Capa de The Sinking City

Review The Sinking City (PC) – O terror das profundezas

“A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo. E o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido.” Inspirado nos contos do famoso escritor H.P. Lovecraft, The Sinking City é um jogo de aventura e investigação em mundo aberto desenvolvido pela Frogwares para PC, PS4, Xbox One e Nintendo Switch.

Desenvolvimento: Frogwares
Distribuição: Frogwares
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura
Classificação: 18 anos
Português: Interface e Legendas
Plataformas: PC, PS4, Xbox One, Switch
Duração: 19 horas (campanha)/31 horas (100%)

Uma cidade sobre as águas

Charles Reed percorrendo as ruas de Oakmont de barco

A narrativa começa com o investigador particular Charles W. Reed, o protagonista, chegando na estranha cidade de Oakmont, localizada na costa leste de Massachusetts, nos EUA. Em 1920, após um misterioso e inexplicável dilúvio, a cidade pesqueira ficou parcialmente submersa e isolada do continente. Com casas e zonas de comércio inabitáveis e o caos instaurado, os barcos se tornaram um dos únicos meios de locomoção viáveis e a população ficava cada vez mais mergulhada na miséria.

Mesmo após seis meses da catástrofe, as águas se recusam a retroceder e acontecimentos incomuns começam a surgir. Além dos próprios residentes de Oakmont, diversas pessoas do país alegam estar tendo visões terríveis e todas parecem estar sendo atraídas para a cidade, onde são chamadas de “forasteiros” ou “recém-chegados”. Reed é uma dessas pessoas e irá lutar para descobrir a verdade por trás do incidente.

Marcados pela loucura

Assim como a maioria – senão todos – dos jogos de exploração com foco narrativo, The Sinking City desenvolve sua trama através de muitos recursos: desde missões da campanha principal e realização de tarefas opcionais para personagens secundários até itens como bilhetes e cartas revelam informações importantes, tanto do passado como do presente de Oakmont, além de situar os jogadores mais desatentos em determinados momentos.

O processo de exploração do mapa talvez possa parecer cansativo à primeira vista, dado que o território é grande e você precisa fazer todo o percurso a pé ou de barco. Contudo, pontos de viagem rápida, após serem descobertos, ficam permanentemente marcados e o personagem principal pode usá-los para cobrir grandes distâncias. No PC, os loadings são muito rápidos, o que acaba facilitando esse processo.

Mapa de viagem rápida

A coleta de itens e o inventário foram alguns dos elementos inspirados em títulos de RPG: objetos interativos são marcados na interface com símbolos diferentes de acordo com o tipo de interação disponível. Por exemplo, instrumentos coletáveis são sinalizados com uma mão, enquanto armários, baús e demais espaços saqueáveis são indicados por um desenho de caixa com uma seta. Um simplório sistema de crafting também se faz presente: o jogador pode usar materiais recolhidos para construir kits médicos, bombas caseiras, armadilhas e até munições de armas de fogo.

Especificidades dignas do horror

The Sinking City possui características que até então eu nunca tinha presenciado em nenhum outro jogo, e uma delas é justamente o funcionamento da mecânica de sanidade. No lado inferior esquerdo da tela há duas barras verticais: uma vermelha, que representa a vida do personagem; e outra azul, que representa a sanidade. Quanto menor ela fica, mais Reed perde a capacidade de raciocínio lógico, o que o torna incapaz até mesmo de ficar de pé, dentre outras coisas estranhas que ocorrem. Fatores que contribuem para a perda de sanidade incluem enfrentar monstros do desconhecido, usar os Olhos da Mente e permanecer por muito tempo em determinados lugares.

A segunda singularidade marcante é o sentido sobrenatural de Reed já citado anteriormente, chamado de Olhos da Mente. Ao custo de parte da sanidade, com esse dom, o personagem é capaz de adentrar numa realidade na qual consegue ver e sentir acontecimentos passados relacionados a objetos, pessoas e locais. Dentro desse poder, o jogador consegue resolver um pequeno puzzle para determinar o que de fato ocorreu naquela cena, acertando a sequência correta dos eventos.

Por último, temos o Palácio da Mente: após reunir todas – ou, pelo menos, as principais – pistas das missões, através dessa área específica no menu principal, podemos juntá-las para obtermos deduções que nos guiarão nas decisões a serem tomadas. Apesar da aparência não-linear do jogo, as principais investigações são sempre resolvidas da mesma maneira e os pontos principais da história permanecem inalterados. Isso quer dizer que, mesmo que você decida coisas diferentes nas interações com os NPCs, tudo sempre levará para um mesmo lugar. Essa falsa sensação de liberdade, ainda que você não perceba na primeira tentativa, a partir da segunda já se sentirá incomodado e talvez um pouco enganado.

Uma ode à Cthulhu

Estátua de Cthulhu

A riqueza de detalhes em Oakmont talvez seja uma das melhores qualidades de The Sinking City. Os gráficos são extremamente bem trabalhados, com ambientação característica e digna dos contos de horror de H.P. Lovecraft, do qual o jogo toma como inspiração. Ruas alagadas com móveis flutuando, a chuva constante que bloqueia o sol deixando a cidade permanentemente na escuridão e os animais marinhos mortos espalhados pelas calçadas são os responsáveis pela construção da atmosfera típica de suspense e mistério, quase como se as páginas d’A Sombra de Innsmouth ganhassem vida.

Os recursos de áudio não ficam atrás dos visuais. A trilha sonora é fator significativo para garantir uma experiência imersiva ao jogador, desde simples sons de chuva caindo sobre objetos a sons fantasmas distantes e sussurros estranhos em vielas vazias. A música de fundo muda um pouco conforme avançamos em determinadas áreas, indo de aterrorizante e sombria em locais com pouco ou nenhum NPC a melancólica e desesperançosa nos espaços povoados.

Somente para fãs

A experiência final é difícil de ser descrita. O enredo principal é bom o suficiente para nos prender, dando um mínimo de fidelidade às histórias do Lovecraft, porém as mecânicas da sanidade, dos Olhos e do Palácio da Mente, ainda que inovadoras, são mal aproveitadas. Um gráfico bonito e uma boa trilha sonora não conseguem se sobrepor à falta de impacto das decisões tomadas que acabam não remetendo à consequências reais, o que dá à história um aspecto totalmente linear e desperdiçando um potencial enorme de jogos RPG de mundo aberto. Se você for fã dos contos de Lovecraft, vale a pena conferir como ficou The Sinking City. Do contrário, esse jogo não é para você.

Cópia de PC cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

The Sinking City

6.5

Nota final

6.5/10

Prós

  • Mecânicas singulares
  • Gráficos bonitos
  • Boa trilha sonora
  • Enredo aceitável

Contras

  • Impacto nulo em decisões
  • Alta linearidade
  • Elementos de RPG mal aproveitados