Inicialmente tive minhas dúvidas, por isso foi bastante surpreendente colocar as mãos em Vampyr e perceber tamanha qualidade narrativa e de jogabilidade que o título possui. Fiquei admirado logo nos primeiros minutos de jogo com tudo que estava recebendo, e dificilmente vemos jogos com essa temática vampiresca nos dias de hoje. O quanto isso ainda funciona e como transformar num videogame digno?
Desenvolvedor: Dontnod Entertainment
Editora: Saber Interactive
Jogadores: 1
Gênero: Ação, RPG
Classificação indicativa: 18 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, Xbox One e Switch
Duração: 16 horas (campanha)/ 43 horas (100%)
História e protagonista cativante
Em Vampyr você é o médico de guerra que foi recém-transformado em vampiro, Jonathan Reids. O pobre inglês estava voltando para sua casa e acabou sendo atacado na rua por uma criatura, o qual acabou transformando Jonathan numa criatura das trevas por livre e espontânea pressão. Você inicia a história atacando sua própria irmã sem perceber, e em seguida parte em busca de seu “criador”.
Jonathan, além de ser um cirurgião famoso, tem como especialidade a transfusão de sangue, e por um ironia do destino acaba tendo que se adentrar no mundo dos vampiros para exercer sua profissão enquanto sofre tentações de sua nova natureza em todo o tempo, principalmente ao receber um convite para ajudar a cuidar de um hospital lotado de enfermos. Em meio a isso, Jonathan precisa entender o que uma suspeita epidemia de gripe espanhola tem a ver com um surto de vampiros que tem ocorrido na região.
A história é boa, o protagonista é excelente e os personagens secundários são cheios de personalidade e um show à parte – e todos muito bem dublados em inglês. Para completar o conjunto da obra, a ambientação e a trilha sonora são completamente coesas e tudo funciona muito bem. Vampyr é um jogo de bastante investigação, além de idas e vindas. É divertido ter que ir de um ponto ao outro para resolver tarefas num local específico, porém deixa de ser tão prazeroso quando você percebe que não existe uma opção de “viagem-rápida”.
O jogo em si
No jogo existem várias mecânicas bem interessantes e que divertem sem deixar de prender a atenção do jogador. Uma das coisas mais legais de Vampyr é a investigação através das linhas de diálogos, onde você precisa conversar com cada um dos personagens e descobrir pistas sobre eles. Às vezes estas pistas podem ser obtidas através de objetos e documentos que você encontra pelo cenário ao longo da história, ou então conversando com outros NPCs e tirando informações deles e suas relações com os outros indivíduos. É possível também, já que você ainda é um doutor, criar (na mesa de trabalhos) e fornecer remédios para as doenças que os personagens apresentam ter através da opção checkup-médico – é bom criar relacionamentos positivos às vezes-, por isso é importante coletar todo o tipo de recurso durante os cenários para tal ato.
Se tratando dos elementos de RPG, aqui é possível aumentar diferentes categorias de habilidades de Jonathan – ao sentar numa cama -, como as da seção vampírica ou as que impactam diretamente o seu equipamento. Além disso, Vampyr oferece a possibilidade de se fazer escolhas reais. Você tem o poder de escolher entre apenas se relacionar e investigar NPCs, ou então matá-los e sugar seu sangue – a maioria aqui é uma vítima em potencial.
Porém, caso escolha um estilo de vida sanguinário, estas decisões afetam diretamente eventos durante o jogo, como transformar um NPC em vampiro com um poder absurdamente alto e fazer com que pessoas próximas dela te odeiem. Para avançar o nível do protagonista, além das missões principais e XP adquiridos através das lutas, também podemos receber experiência em missões secundárias, as quais são interessantes de se completar em vez de servirem apenas como um apoio para uma longevidade superficial.
