Hi-Fi RUSH é, sem dúvidas, uma grande surpresa. Mantido em total sigilo no decorrer de todo seu processo de criação, a existência do projeto foi revelada pela Bethesda e Tango Gameworks em um evento da Microsoft e disponibilizada para os jogadores de PC e Xbox Series X no mesmo dia.
Com a direção e roteiro de John Johanas (The Evil Within 2), o game marca uma mudança abrupta no que a desenvolvedora apresenta desde 2014, com o tradicional terror saindo de cena para dar lugar a um game de ação colorido e despretensioso.
Embora isso possa parecer uma mudança arriscada, o time não entrou em nenhum terreno desconhecido, pois o estúdio é composto por ex-funcionários da Capcom e Platinum Games que trabalharam em clássicos do gênero. Anos de conhecimento combinados com uma proposta inusitada e inovadora levaram a Tango à produção de um título que surpreende por sua originalidade.
Desenvolvimento: Tango Gameworks
Distribuição: Bethesda Softworks
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura, Plataforma
Classificação: 12 anos
Português: Interface, legendas e dublagem
Plataformas: Xbox Series X/S, PC
Duração: 10 horas (campanha)/13 horas (100%)
Uma aventura rock ‘n’ roll
Hi-Fi RUSH retrata a vida de Chai, um aspirante a rockstar que se voluntariou para um projeto tecnológico que deu errado, já que um iPod foi incorporado dentro de seu coração por engano. O dever dele passa a ser descobrir o que há por trás dos experimentos bizarros da Corporação Vandelay. Para isso, Chai se alia a um movimento de resistência, contando com a ajuda de outras pessoas que estão igualmente revoltadas com a empresa maligna.
A narrativa é simples e clichê, mas funciona e cativa devido ao carisma de todos os personagens, a incrível dublagem em português e a arte sensacional, toda inspirada na estética de animações e histórias em quadrinhos. Tudo se move de acordo com as batidas das músicas que o protagonista escuta. O design das fases e sistema de combate exigem que o jogador pressione botões se baseando no som, sendo sempre necessário estar atento ao áudio e aos visuais para conseguir derrotar os oponentes da maneira mais estilosa possível.
A trilha sonora é uma parte fundamental da experiência. Além de diversas faixas que foram compostas especificamente para o jogo, Hi-Fi RUSH conta com canções licenciadas de artistas como The Black Keys, The Prodigy, Nine Inch Nails e The Joy Formidable. No entanto, o som é melhor com as trilhas licenciadas desativadas, pois a péssima edição das faixas dos artistas conhecidos fazem com que elas não combinem muito bem com a jogatina.
As músicas ficam repetitivas depois de um certo tempo de jogatina, já que a mesma trilha é executada incessantemente durante um nível inteiro. A quantidade de efeitos sonoros distintos executados simultaneamente torna difícil a tarefa de ouvir as batidas. Nesses momentos, os indicadores presentes na tela são úteis para se orientar, mas a interface também se polui com muitas informações que aparecem ao mesmo tempo em diversos instantes da campanha.
Combate espetacular
Hi-Fi RUSH tem fases longas que combinam seções de plataforma e de combate. As mecânicas de luta são responsivas, enquanto as de plataforma decepcionam por não serem tão refinadas. As batalhas fluem bem graças aos sistemas simples, com dois botões principais e uma função de assistências. Acompanhar o ritmo não é essencial para vencer a maioria dos confrontos, mas lutar em sincronia melhora a pontuação geral da fase.
Entre as missões, Chai pode ir para o esconderijo e comprar novos itens, customizar habilidades, além de aprender novos movimentos. Parte do sistema de progressão é desnecessária, já que todos os golpes disponíveis deveriam estar liberados desde o princípio da campanha para garantir a melhor jogabilidade possível em todos os instantes da jogatina.
Com múltiplos modos de dificuldade disponíveis, Hi-Fi RUSH oferece um desafio satisfatório. A experiência é convidativa a quem não é muito bom em games do gênero, pois os produtores implementaram uma função que auxilia quem não consegue realizar grandes combos, bastando apertar qualquer botão no ritmo e ver a ação se desenrolar.
O jogo conta com tutoriais que interrompem a ação para ensinar o funcionamento de cada mecânica em uma forma interativa e bem explicada, mas repetitiva, já que tudo é ensinando novamente logo após o tutorial. Os desenvolvedores adicionaram um ótimo sistema de dicas opcionais, que auxiliam o jogador nos quebra-cabeças de uma forma pertinente e não intrusiva.
Ótima versão de PC
A Tango Gameworks utilizou toda a versatilidade da Unreal Engine para entregar os excelentes visuais cartunescos. Unindo desenhos em 2D com incríveis animações em 3D, todo o design gráfico é visualmente impressionante, apesar da renderização ter algumas falhas relacionadas à visibilidade de elementos distantes do mapa. Com diversas opções técnicas e sem problemas de travamentos, a versão para computadores do título é excelente. Porém, para prestigiar o game em sua qualidade máxima, é preciso rodar Hi-Fi RUSH em uma resolução alta, porque os gráficos em 1080p sofrem com serrilhados, mesmo nas melhores opções possíveis.
Os produtores projetaram um ótimo esquema de controles, e a conversão das funções para o mouse e o teclado foi realizada de uma maneira excepcional. Só faltou o suporte nativo para os controles de PlayStation, já que é preciso realizar configurações adicionais em ferramentas alternativas para conseguir utilizar o joystick da Sony.
Imperdível
Hi-Fi RUSH é uma experiência bem polida, mas que sofre com alguns problemas eventuais que podem ser facilmente corrigidos através de atualizações. Em sua primeira vez desembarcando fora do horror, a equipe do estúdio liderado por Shinji Mikami mandou absurdamente bem, entregando com tranquilidade um dos melhores jogos de 2023. Tomara que os envolvidos continuem repetindo experiências inovadoras como essa, mantendo o espírito da Capcom da década de 2000 e da sexta geração de consoles em geral vivos.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno