuidade e infinitude
Mesmo em pouco mais de 30 horas de jogo, parece que arranhei apenas a superfície de Lost Ark. Talvez seja o maior MMO que já joguei. Seu endgame acontece no level cap 50. E mesmo assim, ainda há muito o que fazer e explorar, dado que apenas algumas poucas áreas do seu mapa são concluídas e existe uma infinidade de conteúdo extra.
Durante a evolução, você ganha um Stronghold, uma espécie de cidade a la Age of Empires III e Animal Crossing. Nesse lugar, é possível pesquisar novos equipamentos, artigos e utilidades para o combate e para sua evolução constante. Também é possível fazer expedições com navios e tripulação e conquistar novos itens e moedas de troca (de forma automática, não experienciada), pesquisar objetos para enfeitar essa cidade, conhecimentos de mundo, laboratório e de marcenaria para incrementar a cidade, além de comprar itens exclusivos com comerciantes nômades e possuir um espaço de farming desbloqueável. Lost Ark é um jogo de gerenciamento e estratégia dentro de um MMO, portanto.
Também é possível fazer raids abissais, à medida que se navega pelos mares e explora ilhas, completar quests diárias, fazer outro final (após a história principal) e evoluir o Stronghold e as relações com os NPCs, todas bastante recompensadoras.
Veredito
Lost Ark tem um mundo sem fim para oferecer e é um forte MMO em vários aspectos. Ele acaba sendo repetitivo em quests e em estilo de jogo, sendo muito parecido com seus similares já citados, mas administra bem sua cadência e dá uma dinâmica de combate bastante agradável e missões super rápidas. Para quem curte RPGs, Lost Ark é um prato cheio e farto. Já para quem pretende conhecer o gênero, ele é uma excelente porta de entrada.
Recomendo o jogo por todas as suas virtudes, mas deixo avisado que inevitável e certamente haverá repetição, uma comunidade ainda tóxica e hostil, questões de sexualidade feminina exagerada e certa falta de consistência no design das interfaces. Nada disso poderia estar fora das previsões de algo dessa magnitude. Mesmo assim, vale muito a pena abrir Lost Ark casualmente para jogar algumas quests, percorrer dungeons, conhecer mais da sua história e matar alguns demônios.
Cópia de PC adquirida pelo autor
Revisão: Jason Ming Hong
Lost Ark
Prós
- Dinamismo entre quests e combates
- Cada dungeon é um deleite
- World bosses desafiadores e interessantes
- Recompensas bem justas
- Diversos modos de PvP e PvE
Contras
- Repetição é inevitável
- Personagens sexualizadas
- Mecânicas excessivas
