Taxi Chaos PS4 Capa

Review Taxi Chaos (PS4) – Um sucessor espiritual de tanque vazio

Os táxis amarelinhos já tiveram um lugar especial no imaginário coletivo. Já foi comum pensar na rotina do taxista como uma corrida frenética contra o tempo transportando pessoas dos perfis mais variados até lugares desconhecidos. Acrescente a essa receita o ingrediente de uma metrópole apinhada de gente, e o resultado é pura loucura. Esse era o objetivo de Taxi Chaos, que ganha vida nas mãos da Lion Castle, mas falta combustível para chegar lá.

O jogo ganhou contornos de sucessor espiritual quando a SEGA, que tem o divertido Crazy Taxi entre suas propriedades intelectuais, assumiu o papel de distribuidora do novo título na Ásia. Contudo, assim como os táxis deram lugar a outras formas de transporte compartilhado, a aventura como motorista em uma cidade grande está longe de repetir a saudosa experiência do início dos anos 2000.

Desenvolvimento: Lion Castle
Distribuição: GS2 Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Corrida, Simulação
Classificação: 10 anos
Português: Legendas e interface
Plataforma: PS4, Xbox One e Switch
Duração: 3.5 horas (campanha)

Taxímetro ligado

Vinny e Cleo são visualmente diferentes, mas assim como os carros as escolhas têm pouco impacto na jogabilidade
Vinny e Cleo são os motoristas disponíveis

A proposta de Taxi Chaos é bastante simples. Você deve escolher entre três modos de jogo, dois personagens e sete carros (seis deles começam bloqueados) para levar o maior número possível de passageiros até seus destinos dentro de um período pré-determinado.

Não existe segredo. Um gatilho acelera, outro gatilho freia e um botão pula. Isso mesmo, os carros do jogo são equipados com algum tipo de propulsor – à lá Speed Racer – capaz de lançá-lo pelos ares de acordo com o peso de cada veículo e a pressão aplicada no botão. Em tese, essa adição deveria dar uma nova dimensão à movimentação pela cidade, mas muito disso fica apenas na teoria.

Após algumas voltas pelo mapa é possível reconhecer as construções com telhados desenhados para servir de estradas aéreas. Contudo, alcançar esses pontos nem sempre é intuitivo nem mesmo necessário. Não demora muito para o jogador perceber que optar por esses caminhos pode fazê-lo perder tempo, parecendo mais uma pegadinha dos desenvolvedores do que um atalho.

Uma Nova Iorque genérica

Pontos como a imitação do Central Park são fáceis de reconhecer, mas todo o resto parece genérico
Pontos como o Central Park estão no jogo, mas não espere muito

Outro ponto que torna a busca por caminhos alternativos em algo ineficaz é a Nova Iorque de Taxi Chaos. De volta ao imaginário de décadas passadas, a imagem da Grande Maçã evoca ruas tomadas por engarrafamentos sem fim e uma cacofonia de sirenes, buzinas, obras e motores dos mais variados.

Nada disso está presente nessa nova experiência. A navegação do jogo é feita por meio de um suposto GPS que se limita a uma seta no topo da tela. Enquanto o jogador faz suas corridas, ela alterna direções e cores de acordo com a distância e localização do destino.

Sem mapa, é difícil cravar se as dimensões da metrópole estão minimamente adequadas à massa de prédios real ou mesmo àquela vista em outros jogos. Mais do que isso, é comum encontrar ruas completamente vazias que não oferecem nenhum obstáculo para o taxista apressado atrás do controle.

É ainda pior o fato de que muito da Nova Iorque vista em Taxi Chaos parece genérico. Talvez alguns parques e museus sejam familiares aos nova-iorquinos, mas para todos os demais essa sensação é inexistente. Isso se agrava pelo fato de o jogo sequer fazer piadas com marcas de fast food e outros pontos – como era de se esperar de um jogo que promete caos – para emular a experiência da cidade de verdade.

Levando isso para o “Modo Profissional”, em que o simplório GPS é desativado, o jogador tem um salto de dificuldade irracional. A proposta oficial é usar os outros modos para conhecer melhor a cidade a ponto de ser capaz de alcançar cada destino sem auxílio. Ainda assim, mesmo que a direção de arte de Taxi Chaos entregue uma cidade colorida e bonita, os prédios e até boa parte dos destinos são idênticos e nada marcantes.

