Hell is Us é um game de aventura que coloca o jogador para se virar sozinho e sobreviver num mundo isolado, repleto de criaturas ameaçadoras e de uma sociedade em caos. O jogo tem uma proposta interessante, focada na solução de puzzles, mas ela é prejudicada pela falta de comprometimento dos desenvolvedores com as próprias ideias e pela insistência em adotar um estilo de combate genérico.
Desenvolvimento: Rogue Factor
Distribuição: Nacon
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG
Classificação: 18 anos (violência extrema, drogas ilícitas, linguagem imprópria)
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X|S
Duração: 14 horas (campanha)
Sozinho e perdido

Na campanha, é necessário controlar Remi, o protagonista, que está num lugar isolado devastado por uma guerra civil e por uma entidade misteriosa que liberou criaturas sobrenaturais na Terra, assombrando as ruínas de uma sociedade em colapso total. O personagem principal precisa sobreviver às ameaças enquanto tenta entender não apenas o que ocorreu na guerra, mas também os segredos de sua própria família.
Parte da pegada de Hell is Us lembra o formato clássico da franquia Resident Evil. Ao longo da jornada, é necessário explorar os locais, ler arquivos e interagir com pessoas para saber o que fazer, entender como resolver os quebra-cabeças para conseguir progredir no jogo.

O game, entretanto, não apresenta uma história através de um estilo tradicional, optando por utilizar principalmente a ambientação, mostrando regiões desoladas e destruídas. É interessante, mas uma abordagem unindo esse tipo de storytelling com mais cutscenes (elas existem, mas são raras) resultaria em uma experiência mais completa nesse aspecto.
Mais um soulslike

A gameplay é dividida entre os momentos de exploração e de combate, em um estilo soulslike. O protagonista precisa escolher suas batalhas, porque não é necessário enfrentar tudo o que vê pela frente. Mesmo com uma movimentação incompleta, sem opções de pulo, é fácil evitar monstros por causa do tamanho dos mapas, que lembram grandes arenas labirínticas.
Hell is Us, no entanto, não traz nada de novo à fórmula de um souls. É mais do mesmo: a jogabilidade é baseada em um sistema de stamina que trava o personagem principal e o obriga a agir de forma metódica, pensando em cada golpe antes de executá-lo. A única diferença é a adaptação dessas mecânicas já consagradas para a temática do jogo – as habilidades especiais vêm de um drone que acompanha o personagem no decorrer da jornada, por exemplo.

Depois de uma infinidade de jogos nesse tipo, chega uma hora em que o gênero souls se torna cansativo e maçante, a ponto de prejudicar o que poderia ser uma boa aventura caso ela usasse algum estilo de gameplay mais original. Pelo menos, Hell is Us não tem um sistema de dificuldade completamente travado. É possível escolher o nível do desafio, focando na investigação, com confrontos tranquilos, ou em batalhas intensas. Há um meio-termo que equilibra esses dois lados distintos de uma forma balanceada.
Sem ajudas?

Um aspecto que não muda é a falta de direcionamento para os objetivos. Cabe ao jogador descobrir tudo e resolver os puzzles sem receber dicas óbvias – tudo é sútil, e, às vezes, até demais. Os momentos de combate até atrapalham a sensação de imersão causada pela exploração, ainda mais porque é preciso estar constantemente atento para não se perder no mundo de Hell is Us, que não conta com mapas, marcadores, nem nada do tipo.
A ausência dessas opções que “seguram as mãos” dos jogadores se tornou até um mote dos produtores, tanto durante o período de marketing quanto no início de uma nova campanha, já que um aviso enfatizando essa característica é exibido logo de cara. Um ponto a se levantar, contudo, é até onde Hell is Us vai com essa proposta de obrigar o jogador a seguir as regras do próprio jogo, porque essas ideias não aparentam ter sido levadas tão a sério pelos desenvolvedores.

Isso é notável, por ironia, pela quantidade de tutoriais que ressaltam o óbvio, pela linearidade das conversas com NPCs, pela existência de uma função de viajar rapidamente, pelo botão “tutorial” presente no menu de pausa, pela dificuldade maleável e por muitos outros aspectos que nadam contra uma proposta como essa. Claro, tudo isso é normal para um RPG de ação, mas quando o único ponto do marketing de todo um jogo é sobre como ele é difícil e especial, diferente de todos os outros, é natural que surja a decepção quando o título simplesmente não se compromete a oferecer uma aventura plenamente centrada no instinto de quem está jogando.
Tecnicamente sólido

No lado técnico, Hell is Us apresenta bons visuais. O título foi produzido por meio da Unreal Engine e tem uma ambientação sensacional, repleta de efeitos climáticos e de iluminação que entregam a ideia de uma atmosfera desoladora com sucesso. O destaque principal vai para o design dos inimigos, que são aterrorizadores demais apesar do jogo propriamente dito nunca abraçar o terror em sua essência.
A performance pode ser um pouco pesada, mas isso é justificável para uma experiência de mundo aberto. Para mitigar isso, há compatibilidade com tecnologias de upscaling e de geração de quadros, deixando o jogo mais acessível para hardware fraco. Porém, existem problemas (que podem facilmente ser resolvidos através de atualizações) no carregamento de texturas mesmo em um SSD rápido, além de serrilhados constantes em todos os modos gráficos disponíveis.
Não engaja
Hell is Us acerta em sua ambientação e na proposta de sua história, mas erra em adotar um sistema de combate batido e em não se comprometer totalmente com as ideias que marcaram todo o marketing do jogo. Essa sensação de falta de comprometimento é o que impede Hell is Us de alcançar seu potencial, resultando em um título AA bem executado em alguns aspectos, mas muito decepcionante em outros.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong




