Eriksholm: The Stolen Dream é o título de estreia da desenvolvedora sueca River End Games, composta por ex-desenvolvedores de estúdios AAA, principalmente oriundos da DICE, que promete entregar uma experiência de furtividade isométrica envolvente e narrativamente rica. Lançado em julho de 2025, o jogo chama a atenção tanto pela ambientação steampunk quanto pelos elementos de quebra-cabeça e furtividade que permeiam cada fase.
Desenvolvimento: River End Games
Distribuição: Nordcurrent Labs
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura, Estratégia
Classificação: 12 anos (violência, drogas lícitas, linguagem imprópria)
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X|S
Duração: 8 horas (campanha)/10 horas (100%)
Conspiração a todo vapor

A obra se passa na cidade fictícia de Eriksholm, um paraíso de estética steampunk com contrastes marcantes entre luxo e opressão. O enredo acompanha Hanna, uma jovem determinada a desvendar o mistério do desaparecimento de seu irmão, Herman, enquanto foge da polícia e de uma força estatal opressora. O enredo, aliado a cutscenes com captura de movimentos e uma dublagem de alta qualidade, coloca a narrativa no centro da experiência, transformando a jornada de Hanna em uma investigação tensa e dramática.
A força de Eriksholm está em sua narrativa cuidadosamente construída, que mistura política, conspiração e drama familiar. As cutscenes elevam o nível de imersão, algo raro em jogos isométricos independentes. À medida que Hanna explora a cidade, diálogos e cenas cinematográficas revelam camadas da trama, revelando motivações dos personagens e aprofundando a imersão.
A ambientação steampunk é um dos grandes destaques. Rochas cobertas de musgos e ruas de paralelepípedo convivem com canos expostos e mecanismos fantásticos que se integram de forma orgânica ao cenário, tornando cada canto de Eriksholm uma paisagem digna de estudo e admiração. Essa consistência visual reforça a sensação de estar em uma cidade viva, presa entre o desenvolvimento industrial e a miséria social.
O frescor das ideias

Em termos de jogabilidade, Eriksholm se posiciona mais como um quebra-cabeça narrativo com elementos de stealth do que como um sandbox de furtividade aberta. O jogo demanda planejamento cuidadoso: observar as rotas de patrulha, usar o ambiente para bloquear linhas de visão e aproveitar pontos de cobertura para avançar sem ser detectado. Cada fase é estruturada como um diorama intrincado, onde movimentar objetos, acionar mecanismos e distrair inimigos faz parte da lógica de resolução de problemas.
Embora a proposta seja recompensadora para quem gosta de pensar a cada passo, alguns momentos de repetição tornam-se evidentes, além disso, o jogo restringe o jogador a soluções específicas em diversos pontos, limitando a criatividade e rejogabilidade. Trechos com ritmo mais lento podem quebrar a tensão, especialmente quando comparados aos picos de criatividade presentes em fases anteriores. Ainda assim, o equilíbrio entre planejamento e reação em tempo real mantém o jogador em alerta, com dois possíveis resultados a cada confronto: a fuga silenciosa ou a morte repentina.
Apesar de inserirem diários, engrenagens e pequenos artefatos espalhados pelos cenários, os colecionáveis de Eriksholm soam mais como um enchimento mecânico do que como parte integrante da experiência. Ao serem encontrados, raramente acrescentam informações relevantes à trama ou liberam recompensas que justifiquem o esforço de exploração. Essa busca acaba se tornando uma tarefa repetitiva e desconectada do ritmo tenso das missões, pura “caça ao item” sem impacto narrativo ou mecânico. Se cada artefato trouxesse fragmentos de memórias de Hanna, diálogos extras que aprofundassem os laços entre personagens ou melhorias de habilidades específicas, a coleta ganharia propósito e enriqueceria o universo steampunk. Sem esses incentivos, entretanto, os colecionáveis passam a sensação de enfeite, estendendo artificialmente o tempo de jogo sem oferecer retorno significativo.
Ecos industriais

Os gráficos de Eriksholm impressionam pela coesão estética e pela alta qualidade de texturas e iluminação. O jogo adota uma visão isométrica que, longe de limitar a ambição visual, realça os detalhes arquitetônicos e de cenários. Fachadas ornamentadas, construções industriais e jardins suspensos recebem tratamento artístico que mescla realismo e fantasia.
As cutscenes renderizadas em tempo real mantêm essa mesma estética, utilizando animações com expressões faciais detalhadas e cenários com profundidade. Em comparação a outros jogos independentes do gênero, Eriksholm exibe um nível de polimento visual que o aproxima de produções de médio porte.

A ambientação sonora de Eriksholm é outro ponto alto. Efeitos de passos sobre metal, rangidos de engrenagens e o burburinho distante da cidade criam uma atmosfera opressiva quando necessário e contemplativa em momentos de exploração livre. A trilha sonora, ainda que menos comentada nas análises, combina instrumentos clássicos e texturas eletrônicas, reforçando o clima steampunk e as tensões políticas presentes na narrativa.
Em momentos de fuga, a música intensifica-se com batidas crescentes, enquanto trechos de investigação recebem arranjos melódicos mais discretos. Essa variação ajuda a modular o ritmo do jogo sem cansar o jogador, algo fundamental em títulos focados em stealth e investigação.
O Que Eriksholm Nos Ensina
Eriksholm: The Stolen Dream é um título que prova a força do desenvolvimento independente ao unir narrativa de peso, um cenário steampunk cuidadosamente elaborado e quebra-cabeças de furtividade instigantes. Apesar de picos de repetitividade e decisões de design que limitam a liberdade do jogador, o conjunto geral entrega uma experiência memorável.
Para quem busca um stealth narrativo com estética diferenciada e enredo político, este jogo é uma aquisição obrigatória. Já os puristas das mecânicas de furtividade podem encontrar limitações, mas ainda assim apreciarão a qualidade dos diálogos, da dublagem e do visual.
Cópia de Xbox Series X cedida pelos produtores
Revisão: Júlio Pinheiro