Trabalho sem propósito

O método de avaliação das corridas não é nada intuitivo e o dinheiro ganho não pode ser gasto no jogo
As avaliações dos passageiros e o pagamento dizem pouco sobre o desafio

A busca de trabalho com propósito se tornou um chavão do mundo profissional moderno, mas a equipe por trás do jogo não entendeu bem esse conceito. Ainda que cada corrida renda alguns milhares de dólares – andar de táxi é puro luxo – até mesmo todo esse dinheiro não serve para nada.

Em uma mentalidade digna da transposição dos arcades para os consoles caseiros nas décadas de 1980/90, a pontuação em Taxi Chaos é puro fetiche competitivo. Com a conexão pela internet, tudo o que o jogador tem é uma comparação de seus resultados com outros “taxistas” ao redor do mundo.

Enquanto isso, habilitar os outros carros é conseguido pelo simples ato de repetição. Jogue tempo suficiente e cedo ou tarde todas as opções estarão disponíveis. Mas, no fim, isso não fará muita diferença já que as características dos veículos não são sensíveis na jogabilidade, se tornando mera escolha cosmética.

O mesmo vale para os dois personagens disponíveis. Embora Vinny e Cleo sejam visualmente diferentes em certa medida, eles não possuem habilidades próprias e são poucas as linhas de diálogo que distinguem a personalidade dos dois motoristas durante a jogatina.

Na verdade, esse problema também afeta os passageiros. Além da pouca variedade de skins, as vozes e, especialmente, os textos são básicos e repetitivos. Até a disposição e destino escolhidos por cada NPC varia muito pouco mesmo em diferentes partidas. As chances de encontrar um passageiro com destino repetidos no mesmo lugar é enorme.

Seria possível argumentar que isso é um preciosismo, mas não quando um dos desafios em Taxi Chaos é a busca por itens coletáveis. Para habilitar essas missões é necessário concluir corridas com passageiros específicos. A questão é que nada separa esses personagens dos demais, ou seja, é um esforço guiado totalmente pelo acaso.

Sem recompensa, sem diversão

Os itens coletáveis e os passageiros que os habilitam têm pouco destaque e não afetam muito o jogo
Os coletáveis não chamam muito a atenção do jogador

Todos esses elementos resultam em uma experiência linear ao extremo. Embora o jogo sugira que existam recompensas, não é possível dizer que há um caminho a ser seguido simplesmente porque os objetivos se alternam entre repetir partidas ou encontrar NPCs aleatoriamente pelo mapa.

Além disso, é impossível ignorar o pano de fundo para essa busca. A franquia tomada como inspiração era embalada por uma trilha sonora que imprimia ainda mais velocidade ao ambiente insano de dirigir em alta velocidade. Já Taxi Chaos é insosso também em suas músicas instrumentais.

Não que a trilha original seja exatamente ruim. O fato é que há algo de estranho – por falta de palavra melhor – na mixagem final do som. Isso faz com que diálogos, efeitos sonoros, músicas e som do motor – talvez sejam táxis elétricos extremamente silenciosos – se confundam e tirem o brilho um do outro.

É verdade que cada um dos passageiros “únicos” responsáveis por habilitar os itens coletáveis tem linhas de diálogo particulares. Mas, tudo acaba se perdendo justamente porque nada nas configurações de som do jogo é capaz de melhorar a mixagem e permitir uma experiência agradável.

Faltou combustível

Mesmo que não tenha um modo multijogador, seja ele local ou em rede, Taxi Chaos pode até ser um bom party game para passar o tempo entre amigos que disputam quem faz a melhor pontuação enquanto alternam o controle de Vinny e Cleo.

Contudo, tendo em vista a existência de um cenário multiplayer online massivo e a impossibilidade óbvia de grandes reuniões em casa dado o momento atual, não há muito sentido nisso. Ainda que houvesse, é triste admitir que a experiência é cansativa e dificilmente seria um entretenimento duradouro.

A verdade é que dirigir um táxi de forma caótica em alta velocidade traz uma memória divertida para quem viveu o cenário de jogos do início dos anos 2000, mas realmente faltou combustível para repetir essa lembrança.

Cópia de PS4 cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Taxi Chaos

4.5

Nota final

4.5/10

Prós

  • Controles fáceis
  • Desafio simples
  • Visual agradável

Contras

  • Trilha sonora repetitiva
  • Missões genéricas
  • Personagens sem variedade
  • Poucas linhas de diálogo
  • Cansativo