A jornada do herói sempre envolve a odisseia de um rapaz que busca salvar sua amada das garras de um vilão nefasto. Mas e se os papéis se invertessem? É isso que acontece em Wife Quest, do estúdio brasileiro Pippin Games, que utiliza essa temática de maneira divertida, mas um pouco exaustiva.
Desenvolvimento: Pippin Games
Distribuição: Eastasiasoft
Jogadores: 1 (Local)
Gênero: Ação, Aventura, Plataforma
Classificação: 14 anos
Português: Legendas e Interface
Plataforma: PC, PS4, Switch, Xbox One
Duração: 6 horas (campanha)
“Desculpa, não sabia que seu esposo era casado…”
Em algum lugar mágico, havia um vilarejo. Este lugar era habitado por diversas Garotas Monstros, bastante voluptuosas (para usar um termo brando) e cheias de amor para dar. Todas elas eram caidinhas pelo único homem do vilarejo, um fazendeiro chamado Fernando, que, por sua vez, só tinha olhos para uma menina chamada Mia.
Ela não tinha as mesmas formas curvilíneas que as demais monstruosidades, mas queria algo que todas desejavam: o coração de Fernando. O amor entre eles era tão forte que acabou em um belo casamento, só que o restante da população não gostou muito disso, principalmente a elfa negra Morganna.
Então, durante uma noite de sono, Morganna rapta o rapaz para mostrar “o que ele perdeu se casando com a garota mais reta que uma tábua”. Logicamente, Mia não ia deixar barato e decidiu partir para cima da elfa negra e suas comparsas na base da porrada para salvar seu amado e, assim, voltarem para o aconchego do seu lar.
A história é bem simples e previsível, mas a maneira como cada diálogo é conduzido durante a narrativa é que faz tudo ficar mais divertido. Piadinhas de duplo sentido e ofensas leves farão você se sentir na turma do fundão da quinta série, e muitas frases sugestivas, que usam o ciúme colossal de Mia contra ela mesma, fazem com que nós, que estamos no controle, fiquemos esperando os próximos diálogos dignos da hora do recreio.
Tudo isso está muito bem retratado em um visual pixel art colorido e uma trilha sonora bem alegre. A combinação desses elementos pode parecer simples, mas funciona de maneira competente, criando um universo com charme único.
Vou arrebentar todo mundo mais de uma vez se for necessário!
Como em todo bom e velho título de plataforma, devemos conduzir nossa heroína por cada uma das seis áreas. Elas estão divididas em vários segmentos, que vão ficando cada vez mais complexos e exigem mais das nossas habilidades. Além de termos que exterminar algumas monstrengas pelo caminho, podemos aplicar punições bem engraçadas em cada uma delas. Ao final de cada área, temos que lidar com as capangas chefes, que, ao serem derrotadas, nos emprestam – contra vontade – seus poderes.
Esse esquema é simples e funciona bem, mas tem algumas falhas que tornam tudo um pouco mais arrastado. A primeira é que cada fase tem no mínimo 15 segmentos, e as duas últimas têm 20, o que torna tudo bastante longo e por vezes repetitivo. As batalhas contra as chefes também podem se alongar bastante, pois elas têm mais de uma barra de vida e seus padrões de ataque mudam de tempo em tempo, o que torna sua memorização um tanto quanto caótica. E é bom se lembrar muito bem dos movimentos delas, pois na área final elas retornam mais duas vezes para atazanar a vida do jogador.
Podemos sair de onde estamos a qualquer momento para retornar ao mapa e melhorar nossos equipamentos, mas aí outro vilão dá as caras: o grinding. A dificuldade imposta pelas chefes é satisfatória, tirando o pelo o que já foi citado, mas vai além do que encontramos pelo caminho. Então é sempre bom juntar algumas moedinhas para investir em aprimoramentos e poções, mas nem sempre dá para comprar tudo de uma vez. A única maneira de juntar dinheiro é abatendo inimigos e abrindo baús, só que aqueles que já foram abertos permanecem assim quando revisitamos qualquer local, o que torna cada vez mais maçante o processo de arrecadar fundos.
Por fim, há uma pequena confusão com a barra de MP (pontos mágicos). Todas as habilidades que usamos, fora o golpe com a espada, consomem MP. Cada fase possui colecionáveis que só ficam acessíveis ao adquirirmos uma habilidade com uma chefe em uma área posterior. Então, temos que voltar e fazer uso do nosso novo poder. Até aí tudo bem, porém, em alguns casos, a tentativa e erro nos levam a esgotar rapidamente nosso medidor e para recuperá-lo e, se não tivermos poções, a única alternativa é morrer e voltar para o começo do segmento em que estamos. Isso acontece principalmente nas partes que envolvem dashs aéreos.
Vale citar que a dona da lojinha, Ymir, colocou uma série de desafios em cada fase, e um deles é contra o relógio, então a irritação até decorar o melhor caminho é iminente e inevitável.
Ainda assim, não podemos deixar de reconhecer que a quantidade de colecionáveis, como músicas e fotos especiais, é bem generosa e rende um bom fator replay para quem curtiu o jogo e se deu bem com as mecânicas. Ao completar a aventura, você até libera um modo novo e mais difícil, com direito a novos itens para serem encontrados.
Um matrimônio divertido
Wife Quest peca um pouco por impor ao jogador que refaça tantas vezes um trajeto ou fique muito tempo em uma batalha que poderia ser dominada facilmente. Porém, também merece os devidos elogios por conseguir contar de maneira engraçada e criativa uma narrativa bem básica da história dos videogames, e sempre vale o devido reconhecimento por ser um produto nacional que está se destacando lá fora.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Wife Quest
Prós
- Visuais coloridos e chamativos
- Trilha sonora acompanha bem o ambiente proposto
- História e diálogos engraçados
- Muitos colecionáveis e alto fator replay
- Jogabilidade simples
Contras
- Ter que revisitar muitas vezes os mesmos lugares
- As batalhas contra as chefes duram mais do que deveriam
- Muitos segmentos tornam as fases um pouco cansativas
- É meio complicado administrar o uso de MP
- O grinding para comprar as coisas da loja é um pouco pesado