Resident Evil 3 foi praticamente feito de forma simultânea com o jogo anterior, Resident Evil 2, e muito se esperava dele. Apesar da chuva de críticas pela internet afora, o terceiro jogo reimaginado, de uma das maiores franquias da Capcom, deve ser tratado como o próprio conceito já diz: uma reimaginação do título original. Dito isso, saiba que esta análise não vai ser um comparativo entre o jogo de 1999 e o atual, mas sim um texto opinativo sobre a experiência de Resident Evil 3 de 2020 como um jogo por si só, e um pouco das adições e diferenças entre ele e o título anterior. Sendo honesto, há mais de 10 anos que não coloco as mãos no jogo original. No final do texto trago também minha opinião sobre o modo multiplayer denominado Resistance.
Desenvolvimento: Capcom
Edição: Capcom
Jogadores: 1 (local) e 1-5 (online)
Gênero: Ação, Aventura
Classificação indicativa: 12 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, Xbox One
Duração: 5 (campanha)/ 6 horas (100%)
Um começo diferente
Pela primeira vez em vários anos, Resident Evil tem uma apresentação em live-action com atores reais contando os acontecimentos em Raccoon City, algo que não vemos desde o primeiro jogo com aquela cutscene de filme B – se eu estiver errado, pode me corrigir. Já nos controles da personagem, ganhamos um início com Jill, através de uma câmera em primeira pessoa, tendo visões em seu apartamento e, em seguida, ela acaba recebendo uma ligação de seu parceiro STARS chamando Brad. O rapaz avisa de forma desesperada que Jill deve rapidamente sair dali, e então, após a fala de Brad, surge o temível Nemesis dentro de seu quarto, apresentando já o contato com a primeira cena de perseguição do jogo.
Após cenas iniciais e um rápido primeiro encontro com Nemesis, Jill encontra Brad nas ruas de Raccoon. Passados alguns eventos, você precisa restaurar a energia do metrô onde alguns sobreviventes se encontram para fugirem juntos – entre eles, Carlos -, mas obviamente nada disso seria tão simples.
O começo do jogo tem um ritmo bem mais rápido do que Resident Evil 2, mostrando que o remake do terceiro título da série faz jus à sua versão original quando se trata de ação constante. Além de cenas dignas de filme, RE3 de 2020 também traz adições interessantes, como o encontro com alguns personagens que não existiam na história do game original.
Raccoon City e suas dependências
Resident Evil 3 tem, em geral, cenários bem mais variados e interessantes do que seu antecessor de 2019. O jogo possui transições entre a já vista delegacia de Raccoon City (uma rápida passagem) como também a cidade, que por si só já possui vários locais como lojas, cafeterias, becos, esgostos e até mesmo um covil de seres parecidos com aranhas.
É notável que o jogo faz bastante reaproveitamento dos cenários através do backtracking, ja que várias vezes precisamos voltar à lugares que visitamos – normalmente para abrir cadeados e correntes – e utilizar ferramentas e itens chave que adquirimos posteriormente, nada que já não tenhamos vivenciado antes na série.
Apesar disso, a sensação de progressão é constante, e a presença de Nemesis em certos pontos pelos quais já passamos é algo que não deixa o ritmo cair ao mesmo tempo que mantém o clima de tensão. Porém, mesmo que o vilão mais icônico apareça de vez em quando para confrontar Jill, o combate é completamente opcional (exceto nas lutas onde Nemesis representa o “chefe” do lugar) e você consegue obter itens caso consiga atordoar o monstro.
Evolução, regressão e mais do mesmo
Quem jogou Resident Evil 2 de 2019 vai perceber um reuso exato de cenários e modelos de zumbis em RE3 deste jogo, especificamente falando do ambiente da delegacia de Raccoon City onde passamos brevemente com Carlos. Até mesmo alguns enigmas são resolvidos de forma igual (cadeados com senhas e cofres), o que, puxando pra coerência, chega a não fazer sentido com o jogo anterior (que se passa cronologicamente depois de RE3), sendo que alguns cadeado já foram abertos por nós, por exemplo – sendo bem exigente com o que fazemos. Já em outros pontos, alguns eventos tem ligação direta com os detalhes de Resident Evil 2 (2019), como um buraco na parede aberto por Carlos usando um detonador.
