Dead by Daylight e Texas Chain Saw Massacre

O problema do terror assimétrico

Se tem um gênero que está em ascensão, esse gênero é o terror assimétrico. Nos últimos anos, a categoria tem conquistado cada vez mais popularidade graças ao êxito de games como Dead by Daylight e Friday the 13th. A premissa desses jogos costuma ser simples: quatro jogadores assumem o papel dos sobreviventes, que precisam realizar tarefas determinantes para viver enquanto são perseguidos por um assassino que deve eliminá-los antes que eles consigam escapar.

Com o passar do tempo, o gênero virou uma ótima forma de transformar franquias clássicas do cinema em experiências jogáveis, o que foi feito nos competentes Evil Dead The Game e no recente Texas Chain Saw Massacre. O público gosta e aprova, já que todos esses produtos alcançaram um certo sucesso. Paralelamente, crossovers com marcas renomadas dos games e dos filmes dão cada vez mais relevância para Dead by Daylight, o maior expoente da categoria. No entanto, nunca fui devidamente fisgado por nenhum dos principais nomes do gênero, já que eles sempre possuem uma jogabilidade que frequentemente deixa a desejar.

Jogabilidade travada é regra

Jogabilidade travada de Texas Chain Saw Massacre

O principal motivo pelo qual a jogabilidade desses títulos não conseguem ser tão cativantes quanto poderiam ser é a separação das mecânicas de gameplay entre os diferentes lados. Geralmente, ao assumir o lado dos assassinos, a experiência se transforma no oposto da diversão – uma constante em boa parte dos games desse gênero. Afinal, para que garantir que a jogatina seja balanceada e viável para o lado que precisa fugir da morte, os designers desses jogos decidem impor restrições e limitações nas habilidades dos matadores.

Quando assumimos o papel do assassino, Dead by Daylight opta por restringir o jogador com a alteração do sistema de câmera para uma visão fechada na primeira pessoa. Ao mesmo tempo, o jogo instaura uma jogabilidade extremamente lenta, que não combina exatamente com os próprios matadores das grandes franquias representadas. No caso de Texas Chain Saw Massacre, há uma tentativa de inovação com a adição de equipes à tradicional fórmula do gênero. Contudo, os desenvolvedores decidiram limitar metade do time ao permitir com que apenas Leatherface realize ações cruciais para uma caçada bem sucedida, o que acaba também travando a gameplay de certa forma.

O contrário funciona?

Jogabilidade de Resident Evil Resistance

Existiu um jogo que adotou uma abordagem diferente: Resident Evil Resistance. Produzido pela NeoBards Entertainment em parceria com a Capcom, esse título é um multiplayer online que coloca quatro pessoas para tentar sair de instalações de experimentos da Umbrella, todas localizadas na Raccoon City dos anos 90.

Nele, os assassinos não sofrem com limitações e nem são fracos. Muito pelo contrário, já que eles possuem poderes sem limites e contam com uma visão praticamente completa de todo o campo de batalha dos mapas. Além de possibilitar disparos a distância e a incessante criação de ameaças, Resistance também permitiu com que os jogadores controlem chefões como Nemesis e Mr. X sem restrições técnicas, dando uma força para o lado do mal que até então não tinha sido de fato explorada desde que o terror assimétrico ganhou fama.

Deu tudo errado

Gameplay de Resident Evil Resistance no papel de sobrevivente

Porém, dessa vez, os sobreviventes acabaram em uma posição de desvantagem. Como o jogo foi construído em cima da engine utilizada pelo remake de Resident Evil 2, os personagens controláveis possuem a mesma jogabilidade que foi originalmente projetada para um survival horror metódico e cadenciado, sem muitas ameaças. As mecânicas em questão obviamente não funcionam bem quando jogadas em um ambiente de ação constante e ininterrupta.

Por ironia, no final das contas, a falta de equilíbrio resultou em uma jogatina com partidas impossíveis para todos no lado dos sobreviventes. Lançada em 2020 como um bônus incluído no remake de Resident Evil 3, essa experiência acabou sendo um desastre que não atraiu muita atenção, em parte devido ao modelo de negócios escolhido pela Capcom, que não foi o ideal para o gênero, além de muitos outros problemas. Entretanto, mesmo que o jogo tenha fracassado, Resistance certamente não deixa de ser uma tentativa válida de se afastar da fórmula do terror assimétrico que foi estabelecida pelos titãs da categoria.

O terror é diverso

Dead by Daylight tem uma diversidade de franquias presentes no jogo

Apesar de sua popularidade, o terror assimétrico ainda carece de um título verdadeiramente bom. Entre os games atuais, não há nenhum que consiga oferecer uma jogabilidade boa, divertida e equilibrada para ambos os lados. Felizmente, o terror assimétrico está completamente longe de representar todo o zeitgeist do horror em rede. Apesar de não serem tão populares quanto, o gênero ainda conta com expoentes que propiciam experiências online genuinamente divertidas, como os jogos cooperativos de Resident Evil, Left 4 Dead e seus clones, ou até mesmo o vindouro Toxic Commando, assinado pela lenda John Carpenter. O legal é que sempre há algo que atende a qualquer gosto dentro do vasto mundo do terror.

Revisão: Ailton Bueno