O combate
As batalhas em Vampyr são bem simples, você precisa constantemente esquivar dos ataques dos inimigos – alguns mais ágeis do que outros -, atacar no momento certo, aparar golpes no momento certo, desnortear inimigos e sugar o sangue deles – deixando claro que você possui uma barra de saúde, outra de fôlego e uma de sangue. É um estilo que me lembrou bastante Dark Souls – me julgue -, um pouco por causa de serem combates com comandos meio duros e punitivos, mas principalmente por exigir um pouco de ritmo para saber o momento correto de agir. Nestes momentos são muito bem-vindas as habilidades adquiridas através da árvore de habilidades, principalmente as de vampiro que te auxiliam a terminar uma luta rapidamente – mas que usam sua barra de sangue, nada vem de graça.
No que o jogo manda bem
A Dontnod Entertainment realmente é uma empresa que sabe criar jogos com histórias e personagens cativantes, devo dizer que fui surpreendido pela recepção mediana que o jogo recebeu da mídia especializada, já que a qualidade vista em Vampyr é de alto nível. Dificilmente você vai se sentir cansado ao jogar, pois o desenrolar dos eventos deixa sempre aquele gosto de “o que será que está por vir?” e sabe prender a atenção de quem está jogando. A jogabilidade em si e as mecânicas de RPG também não deixam a desejar, portanto sobram poucos pontos para realmente serem criticados.
Ficou devendo
O excesso de backtracking (voltar em lugares já visitados), como já falei, às vezes é cansativo e chega a estressar o fato de não haver uma forma de fazer viagens-rápidas em lugares pelos quais você já passou. Fora isso, também não podemos salvar a qualquer momento do jogo, então ficamos à mercê de chegar num local seguro onde há uma cama disponível para dormir e deixar que o jogo salve o progresso automaticamente. Um detalhe irritante fica por conta dos diálogos, você pode pular linhas de conversa, mas na maiora das vezes as frases são quebradas em duas partes e você não consegue ler totalmente o texto caso o personagem não complete a frase verbalmente.
Versão de Switch
Depois de falar do jogo pelo que é, preciso citar vários pontos na versão de Switch. Ela de longe é a versão com mais downgrades e redução gráfica entre todas. Antes fossem apenas visuais, mas a queda de performance é nítida em vários momentos durante a jogatina e chega a irritar. Sem falar o visual, que às vezes dá a impressão de que o jogo está esfarelando de tão baixa que a resolução chega a ficar. É possível ver até mesmo uma textura arenosa ao redor de alguns modelos em 3D – um dos jogos mais visualmente medonhos que já joguei no Switch, e olha que não sou exigente. Pelo fato do port ser de um jogo de última geração, era esperado algumas reduções visuais, mas nada que comprometesse tanto a performance. Fora isso, o jogo chegou a fechar sozinho algumas vezes comigo e apresentar uma mensagem de erro, o que me frustrou profundamente.
Por último e não menos importante, Vampyr de Switch possui telas de carregamente absurdamente demoradas, o que chega a ser um parto toda vez que morremos e precisamos tentar novamente. Pra completar, desde seu lançamento, a produtora lançou pouquíssimas atualizações para a versão do console da Nintendo, e quando questionei sobre a data da próxima correção a resposta que tive foi “não temos nenhuma data prevista“. Portanto, minha dica sincera: se tiver um interesse real em Vampyr, fique completamente longe desta versão – nem mesmo na TV/modo dock funciona decentemente.
Pra quem é
Finalizando, Vampyr é um jogo espetacular e que tem como base uma excelente história para cativar quem está jogando. Tudo nele funciona de forma magistral, porém em alguns pequenos detalhes o jogo fica devendo – nada que atrapalhe escandalosamente. Esse jogo é indicado para todos aqueles que gostam principalmente da temática vampiresca, mas também para quem aprecie mecânicas de escolhas impactantes, investigação e RPG. Reiterando: fique longe da versão de Switch.
Este review foi feito usando uma cópia para Switch cedida pela Focus Home Interactive