Algumas diferenças foram notadas do jogo anterior para este, como – talvez uma das mais divulgadas por aí – a retirada do desmembramento que podíamos fazer nos zumbis em RE2 atirando ou cortando suas partes (não me fez falta), uma adição do comando de esquiva, facas que não quebram mais (ufa), etc.
Falando especificamente da esquiva, ela é bem útil caso você consiga dominar o timing (momento certo) para realizar o movimento, além de que esta nova função se torna realmente útil quando jogamos com Carlos, pois além de driblar os inimigos ele também consegue derrubá-los com uma investida corpo-a-corpo – lembra bem de leve Resident Evil 6, mas no bom sentido. Sobre as facas, você carrega apenas uma consigo, mas ao contrário de RE2, aqui ela não quebra e funciona como uma arma de fato, em contrapartida não é possível mais usá-la como um acessório de “segunda chance” caso algum zumbi te agarre como era feito no jogo anterior – nem mesmo fazer isso com as granadas.
Agora alguns zumbis simplesmente explodem (é sério) no chão em um mar de sangue depois de eliminados, ao contrário de RE2 onde seus cadáveres ficavam caídos no local da morte de cada um – se existe alguma explicação plausível para isso, passou batido por mim.
Uma colher de sopa de terror
Mesmo que Resident Evil 3 tenha uma pegada muito mais ação por conta de seus ambientes estreitos, munição “à rodo” e inimigos de monte, ele continua com aquele aspecto de terror em vários momentos através do uso muito bem feito da luz, sombra, som ambiente e ruídos ao fundo. Tirando o fato de que existem alguns jumpscare desnecessários, recomendo altamente a jogar usando fones de ouvido, pois a experiência se torna completamente diferente e bastante imersiva.
Veja bem, não espere que o clima de RE2 tenha sido mantido, mas vá em mente que RE3 é um meio termo entre Resident Evil 2 e Resident Evil 4 – e não apenas por causa de sua enumeração.
Acredito que os momentos que mais me marcaram neste terceiro jogo reimaginado da série foram as lutas contra Nemesis. Ao longo da trama o vilão vai ganhando novas formas e se tornando cada vez mais resistente e deformado. Pra mim, o melhor combate de todos foi na praça da torre do relógio, onde pude deslumbrar o ápice do jogo em questão gráfica, level design e um clima de ação intenso.
Ressalvas e pós-game
Apesar dos elogios, algumas coisas poderiam ter sido melhor pensadas ou evitadas, como o fato de não poder tomar alguma ação quando se pega um item e seu inventário está cheio, o mapa que, ironicamente, pode ser aberto em miniatura num overlay no modo multiplayer do jogo (Resistance) mas que aqui precisa o tempo todo ser aberto com um comando que pausa a jogatina e quebra o ritmo, e possivelmente mais puzzles – são poucos existentes aqui – que exijam um pouco mais de empenho para serem resolvidos.
Pra finalizar, quando você termina a história, no menu principal é liberado uma loja onde você pode comprar itens equipáveis que surgirão nos baús do jogo. O dinheiro usado para fazer as compras é adquirido completando desafios durante a própria jogatina, então você talvez tenha um incentivo para recomeçar RE3 numa dificuldade maior, com itens que te darão uma certa vantagem como a moeda que aumenta bastante seu ataque, armas exclusivas, trajes bônus para Jill e Carlos ou simplesmente pela diversão em terminar a história numa velocidade recorde.
Lembrando: reimaginação
Meu conselho sincero para você que pretende jogar Resident Evil 3 é não ir pensando no jogo original de 99. Experiencie o novo título como um jogo diferente, assim como várias escolhas em Resident Evil 2 que fogem do escopo de sua obra original. RE3 é um excelente jogo de ação com uma leve pitada de terror e sobrevivência, então vá com este pensamento. Sua história é curta comparado ao título do ano passado, levando cerca de 6h para terminar se você não for um explorador obcecado por itens. Mas pense comigo: você prefere um jogo com uma “segunda jornada” não tão relevante assim para a história principal ou algo mais direto e que feche o enredo?
