A aventura que é Fallout: A Post Nuclear Role Playing Game se destaca como um marco no universo dos RPGs. Lançado originalmente em 1997, o jogo nos transporta para um mundo arrasado por uma guerra nuclear, onde a sobrevivência se mistura à esperança e à desolação.
Desenvolvimento: Interplay Productions
Distribuição: Interplay Productions
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG
Classificação: 14 anos (violência, conteúdo sexual, drogas lícitas)
Português: Não
Plataformas: PC
Duração: 16 horas (campanha)/32 horas (100%)
O começo de uma nova era

Desde o instante em que você carrega Fallout, já sente o peso do que restou de uma civilização outrora próspera: uma América retrofuturista, presa na década de 50, que cresceu com o uso da energia nuclear no pós-Segunda Guerra Mundial. A premissa é simples, porém carregada de simbolismos: você é um habitante do Abrigo 13, encarregado de uma missão crucial para salvar sua comunidade – encontrar um novo chip de purificação de água. Essa tarefa, por si só, já prenuncia a dificuldade e o tom sombrio do jogo.
A atmosfera é como se o tempo tivesse parado em uma era na qual o medo do desconhecido e a esperança de renascer coexistissem lado a lado. No ambiente incerto dos desertos e das cidades arruinadas, o jogador é impelido a navegar por entre ruínas e segredos, onde cada decisão pode ser a última ou a porta para um novo começo. Fallout não é apenas um jogo; é um convite para refletir sobre escolhas e consequências, onde cada passo, cada conversa, e cada confronto carregam a marca de um mundo em decadência.
Liberdade e consequências em cada escolha

Se tem algo que define Fallout, é a liberdade quase sem limites que ele oferece. Você pode ser o herói que salva inocentes, ou o vilão que pisa nos planos dos outros sem pensar duas vezes. Essa moralidade fluida é refletida no sistema de diálogo e nas escolhas que afetarão não apenas o desenvolvimento do personagem, mas também o destino de todo um mundo.
Ao adotar o sistema SPECIAL — que abrange Strength (Força), Perception (Percepção), Resistance (Resistência), Charisma (Carisma), Intelligence (Inteligência), Agility (Agilidade) e Luck (Sorte) —, o jogo permite a criação de personagens com perfis totalmente únicos. É como se cada um pudesse esculpir seu próprio destino, moldado por estatísticas que influenciam desde diálogos até as batalhas. Cada ponto investido em Carisma ou Inteligência, por exemplo, abre portas para opções de diálogo e habilidades que podem mudar completamente o rumo da história. E tem mais, o jogo permite que você crie soluções que vão desde estratégias de combate meticulosas até modos totalmente pacifistas de enfrentar os desafios do deserto radioativo.

O combate é conduzido por turnos, com um sistema de pontos de ação que exige do jogador uma estratégia cuidadosa a cada movimento. Você não apenas dispara uma arma ou se esconde atrás de uma parede; cada ação dita o ritmo, e cada decisão tem o peso de inúmeros destinos possíveis. Assim, Fallout se desdobra como uma obra onde o frenesi do momento se equilibra com a calma estratégica típica dos maiores desafios de sobrevivência.
A exploração do mundo é um dos grandes atrativos. Perambular pelas vastas paisagens do deserto, descobrir prédios abandonados e desvendar segredos escondidos em cada canto cria uma sensação de imersão incrível. Em meio a lugares desolados, o jogo sussurra histórias de dias melhores e de batalhas épicas, incentivando o jogador a olhar além do óbvio. Cada canto pode revelar um pedaço perdido da narrativa, fazendo com que a liberdade de descoberta se torne uma experiência gratificante e, às vezes, surpreendente.
A arte da desolação

Para os padrões da época, Fallout impressionava com seus gráficos isométricos que conseguiam traduzir a ruína de um mundo retrofuturista que não volta mais. Embora as limitações tecnológicas façam parte do charme retrô, cada cenário é composto por uma paleta de cores que vai dos tons terrosos aos cinzas melancólicos, criando um contraste marcante entre a esperança e a desolação.
Uma cidade abandonada onde o sol se põe sobre edifícios corroídos pelo tempo, uma rádio solitária que transmite ecos de um passado distante e personagens que parecem ter saído de um romance de sobrevivência. A atenção aos detalhes é tanta que até as texturas das paredes mofadas e dos desertos sem fim contam uma história de decadência e renascimento. Mesmo que, comparados aos jogos modernos, os gráficos possam parecer simples, a atmosfera é tão densa e carregada que transforma o visual em uma verdadeira janela para um mundo de contos apocalípticos, um cenário onde a beleza convive com a tristeza inevitável da destruição.
Se os gráficos pintam o cenário, os sons e a trilha sonora são os responsáveis por dar vida a cada pedaço desse universo devastado. A trilha sonora de Fallout é composta por músicas da década de 40 e 50 enquanto os efeitos sonoros discretos e muitas vezes melancólicos, conduzem o jogador por uma mistura de silêncio inquietante e acordes que ressoam com a vibração de um mundo perdido.
Falhas e decisões de game design ruins

Fallout também possui suas imperfeições. Uma das maiores críticas diz respeito à interface, que pode se tornar excessivamente complexa numa época em que a tecnologia ainda estava dando seus primeiros passos. A gestão do inventário, por vezes, se torna um desafio à parte, exigindo um grande esforço para manter tudo organizado.
Além disso, alguns bugs e falhas pontuais eram notórios na época do lançamento — e, por incrível que pareça, a comunidade de fãs sempre se mobilizou para criar patches e mods que aliviassem essas dores. Ainda que esses ajustes não cheguem a resolver todas as imperfeições, eles atestam o quão profundamente o jogo marcou os corações dos jogadores.
Outro aspecto controverso é a curva de dificuldade inicial. Os primeiros passos podem ser difíceis, e a sensação de estar constantemente à beira do fracasso torna-se um teste de paciência para os novos aventureiros. Em comparação com jogos modernos, onde o design de dificuldade tende a ser mais amigável, Fallout insiste em cobrar um tributo da sua dedicação para que você prove que merece as recompensas do apocalipse.
Uma jornada entre ruínas e recomeços
Fallout é, sem dúvida, um marco dos RPGs clássicos: desafiador, imersivo e repleto de surpresas. Ele exige paciência, astúcia e, acima de tudo, uma dose generosa de coragem para enfrentar os fantasmas que habitam os cantos de um mundo pós-nuclear. Em meio a bugs, uma interface por vezes engessada e uma curva de dificuldade que não poupa os incautos, o jogo se ergue como um monumento à ambição dos desenvolvedores de uma era em que inovar era o próprio combustível da criatividade.
Cópia de PC adquirida pelo autor
Revisão: Júlio Pinheiro