Reviver franquias e jogos, abandonados há muitos anos, tem sido uma tendência recente, seja com remakes, remasterizações, continuações ou simples relançamentos. Exemplos recentes incluem Chrono Cross, Live a Live, Onimusha, e os recentemente anunciados jogos da série Silent Hill. Assim, foi de bom grado mas não totalmente surpreendente quando, em março de 2022, a Square Enix anunciou o retorno da franquia Valkyrie Profile, na forma do action RPG Valkyrie Elysium.
Desenvolvimento: Soleil
Distribuição: Square Enix
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, RPG
Classificação: 12 anos
Português: Legendas e Interfaces
Plataforma: PS4, PS5, PC
Duração: 13 horas (campanha)/28 horas (100%)
“To my side, my noble einherjar”
Mesmo com apenas dois jogos principais, um spin-off portátil e um gacha mobile recente, a franquia possui um grande número de seguidores que cultuam a série desde o início dos anos 2000. Essa fama veio da excelente jogabilidade dos dois jogos principais, com o sistema de batalha inovador, a temática nórdica (não tão retratada em JRPGs), bonitos gráficos, além dos diálogos, personagens e excelente dublagem completando o pacote.
No entanto, a empolgação não durou muito. O primeiro trailer de Valkyrie Elysium foi recebido de forma bastante morna. De cara, via-se que era um projeto de menor orçamento, com gráficos bonitos, mas bem aquém do estado da arte atual. A mudança no estilo do jogo também levantou suspeitas, passando a ser um action RPG ao invés da jogabilidade consagrada nos dois primeiros títulos. De qualquer forma, essa nova jogabilidade em si não pareceu muito interessante. Por fim, nenhum personagem familiar deu as caras na prévia. Lançado o jogo, infelizmente o resultado final de fato é no máximo mediano.
O título foi apenas publicado pela Square Enix, sendo desenvolvido pela japonesa Soleil Inc, cujo trabalho mais famoso provavelmente é Naruto to Boruto: Shinobi Striker. Os dois principais jogos da série foram desenvolvidos pela famosa (no nicho) Tri-Ace, também responsável pela série Star Ocean e outros JRPGs.
O enredo é simples e bastante clichê para qualquer história ambientada na mitologia nórdica: o fim do mundo, o Ragnarok, está chegando, e Odin lhe incube a missão de salvar o planeta enquanto há tempo. Você é Maria Valkyrie, que foi recém criada por Odin para restaurar as forças do principal deus nórdico e evitar o fim dos tempos. Na jornada, você encontrará mais 4 companheiros, os einherjar, como conhecidos dos jogos anteriores: almas de humanos mortos que são coletadas para ajudar a Valquíria em sua missão. Mas aqui são apenas quatro einherjar existentes – antes haviam dezenas. Há mais alguns outros poucos personagens, e é apenas isso. Não há, ao menos numa visão geral, nenhuma ligação com os jogos anteriores.
Combate e jogabilidade agradam, mas cansam rápido
O ciclo de jogo de Valkyrie Elysium consiste em você selecionar missões no seu hub – Asgard – e ir para Midgard resolver algo em busca de evitar o Ragnarok. São 9 capítulos principais, divididos em 5 mapas diferentes, cada um contando também com várias missões secundárias. Nos primeiros capítulos você recrutará seus 4 einherjar e aprenderá sobre as poucas mecânicas e variações de jogabilidade que existem.
E é basicamente isso: desça para Midgard, mate monstros (eventualmente um chefe), volte, fale com Odin, repita. As missões secundárias são a mesma coisa, mas ainda mais simples: até existe um pretexto, mas na prática você desce, mata alguns grupos de monstros (que você já matou muitas vezes), ganha um item, volta para Asgard, e faz outra missão se quiser. Repita até terminar o jogo, com algumas escolhas no final para ver os diferentes finais.
O sistema de batalha em si é até que diverte, apesar de ser simplório. Você dispõe de artes (ataques mágicos), itens, dois tipos de armas e seus 4 einherjar, que são invocados e lutam por algum tempo junto com você. Também se pode fazer combos simples combinando ataques fracos e fortes, além de ter acesso a uma corrente que te aproxima de qualquer inimigo.
A jogabilidade não é ruim e tem até ideias interessantes, mas acaba sendo um tanto simplificada e cansa rápido. Basicamente, o que se faz no tutorial é o que se faz pelas demais horas do jogo, ad nauseam. Esse mesmo sistema mas com mais variedades de armas e combos, equipamentos e einherjar, além de maior variedade de inimigos e cenários, poderiam transformar a experiência em algo realmente digno do legado da série. Ainda estão previstos alguns updates para o jogo, mas dificilmente será mudada a percepção geral.
Outra “mecânica” é a colheita de flores ao longo dos cenários, que mostram frases de pessoas que ali viviam antes. Ela pode até entreter nas cinco primeiras, mas acho improvável que alguém se interesse pelas dezenas espalhadas ao longo do jogo inteiro. Além disso, enquanto as flores verdes sirvam para o jogador ver o final verdadeiro, as azuis (entre 20 e 30 por cenário) não parecem ter nenhuma serventia (além de duas conquistas).
Gráficos não atrapalham, mas também não se sobressaem
O visual do jogo é agradável. Como disse, não está perto do potencial dos consoles atuais, e definitivamente não usa o poder do PS5, mas é bem feito e cumpre seu papel. Os efeitos dos ataques mágicos são bonitos, e os personagens principais são bem detalhados, apesar de não terem expressões bem desenvolvidas. O visual dos monstros já deixa um pouco a desejar, sendo pouco marcantes e se repetindo muito – como quase tudo em Valkyrie Elysium.
Apesar da qualidade gráfica ser satisfatória, os cenários são bastante pobres. Você basicamente passa o jogo andando por alguns poucos cenários vazios e desolados. Apesar dessa aura melancólica ser uma característica da série (e vê-la aqui novamente é bem-vindo), a pouca variedade de cenários empobrece ainda mais a experiência. Além disso, você passa pelo menos duas vezes em cada cenário apenas nas missões obrigatórias, e muitas mais vezes se decidir fazer as missões secundárias, que dão acesso a itens e ataques interessantes.
Outro problema nesse quesito é que os cenários são totalmente lineares, no máximo apresentando alguns itens escondidos. Há em certos momentos uma mecânica de invocar borboletas que indicam para onde o jogador deve ir para encontrar determinado item para seguir a história. Porém, sempre só há um caminho a se seguir! Chega a ser risível uma mecânica para indicar o trajeto quando só há um trajeto possível.
Melhor do que nada, talvez?
Por fim, não digo que não gostei do meu tempo com Valkyrie Elysium. Ele não é um jogo ruim, pois a jogabilidade é agradável, e a durabilidade é curta o suficiente para não tornar a experiência maçante – cerca de 13 horas focando apenas na missão principal. Fiz missões secundárias até me cansar, e logo o fim do jogo já estava ali.
Mas o sentimento que fica é agridoce. Foi ótimo ver uma série querida sendo trazida de volta, mas o produto entregue deixa muito a desejar, restando o sentimento de potencial desperdiçado. O game me lembra a situação de Parasite Eve, cujo terceiro jogo – 10 anos depois do anterior – foi celebrado pelo retorno à franquia, mas também deixou a desejar na hora da entrega; e agora a série está há mais de 10 anos sem notícias. Acho difícil, mas espero que esse não seja o caso de Valkyrie Profile, e que possamos ter um lançamento à altura dos clássicos num futuro próximo.
Cópia de PS5 adquirida pelo autor
Revisão: Jason Ming Hong