Admito que depois de finalizar o jogo não tive tanta vontade de voltar em seguida porque nada me incentivou tanto, mas bastaram alguns dias para que as imagens da experiência que tive voltassem em minha cabeça. Por fim, Resident Evil 3 não é perfeito, tem alguns altos e baixos – principalmente perto do final -, e passa a leve impressão de que não é uma grande mudança em relação ao jogo anterior, mas é necessário mexer tanto em time que está ganhando ou apenas melhorar o que já se mostrou ter sido bom?
Modo multiplayer
Resident Evil Resistance foi alvo de grandes polêmicas desde seu anúncio, tendo um alto grau de rejeição pela maioria das pessoas que acompanharam as notícias sobre o jogo. Tempos depois foi lançada a notícia de que, na verdade, Resistance seria o modo multiplayer de Resident Evil 3, mas ainda fico com essa dúvida justamente por conta do jogo ter um download completamente separado e possuir quase o mesmo tamanho em GB do jogo principal. Será mesmo que não foi uma mudança de estratégia durante o projeto?
Bom, vamos falar sobre Resident Evil Resistance. Confesso que joguei o jogo com expectativas baixíssimas, mas que durante a experiência minhas opiniões mudaram um pouco. O jogo é apenas minimamente melhor do que eu esperava. Sinceramente gostaria que este jogo fosse algo mais voltado para Resident Evil Outbreak, que foi lançado na época de PS2 e tinha um escopo de jogo multiplayer online em tempos que nossa estrutura e velocidade de internet começavam a caminhar, portanto muita gente sequer teve interesse neste título provavelmente por isso. Apesar de ser prejudicado por limitações, Outbreak possuía algo que para mim era bastante chamativo: sua base de jogo era jogador vs ambiente. Então você não precisava usar uma conexão de internet para desfrutar do jogo, já que existia uma campanha onde você combatia inimigos controlados pelo computador.
Já Resistance é 100% baseado em jogador vs jogador, focando principalmente na capacidade de host do vilão. Vou explicar: o jogo funciona em 4×1, onde quatro jogadores podem controlar os sobreviventes enquanto um fica a cargo do inimigo. O problema é que o vilão é quem hospeda a jogatina, então qualquer problema de conexão prejudica a partida e uma mensagem de “conexão instável com o vilão” fica surgindo na tela (aconteceu que comigo quase o tempo todo).
Quem joga com os sobreviventes tem a tarefa justamente de ficar vivo e atravessar os ambientes coletando peças de quebra-cabeças e resolvendo tarefas, já quem controla o vilão tem o objetivo de atrapalhar a missão dos sobreviventes usando todo o tipo de criaturas e recursos para tal. Cada personagem possui um nível e atributos únicos, pode comprar materiais, equipamentos e itens diversos com créditos Umbrella em caixas espalhadas pelo cenário. Então, pelo menos pra mim, jogar com “os mocinhos” é a única coisa que consegue chamar a atenção no modo multiplayer de Resident Evil 3 – e mesmo assim pouco -, mas isso é questão de gosto já que não sou um grande fã de jogos PvP sem opção offline – por isso prefiro algo como RE Outbreak.
Além disso, existe algo em Resistance que, pra muita gente, é algo intolerável num jogo pago e com o preço que é cobrado: compras internas com dinheiro real. No jogo você pode comprar vários “impulsos” com dinheiro de verdade, o que não é bem visto quando se trata de um jogo premium e muito menos num título de grande orçamento.
Portanto, fica minha crítica à Resistance e conclusão de que este jogo é uma completa furada, me passando cada vez mais a impressão de que era mesmo um projeto paralelo que acabou sendo embutido em RE3 porque sabiam que sozinho ele não se sustentaria.
Uma excelente forma de trazer RE3 novamente à vida
Concluindo: Resident Evil 3 é um ótimo jogo de ação, pouca coisa mais curto em relação ao jogo do ano passado, mas conseguindo ser completamente divertido. Sobre Resident Evil Resistance, ignore e finja que não existe, ou então que é outra coisa qualquer.
Este review foi feito usando uma cópia para Xbox One cedida pela Capcom