Desenvolvido pela Invader Studios, Daymare: 1994 Sandcastle é uma prequel do primeiro título da franquia lançado em 2019. Esse jogo é um salto incrível em relação ao que foi apresentado naquela ocasião, embora a qualidade do conteúdo aqui ainda seja completamente irregular.
Desenvolvimento: Invader Studios
Distribuição: Leonardo Interactive, 4Divinity
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Terror
Classificação: 18 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S
Duração: 14 horas (campanha)
Um pesadelo (em um) complexo
A trama coloca o jogador na pele de Dalila Reyes, uma agente da H.A.D.E.S. (Divisão Avançada para Extração e Busca da Hexacore), encarregada de investigar um incidente na Área 51 e recuperar uma misteriosa maleta que foi perdida no complexo de experimentos e pesquisas mantido pela US Progress, um projeto do governo americano.
É claro que tudo acaba dando errado no meio do caminho, e assim, a protagonista se vê obrigada a sobreviver a uma noite de pesadelos na companhia dos seres amedrontadores que habitam o local, ao mesmo tempo em que se envolve em uma conspiração envolvendo sua equipe e até sua própria família.
O jogo tem uma trama longa e arrastada, repleta de reviravoltas intrigantes e respostas sobre o universo da série. A duração da história depende exclusivamente de cada jogador e do tempo levado na resolução dos inúmeros quebra-cabeças existentes na campanha, além do entendimento individual do level design labiríntico e confuso.
Pura escuridão
Apesar de ter uma atmosfera boa, a apresentação visual de Daymare é ruim. Os gráficos são inconsistentes e escuros. Se perder e ficar sem conseguir enxergar absolutamente nada são situações comuns, já que as opções de brilho não são capazes de resolver os graves problemas de visibilidade presentes no título.
Os visuais são prejudicados pelos agressivos filtros empregados que deixam as texturas sem detalhes, mesmo com as configurações no máximo. A versão de PC é pavorosa, com travamentos constantes e quedas de framerate que ocorrem em momentos primordiais da campanha. A otimização é péssima, e é necessário utilizar funções de upscaling para se ter uma performance aceitável durante a jogatina.
Apresentação inconsistente
As cutscenes destoam em relação ao que é exibido no decorrer da jogabilidade. Elas são bem produzidas, com um jogo de câmera interessantíssimo, ótimos efeitos de iluminação e um bom trabalho de captura de movimentos corporais. No entanto, as animações faciais dos personagens são péssimas, visto que elas nunca passam reação alguma para as cenas. Mas na gameplay propriamente dita, a iluminação é visivelmente pior, e a câmera é simplesmente esquisita, com uma tremedeira desnecessária e ângulos bizarros.
Porém, o lado sonoro é sensacional. Os produtores criaram uma trilha sonora que se encaixa perfeitamente no tom tenso que o jogo pede. Um uso sagaz do som posicional em combinação com a vibração do controle torna a aventura eletrizante. O ponto alto desse tópico está na música tema do título, cantada por Cristina Scabbia, vocalista da banda Lacuna Coil. Os desenvolvedores claramente dedicaram muita atenção a esse aspecto, mas o elemento principal deixou a desejar.
Combate disfuncional
Daymare: 1994 Sandcastle erra feio em sua jogabilidade, que é completamente travada. Todas as mecânicas são exageradamente lentas, e elas fazem com que Dalila sempre demore demais para realizar tarefas simples, enquanto precisa lidar com adversários rápidos. Todos os confrontos são terrivelmente mal planejados e não se adaptam à proposta de um survival horror mais cadenciado que foi adotada pela gameplay.
Não há uma grande variedade de oponentes, e todos eles são monstros ágeis que podem até se teletransportar ou matar a personagem principal instantaneamente. Eles são resistentes a tiros, em um jogo onde a munição é escassa. Tudo isso só resulta em uma experiência quebrada e desbalanceada. Nada funciona como deveria, e os momentos de combate resultam em frustração.
Existem apenas duas armas disponíveis, mas a mecânica principal é o Frost Grip. O dispositivo acoplado ao braço da protagonista é uma arma glacial poderosa, útil para executar ataques mais fortes contra os inimigos, além de ser uma ferramenta importante para solucionar os quebra-cabeças.
É até difícil de acreditar que esse Daymare se passa em 1994 por conta das tecnologias absurdamente avançadas vistas ao longo da campanha. Sandcastle é ainda mais tecnológico que seu antecessor, cronologicamente situado quatro anos depois dos eventos retratados neste título.
O fino do survival horror
Daymare: 1994 Sandcastle acerta em cheio nos seus quebra-cabeças. Embora os puzzles frequentemente envolvam alguma peça de tecnologia mirabolante em vez da interação com elementos do cenário, todos eles são bem pensados e executados.
Os puzzles caem como luva dentro dessa proposta de um terror de sobrevivência inspirado pelos clássicos do gênero. Afinal, Daymare começou como um remake de Resident Evil 2 feito por fãs e acabou se transformando em algo próprio.
O jogo brilha em seus momentos sem combate, mas não passa ileso de erros. O backtracking é uma característica importante, mas ele é frustrante devido à ausência de um mapa. É fácil se perder na escuridão labiríntica, ainda mais pela similaridade das áreas em cada uma das regiões do complexo de pesquisas.
O level design é ótimo, embora ele seja previsível no que diz respeito ao posicionamento de itens-chaves. Nesse lado, o jogo não decepciona, mas a mistura entre os elementos necessários para um bom survival horror não está presente em Daymare: 1994 Sandcastle.
Ruim, mas tem seus momentos
A exploração é boa, os puzzles são excelentes e a trama é intrigante. Mas a apresentação de Daymare: 1994 Sandcastle é péssima, a jogabilidade é ruim e o combate é irritante e chato – sem contar que o estado técnico é horrível. Os pontos negativos infelizmente acabam se sobressaindo em relação aos aspectos positivos do game.
A Invader melhorou bastante em vários aspectos, como o roteiro, a trilha sonora e o visual, mas ainda há muito trabalho a ser feito para que o estúdio italiano consiga construir algo realmente bom. O que nos resta é torcer para que algum dia eles alcancem esse objetivo para finalmente entregar um produto de qualidade.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno