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Resident Evil Village: A estrada até a Vila

É difícil, senão impossível, pensar em jogos de Horror de Sobrevivência sem lembrar de Resident Evil. O mesmo acontece ao pensar nas maiores e melhores franquias de jogos atualmente, sendo inevitável mencionar algum Resident Evil. A famosa franquia da Capcom, apesar de ter passado por altos e baixos, hoje se encontra em um de seus ápices e, como de praxe, quem sai ganhando somos nós: os amantes e jogadores.

Estando no topo, a franquia irá ganhar um novo jogo dentro de alguns dias e já estou me preparando, jogando novamente suas outras obras. Mas será que Resident Evil Village será tudo isso que os fãs estão pensando? É sobre isso que quero discutir aqui. Mas, antes, vou falar um pouco sobre a franquia em geral para poder chegar lá.

A estrada até aqui

Sweet Home, de Shinji Mikami, foi uma das inspirações para Resident Evil.

Não posso falar sobre as origens de Resident Evil sem mencionar seu criador, Shinji Mikami. Indo para o longínquo ano de 1993, o produtor trabalhou em Goof Troop utilizando o sistema de backtracking, em que o jogador deve retroceder os cenários constantemente para avançar. Esse foi um sistema muito utilizado nos jogos de Resident Evil, e vemos suas inspirações tanto no acima mencionado Goof Troop como em Sweet Home, ambos da Capcom.

Por falar em Sweet Home, foi ele uma das maiores influências para o primeiro Resident Evil, e existem algumas relações bem claras como a troca de cenários ser feita pela abertura de uma porta, e grande parte de ambos os jogos se passarem em uma mansão.

A partir daí, a franquia ganhou miríades de fãs, tornando-se autossustentável o suficiente para começar a ter seu próprio reinado, muito por causa de sua qualidade, vantagem essa que era dada pelas mãos de Shinji Mikami. Até que ele saiu da Capcom.

Depois disso, a franquia passou por alguns momentos dúbios, mas sempre lucrativos e estando na boca do povo. Há quem diga que o quinto e o sexto jogo da série foram muito bons, também há quem diga o contrário, mas, o que importa, de fato, é sua relevância para o universo de RE, sendo ambos ótimos acréscimos aos personagens e principalmente à história da franquia em geral.

O famoso soco de Chris em uma pedra enorme.

Enquanto estava lá, Shinji Mikami foi responsável por, talvez, um dos jogos que mais inspirou outros na indústria. Estando no mesmo pódio (ou talvez não) que Metroid, Castlevania e outros, Resident Evil 4 foi responsável por trazer novos fãs, que não conheciam a franquia anteriormente, mas tiveram a oportunidade de o fazer em alguma de suas dezenas de versões diferentes.

Responsável como inspiração de vários outros jogos, Resident Evil 4 deu uma nova jogabilidade à franquia sem perder espaço para o Horror de Sobrevivência e para a ação, ao mesmo tempo. Claro, a questão da sobrevivência se dá por conta da imensa fragilidade de Ashley Graham, pois Leon é basicamente um super soldado.

Leon pode ser poderoso, mas ele enfrentou coisas realmente perigosas.

Resident Evil 5, 6, Revelations 1 e Revelations 2 seguiram essa fórmula de jogabilidade livre em terceira pessoa. Assim como Resident Evil 2, 3, Code: Veronica, o 1 Remake e 0 seguiram a fórmula estabelecida de movimentação em tanque e câmera fixa do primeiro. O ponto de mudança da primeira “trilogia“ (e seus agregados) foi o 4, enquanto o sétimo foi responsável pela mudança da segunda “trilogia” (e seus agregados também).

Em relação a ele, diferentemente do quarto jogo da franquia, que foi utilizado como molde em vários outros, Resident Evil 7 fez o contrário. Os produtores, percebendo as reações dos fãs em relação aos jogos anteriores (que foram sucesso de vendas, mas não de crítica), ao mesmo tempo em que viam o sucesso que as versões remasterizadas de 0 e Remake estavam fazendo, tiveram que se reunir para definir qual a essência de Resident Evil (o que será abordado no próximo tópico).

Chegaram ao que o jogo é, sendo altamente inspirado por The Evil Within – que foi dirigido pelo próprio Shinji Mikami – e Alien: Isolation, mas sem perder sua própria essência, dando espaço para coisas que tornam Resident Evil o que ele é de fato.

Resident Evil 7, como sabemos, foi um sucesso de crítica, de público e de vendas. Alguns fãs antigos não gostaram, mas a maioria amou o game e essa “volta às origens” feita com uma cara nova.

E a Capcom não parou por aí: Resident Evil 2 Remake veio e consolidou ainda mais a “essência de Resident Evil”. O mesmo não aconteceu, entretanto, com o 3 Remake, que perdeu algumas das características da franquia com decisões dúbias dos desenvolvedores.

Mas, o que torna Resident Evil aquilo que realmente é?

“Quem” é Resident Evil?

Vamos lá, quais são os elementos que consigo lembrar que existem em comum na grande maioria dos jogos Resident Evil? Pontuo alguns aqui:

  • Ameaças biológicas, de quase todo o Reino de organismos: animais, plantas, algas, fungos e, principalmente, vírus;
  • Horror de Sobrevivência, em que é necessário administrar recursos;
  • Exploração, que premia o jogador com mais recursos;
  • História profunda que envolve não só o jogo em questão, mas todo um Universo da franquia;
Os Ooze são criaturas que podem se liquefazer, devido a infecção com o T-Abbys.
  • Espaços amplos, como mansões ou casas enormes, delegacia e complexos de pesquisa;
  • Backtracking, para explorar melhor alguns mapas extensos;
  • Quebra cabeças, dos mais variados possíveis;
  • Humor pastelão, principalmente na parte de exageros, seja de diálogos ou do próprio gore;
  • Personagens carismáticos, de heróis a vilões;
  • E por fim e não menos importante, explosões no final.
O humor pastelão de Resident Evil permanece até hoje, em alguns aspectos.

Entretanto, existe um fator primordial e essencial para a franquia, que é sua real essência: Ameaças Biológicas.Independente do estilo de gameplay, de Pinball até Pachinko, o inimigo é sempre alguma ameaça biológica e, apesar dos elementos acima, é isso que torna Resident Evil aquilo que realmente é. Esse é um ponto crucial pois, apesar de muitas reclamações, Resident Evil 5 ou 6, que possuem um foco em ação em detrimento de outros aspectos, como exploração e sobrevivência, fazem parte da franquia da mesma maneira que Resident Evil Remake.

A franquia conta com as mais variadas e bizarras criaturas.

Mas, quando os desenvolvedores tiveram que se reunir para elaborar Resident Evil 7, eles precisaram sentar e entender quais os fatores que fazem com que o fãs gostem da franquia, chegando a conclusão de que, além do pano de fundo de Ameaça Biológica, a série é envolta de elementos de sobrevivência. Assim, conseguiram trazer isso de uma maneira primorosa no sétimo jogo da série. Então é possível afirmar que, o que define Resident Evil é, primeiramente, Ameaça Biológica e, de forma secundária, o Horror de Sobrevivência, mas a franquia não se limita a isso, apesar de ser um dos elementos principais.

O que falam sobre Village?

O trabalho de marketing em Resident Evil 5 foi ótimo, tanto que é um dos mais vendidos da franquia até hoje.

Em uma entrevista para o site Gameindustry.biz, o diretor de marketing da Capcom do Reino Unido falou o seguinte: “Nossa principal ambição para este ano, apesar de ter muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, é garantir que Resident Evil Village seja o melhor game da franquia tanto em termos de qualidade quanto no aspecto comercial”. Essa é uma afirmação muito perigosa, mas, talvez, assertiva.

Village, conforme o que já foi mostrado em várias apresentações e demos, possui potencial para isso. Tudo bem que a Capcom está fazendo um ótimo trabalho de marketing, inclusive repetindo algo que aconteceu nos trailers de Resident Evil 5 ao mostrarem um túmulo com o nome Jill Valentine, e aqui eles pintam um dos heróis da franquia, Chris Redfield, como o vilão. Só o fato de fazer isso já atrai curiosos de plantão além dos próprios fãs da franquia e, talvez, como já disse acima, novas miríades de fãs.

Existe um outro aspecto que muitas pessoas falam, que são as semelhanças e inspirações, já confirmadas pelos desenvolvedores, de Resident Evil 4 em Village. O quarto jogo da franquia, por possuir um peso histórico enorme, é muito memorável entre os fãs e a Capcom está explorando alguns de seus fatores, e isso é um ponto a mais para alcançar sua já comentada ambição.

Lady Dimitrescu e o marketing por meme não intecional.

E por falar nesse ponto, durante os dias que escrevi este texto, aconteceu uma coisa bem curiosa que confirma o parágrafo acima. Trabalho em um grande atacado do Brasil, em um cargo que me dá uma certa liberdade com algumas pessoas. Estava passando no caixa, com uma camiseta do cogumelo do Mario, e a jovem atendente perguntou se eu gostava de jogos, eu confirmei e ela disse que estava super animada com o Resident Evil Village, principalmente pelo fato de que ele possui muitos dos elementos de seu Resident Evil favorito: o 4. A Capcom está acertando!

Por fim, existe algo que tem até saído do universo gamer e alcançando novos horizontes: a vilã Lady Dimitrescu. O marketing não intencional está dando tão certo que muitas pessoas, até alheias aos games, fizeram montagens, memes, artes e cosplays com a personagem, divulgando cada vez mais o jogo. E claro, novas legiões de fãs chegam através disso.

Minhas experiências com Resident Evil

O famoso corredor do susto, em que um cachorro zumbi salta pela janela.

É fácil falar de algo que você ama! Meu primeiro contato com a franquia foi provavelmente em 1996, nos momentos em que minha mãe jogava Resident Evil no PSone. Lembro dos sustos e pavor que eu e ela tínhamos dos cachorros zumbis, principalmente naquele famoso corredor do susto. Outra lembrança remete-se à versão demo pirata de Resident Evil 2, e inclusive tenho recordação de quando fomos comprar esse CD. O segundo game já parecia mais divertido para mim, mesmo com 7 ou 8 anos. O 3, infelizmente, nunca gostei tanto, apesar de ter jogado bastante também.

Depois, com uma idade melhor para compreender e jogar, debulhei completamente o Resident Evil 2, inclusive até conseguia fazer speedruns de cerca de 1h30, o suficiente para entrar no top 30 do mundo. Muitos anos depois foi a vez do 4, 5, Remake e Zero. Infelizmente não joguei o 6 nem o Code: Veronica até hoje, mas conheço bem suas histórias. Ah, Gun Survivor: Dead Aim, conhecem? Joguei também!

Indo para os dias mais recentes, quando consegui finalmente adquirir o sétimo jogo, foi uma alegria só, pois tinha em mãos algo que misturava a nostalgia em suas mecânicas com a novidade em sua jogabilidade, sem perder nenhum dos elementos que fazem parte da essência da franquia. Recentemente re-joguei o Remake, o 7, 2 Remake  e o 3 Remake, para finalmente esperar o tão aguardado oitavo jogo.

Resident Evil 2 Remake, um dos mais recentes acertos da Capcom.

Resident Evil é minha segunda franquia favorita, quase tomando o lugar de Metroid pelo fato dele não receber jogos. Já li alguns livros, mangás e longuíssimos artigos contando a história de seu universo, apesar de não ter conseguido experienciar todos os jogos. 

Além disso, posso dizer que Resident Evil, assim como Metroid, moldaram meus gostos por jogos, principalmente pelo seu fator de exploração. 

Quais as minhas expectativas?

As expectativas estão altas com o oitavo jogo da franquia.

Com a afirmação do pessoal de marketing da Capcom, somado à possibilidade de ter um grande mapa, além da evolução constante que Ethan pode ter e o espaço para exploração, estou com as expectativas no alto. De certa forma, até um pouco tranquilo em relação a isso, pois, depois do sétimo jogo e da reimaginação do segundo, tenho fé de que RE: Village será tudo aquilo que estão falando, talvez até mais, com uma história com reviravoltas, tendo todos os elementos que um Resident Evil deve ter.

Claro, existe um espaço para a decepção, mas mesmo que eu não goste de alguns aspectos, tenho certeza que irei debulhar o jogo até o fim, assim como foi com os meus favoritos da franquia! E para você, querido leitor? Qual sua história com Resident Evil? Está animado para o oitavo jogo da franquia? Vamos juntos para a Vila!

Revisão: Jason Ming Hong