Um grande erro que algumas franquias cometem é trazer poucas inovações após um título bem sucedido. No ano passado, eu analisei NBA 2K23 e não poupei elogios à quantidade de coisas boas que o jogo continha.
Bom, chegou a vez de NBA 2K24 entrar na quadra, mas parece que toda a segurança proporcionada pelas boas escolhas anteriores deram sucessão a um jogo que não quis sair de sua zona de conforto.
Desenvolvimento: Visual Concepts
Distribuição: 2K Games
Jogadores: 1-4 (local e online)
Gênero: Esporte
Classificação: Livre
Português: Não
Plataforma: PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X/S
Duração: Sem registro
Entregando uma partida que parecia ganha
A jogabilidade se manteve fiel ao que o título anterior trouxe, e esse é o ponto mais forte de 2K24. Para quem está começando, há uma série de opções de treino para criar intimidade com os medidores de força e praticar arremessos, enterradas, passes e dribles. Já os veteranos se sentirão em casa escolhendo seu time favorito e progredindo pelos modos de jogo. Entretanto, é a partir daí que começa uma quantidade de vacilos gigantesca.
Como ponto positivo, a liga feminina de basquete ganhou mais destaque, com direito a partidas livres envolvendo qualquer um dos 12 times da WNBA, além de poder simular uma temporada inteira e criar uma atleta para conseguir seu lugar de destaque na liga. Não chega a ser algo tão elaborado quanto o MyCareer, mas ainda assim é bacana essa maior atenção com as mulheres do esporte.
O NBA Eras também traz uma proposta divertida, revivendo períodos clássicos da Liga Norte-Americana de Basquete, como a Era Jordan e a época em que tudo se definia na rivalidade entre Boston e Lakers, protagonizada por Larry Bird e Earvin “Magic” Johnson, respectivamente. Contudo, esse tipo de partida também pode ser jogada no Play Now, que traz todas as equipes atuais, algumas lendárias (em geral que foram campeãs), as seleções dos maiores nomes de cada franquia e o supertime de cada década. Nada de novo aqui.
A decepção fica por conta do MyCareer e do MyTeam, que apesar das propostas diferentes, trouxeram o uso forte das microtransações. No primeiro, criamos nossa persona basquetebolista virtual, que começa como um amador e tem como destino se tornar uma das maiores estrelas a pisar em uma quadra.
Já o MyTeam é aquele velho esquema de construir seu time ideal com base em cartas de diferentes atributos e raridades, para competir contra outros jogadores ao redor do globo e superar desafios mais complexos.
Ganhar pontos de experiência em ambos os modos rendem recompensas diversas, como bolas customizadas, roupas para nosso avatar, cards exclusivos para nosso time, e por aí vai. Acontece que 2K24 introduziu os infames Pro Pass e Hall of Fame Pass, itens pagos à parte que funcionam como aceleradores do progresso.
Vale lembrar que o jogo base por si só já tem um preço bem elevado. Outro ponto é que as temporadas são rotativas e temáticas, durante um período determinado, ou seja, sempre que uma nova temporada de prêmios se iniciar, é necessário comprar um novo passe.
Por mais que as microtransações tenham se tornado uma prática comum, principalmente nos jogos da 2K, a maneira como essas negociações foram utilizadas aqui é simplesmente revoltante. Ou você paga a mais para ter uma experiência “aceitável”, ou tem que disputar muitas partidas por um período estipulado de dias, o que gera um grinding abusivo nesses dois modos de jogo. Não há espaço para jogadores casuais.
Se o MyCareer e o MyTeam ainda estivessem recheados de novidades, até valeria a pena gastar uma boa quantidade de horas, mas isso não aconteceu. Nosso avatar continua correndo em uma cidade virtual para completar missões entre uma partida e outra para ganhar um punhado de moedas e pontos de experiência.
O MyTeam ainda tem boas ideias de single player, mas nos obriga a disputar partidas online para conseguir ganhar boas cartas na raça. Aí vem outro problema: conseguir uma conexão estável para entrar em um desses modos, algo praticamente impossível.
Se somarmos tudo isso ao aspecto visual, o saldo negativo aumenta. A simulação de uma transmissão televisiva durante as partidas e replays, com gráficos, estatísticas e narradores, consegue passar a emoção das disputas de forma impecável. Só que na hora dos closes nos atletas, temos diversos momentos em que olhos estão todos brancos e adereços, como joelheiras, proteções de braço e até cabelos mais longos, atravessam o corpo dos jogadores.
As cenas de diálogo do MyCareer também tem visuais bastante questionáveis para os personagens genéricos que fazem parte da narrativa. Mesmo jogando no PlayStation 4 e no PlayStation 5, NBA 2K24 tem momentos de closes pavorosos, que lembram os jogos da época do PlayStation 2.
Desrespeito com o legado do Mamba Negra
Assim como o 23 é associado a Michael Jordan, o 24 é praticamente um símbolo de Kobe Bryant, então naturalmente ele seria a estrela desta edição. Temos os Mamba Moments, que são partidas históricas da carreira do Black Mamba. Ainda assim, a versão deste ano foi bem mais modesta do que a que trouxe os melhores momentos de Jordan.
Desta vez temos apenas sete partidas: quatro focadas em desempenhos individuais em partidas do meio da temporada; e outras três de playoffs e finais da NBA. Comparado com os 15 momentos de NBA 2K23 focados em Michael Jordan, parece até que o estúdio teve preguiça de fazer uma pesquisa mais aprofundada.,
Bons momentos não faltam para isso, como: sua partida de estreia na NBA em 1996; a primeira vez que usou o número 24, na temporada 2006-2007; quando marcou 81 pontos contra o Toronto Raptors também em 2006-2007; sua despedida contra o Utah Jazz marcando 61 pontos; ou até mesmo um dos jogos das Olimpíadas de Pequim, em 2008, com a seleção americana que ficou conhecida como “Time da Redenção”. Enfim, daria para colocar os mesmos 15 de Jordan, ou até mais.
Além disso, outra mancada que acerta bem no peito de quem é fã da história do basquete e de Kobe, é a falta de um carinho na parte documental. Se 2K23 contava com depoimentos e entrevistas, 2K24 só trouxe flashes das transmissões da época e mais nada além disso. É uma grande oportunidade perdida de dar a devida homenagem para um atleta que foi tão influente para o esporte.
Vai voltar para a equipe de treino
NBA 2K24 tentou manter a mesma estratégia do ano passado, mas falhou miseravelmente. Por mais que a jogabilidade ainda seja boa e haja uma boa variedade de modos de jogo, as microtransações tornam tudo muito arrastado. O Mamba Moments é terrivelmente mal aproveitado, e os visuais deixaram de fazer jus à geração atual de consoles.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Julio Pinheiro
NBA 2K24
Prós
- A jogabilidade se manteve muito boa
- O basquete feminino ganhou mais destaque
- Diversos modos de jogo, como NBA Eras, MyTeam, MyCareer e o Mamba Moments
Contras
- Nenhuma melhora significativa em relação ao jogo anterior
- Online instável
- Visuais datados e ultrapassados
- Muitas microtransações tiram a diversão do My Career e do MyTeam
- Mamba Moments poderia trazer mais partidas de Kobe Bryant e um trabalho documental melhor