The Alters combina mecânicas de construção de base e elementos de sobrevivência de uma forma que foge bastante do convencional: é preciso assumir o papel de um protagonista preso em um local inóspito cuja única forma de escapar é criando clones dele mesmo. O jogo desenvolvido pela 11 bit studios é ambicioso e cumpre sua audaciosa proposta com sucesso, sendo um título muito interessante e divertido.
Desenvolvimento: 11 bit studios
Distribuição: 11 bit studios
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG
Classificação: 18 anos (drogas, violência extrema, linguagem imprópria)
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X|S
Duração: 20 horas (campanha)
Perdido no espaço

Na campanha, controlamos Jan Dolski, um astronauta que cai em um planeta desconhecido depois de uma expedição espacial mal sucedida e agora precisa sobreviver até encontrar um jeito de escapar e fugir dos raios solares mortais do local. Em certo ponto, o protagonista encontra uma substância que permite que ele se clone por meio de um dispositivo capaz de gerar réplicas alternativas de uma pessoa. Há um sistema de ramificações com todos os eventos da vida dele, possibilitando escolher acontecimentos diferentes e, assim, criar uma nova versão de Jan, mas com uma personalidade marginalmente distinta – afinal, as condições de vida moldam os clones que podem ser geradas ao longo da jogatina.
As interações entre essas versões alternativas do protagonista são interessantes, e cabe ao jogador decidir como lidar com as situações que surgem na campanha, sempre de maneira bastante reativa. Cada clone possui sua própria personalidade, emoções e habilidades, e é essencial criar vínculos com eles para poderem colaborar no trabalho da base. Há diversas tarefas que precisam ser realizadas simultaneamente para sobreviver, como gerenciar as operações de extração de materiais, garantir a proteção da base contra a radiação, cuidar da alimentação da equipe, entre outras.

É fascinante observar como os Jans reagem à própria existência. Nem todos, por exemplo, aceitam a ideia de serem clones e isso resulta até em debates mais profundos sobre a ética da clonagem – ou em brigas entre os Alters. Naturalmente, o clima entre as diferentes versões de Jan nem sempre é harmonioso, e é responsabilidade do Jan original, controlado pelo jogador, decidir intervir ou não nos conflitos para tentar manter a paz. Aos poucos, acompanhar o funcionamento dessa pequena sociedade vai ficando cada vez mais empolgante, tornando o game em uma experiência totalmente intrigante.
Comandando uma sociedade

Evitar a contaminação pela radiação solar é o grande foco do jogo, que é rico em mecânicas – todas são bem explicadas pela interface, que conta com vários guias e vídeos didáticos. Os dias são limitados, e planejar previamente as atividades é fundamental para otimizar o tempo disponível ao máximo. Cada segundo no mundo real equivale a um minuto em The Alters, e todas as ações consomem uma determinada quantidade de tempo para serem concluídas. Levando isso em consideração, também se torna necessário dormir cedo para acordar cedo, já que, caso o personagem vá dormir de madrugada, ele acordará mais tarde e, essencialmente, desperdiçará um dia de trabalho inteiro.
A gameplay é centrada no cumprimento das funções essenciais para a base e para o progresso na campanha, sempre em colaboração com as outras versões de Jan. É dever do jogador determinar as atividades de cada clone, enquanto o protagonista se concentra principalmente no abastecimento de itens vitais para a tripulação e na fabricação de equipamentos para a base – que precisa ser constantemente expandida no decorrer da jogatina, com novos módulos para acomodar os Alters e realizar pesquisas de melhorias técnicas.

A dificuldade é dinâmica, com configurações variadas para a economia e para os elementos de ação. Entretanto, não é possível alterar a velocidade da passagem do tempo, o que seria ótimo em um primeiro momento, para se familiarizar com as mecânicas com mais facilidade. O sistema de salvamentos funciona de uma maneira longe do ideal: o progresso só é salvo ao acordar em um novo dia, mas é possível perder um dia todo, pois não há nenhum aviso claro na interface indicando quando o jogo está salvando os dados. Um sistema de saves automáticos mais robusto seria bom, especialmente porque alguns dias podem se estender consideravelmente devido à quantidade de eventos narrativos que podem surgir.
Boa versão de PC, mas com problemas

No geral, The Alters recebeu uma versão de PC satisfatória, com suporte completo ao formato de tela ultrawide e diversas opções gráficas. A ausência de telas de carregamento é um dos aspectos mais impressionantes de toda a jogatina – se deslocar pela base e utilizar os pontos de teletransporte no mapa é extremamente dinâmico. O desempenho, porém, tende a ser um pouco exigente justamente pela quantidade de informações processadas em tempo real e pela simulação constante dos clones. Apesar disso, os desenvolvedores fizeram um excelente trabalho de otimização no jogo, que roda sem travamentos ou problemas notórios de performance.
O grande ponto negativo de The Alters está em alguns aspectos de sua apresentação. As legendas exibidas durante os diálogos são pequenas, com uma fonte desconfortavelmente minúscula, mesmo na opção de tamanho máximo. A localização deixa a desejar, com traduções pouco naturais, termos mal aplicados e, em certos casos, trechos que sequer foram traduzidos.

Há também falhas com serrilhados, visto que o jogo apresenta artefatos nas modelagens dos personagens em qualquer configuração gráfica – isso é mais perceptível nas cenas de diálogos. Essas, no entanto, são apenas questões pontuais que não chegam a atrapalhar a experiência absolutamente excepcional proporcionada por The Alters.
Sensacional
The Alters é mais um lançamento sensacional da 11 bit studios, que vem se solidificando como um dos grandes nomes do cenário de jogos AA – aqueles que conseguem competir com superproduções, mas de forma mais enxuta, sem que isso represente uma grande limitação. O game entrega uma combinação bem executada de diferentes mecânicas e é uma experiência verdadeiramente única e marcante perante a outros títulos que possuem uma proposta semelhante.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno